por Augusto M. Seabra
Culturgest, Lisboa
O cinema é um facto corrente, até cada vez mais, com o que isso também supõe de depreciação. A crescente ordem doméstica de consumo de filmes em suportes que já não a da projecção, retirou a recepção cinematográfica do espaço público e colectivo e tornou-a ainda mais sedentária, quando os pressupostos da arte cinematográfica a faziam potencialmente de todas a mais nómada, aquela que permitiria conhecer maior diversidade de culturas e imaginários. Mas este pode ser também o quadro para repensar radicalmente a experiência cinematográfica como modo de conhecimento.
1 de Fevereiro – “O que é o cinema?” ou a infindável questão
Um dos primeiros espectadores, Gorki, falava da “estranheza deste mundo”, do “reino das sombras” – “não a vida, mas a sombra da vida, não o movimento da vida, mas uma espécie de espectro mudo”. Quando o cinema começou a ser também considerado no campo da teoria estética, um Panofsky não hesitou em considerá-lo como “a realidade física enquanto tal”. Será “a verdade a 24 fotogramas por segundo” como pretendeu Godard? Imaginário e realismo, os termos de todo um debate de décadas, sobreviverão às tecnologias digitais?
Proxima conferência: 8 de Fevereiro – A hipótese do espectador
Culturgest
18h30
Pequeno Auditório e Sala 2
Entrada gratuita
Levantamento de senha de acesso 30 minutos antes do início da sessão, no limite dos lugares disponíveis
Mais informações aqui
terça-feira, janeiro 31, 2006
Avant-premiére
O fotógrafo José Luis Neves, colaborador habitual d'O Melhor Anjo (ver aqui, aqui e aqui) foi fotografar o ensaio do mais recente espectáculo do Teatro Praga, EUROVISION, que estreia amanhã. Fotos exclusivas.
E agora, José?
(23º dia)
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de Formiga Bargante
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de Formiga Bargante
segunda-feira, janeiro 30, 2006
Dossier Marselha (I)
Angelin Preljocaj
Coreógrafo, nasceu na Albânia em 1957. Exilado político em França desde novo, encontrou na dança um meio de exprimir discursos políticos e sociais. Criou 28 coreografias, sendo apresentado por diversas companhias, incluindo o extinto Ballet Gulbenkian. Herdeiro dos coreógrafos neo-clássicos e modernos, Angelin Preljocaj cria espectáculos onde a estética fundamenta o movimento, e a música e a simbologia se unem para produzir emoções que muitos classificam como intraduzíveis por palavras. Desde há 10 anos que instalou a sua companhia homónima no Centro Coreográfico Nacional de Aix-en-Provence, tornando-se o único coreógrafo, de todos os que dirigem os 19 Centros Coreográficos Nacionais em França, a conseguir afirmar-se internacionalmente junto da crítica e do público . Posição que cria os maiores anti-corpos na comunidade artística, dividida entre a persistência do seu trabalho e o aspecto comercial que isso pode atribuir à criação de dança contemporânea. O Melhor Anjo conversou com o coreógrafo, no intervalo de um workshop que deu ao projecto DANCE e publica hoje o resultado, dando início ao Dossier Marselha, onde se dará conta de alguns aspectos do mundo da dança no eixo Aix-en-Provence/Marselha.
Angelin Preljocaj - A arte ao serviço do mundo
Como é que se estrutura o seu pensamento sobre a dança e o aplica no processo criativo?
No que respeita à composição, esta surge muitas vezes de exercícios de improvisação, a solo ou em duetos, onde depois são fixadas partículas, constituindo material com o qual se aplicam novas directivas ou que simplesmente é passado para outros corpos. Sendo que este mecanismo de inversão do movimento não passa de uma perturbação da criação do mesmo, originando uma estética pré-concebida. Ou seja, uma estética da função, que é o que me interessa. Não tanto pela forma em si, mas pelo modo como se relacionam essas mesmas formas. Sendo que não existem hierarquias no movimento (o movimento vale por si, seja ele grande ou pequeno), tudo é possível, desde que se façam escolhas. Criam-se, assim, sistemas de coerência do movimento, princípios de composição, que mais tarde, agregados à intuição artística, permitem a criação coreográfica. Esta criação pretende sempre refutar a perpetuação de imagens pré-concebidas pela academia. Ou seja, busca-se a originalidade.
Onde fica, então, o papel do intérprete e a sua margem de criação, num sistema tão complexo e, aparentemente, definitivo?
Essa é uma questão inteiramente ligada à personalidade e especificidade de cada coreógrafo. Mas o intérprete encontra-se, sempre, num confronto entre o rigor e a liberdade. E a liberdade no trabalho só existe quando confrontada com um rigor. Mesmo no que podemos definir como caos há um rigor, uma ordem.
Dentro de uma companhia, vista muitas vezes, como é o caso do Ballet Prejlocaj, como uma instituição, como é que se evita a cedência ao lado funcional, ou se quisermos, à necessidade de produzir por razões burocráticas?
No meu caso a institucionalização surgiu pelo trabalho de uma equipa e não por uma nomeação. Sendo que a instituição está ao serviço do artista, na maior parte dos casos o problema é que o artista é absorvido pelas instituições já constituídas e nas quais ele começa a tomar parte. Consciente ou inconscientemente fica ao serviço da instituição. No Ballet Prejlocaj tivemos sempre em conta a questão de quem está ao serviço de quem, sendo que no nosso caso a pressão é quase sempre feita pela base artística e não pela base funcional, embora por vezes a máquina burocrática exija o contrário.
E entretanto passaram 10 anos desde que se instalaram em Aix-en-Provence.
Sim. Eu penso que em Aix conseguimos criar uma dinâmica e uma energia que é força de atracção. É como os planetas sobre os quais giram outros corpos. Tem a ver com a densidade. Eu penso que as companhias têm o mesmo efeito. Atraem coisas ao seu redor.
Mesmo quando a comunidade, ou parte dela, lhe critica a concentração de apoios...
Essencialmente existe uma falta de respeito desses outros criadores, pois não se pode criticar o trabalho de um criador só porque este tem mais apoios ou vice-versa. O que é a diversidade e a diferença? Onde é que ela existe? Como é que se organiza? Quando se fala numa ecologia fala-se também de uma organicidade no movimento e no espectáculo.
Razão pela qual na participação nos debates da última edição do festival Hivernales d'Avignon falou de uma falta de solidariedade na comunidade da dança?
É aí que digo que não há solidariedade, o mundo é bastante grande e permite a existência de diferentes realidades. Eu acredito que isto é uma questão de ecologia, nós temos que fazer com que aquilo que criamos e o ambiente estejam em harmonia...
Penso em dois exemplos concretos. Um, o "caso Avignon 2005" e outro o fim do Ballet Gulbenkian. Relativamente ao primeiro, como é que essa ideia de ecologia pode absorver discursos artísticos denominados como "híbridos", como aqueles que foram tentados por, e só a título de exemplo, Mathilde Monnier ou Christian Rizzo, nos quais o corpo deixava de ser o único elemento a ser testado, dando primazia ao texto, à palavra e até procurando incluir a recepção no processo criativo?
Para mim é difícil dizer ou criar limites nos outros. Tudo pode ser dança, mas tem de existir um pensamento que justifique o movimento. Acho que cada um cria os seus próprios limites. Mas, de uma maneira geral, e em relação a Avignon, acho que foi uma má aposta dos directores do Festival. Só isso. Não vêm daí mal ao mundo. E certamente menos ao mundo da dança. É como a ciência. Há a física quântica e a da relatividade. Ambas se completam para gerar mecanismos de força que sustentam um sistema criativo.
E quanto ao Ballet Gulbenkian, que se extinguiu o ano passado (e onde apresentou duas coreografias [Les Noces (1999 e 2000), Annonciation (2002)]), como se equilibram escolhas com necessidades? E como pode a comunidade reagir a isso?
Fiquei chocado, claro. Mas o problema do Ballet Gulbenkian é que não sendo uma companhia do Estado, não se pode dizer ou fazer nada. Foi uma Fundação muito generosa para com a dança durante muito tempo. Eu vi a companhia em três estados diferentes sempre sob a direcção de Iracity Cardoso, que tinha um profundo respeito pelos bailarinos. E neles existia um lado muito físico que me agradava bastante, não só pela base bastante sólida do clássico, mas pela fisicalidade selvagem/animal que os caracterizava. Mas agora que foram tomadas estas decisões, nada se pode fazer..
Mas apesar disso acredita que a arte pode fazer parte das defesas do mundo.
Sim, claro. A arte e o artista. Não sei se a arte pode salvar vidas [risos], mas acho que pode salvar parcelas do mundo, pode salvar casos pontuais... uma cidade por exemplo.
E a si?
A mim? [pausa longa] Sim, posso dizer que sim. Mas não penso muito nisso.
A consultar:
Le Cas Avignon 2005 - regards critiques (edição de Georges Banu e Bruno Tackles)
Où va la danse? - l'aventure de la danse par ceux qui l'ont vécue (edição Amélie Grand e Philippe Verrièle)
Video e fotos de Annonciation
La danse est un art de combat - entrevista a Angelin Preljocaj
Entrevista realizada a 12 Janeiro 2006 na Escola Superior de Dança de Marselha.
Agradecimentos: Marion Abeille, Mónica Guerreiro e Paulo Guerreiro
E agora, José?
(22º dia)
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de www.formigabargante.blogspot.com
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de www.formigabargante.blogspot.com
domingo, janeiro 29, 2006
...
A uma semana do regresso a Lisboa, temo pela pasmaceira que me vai esperar. Quando é que vai voltar a haver outro mês onde a Ministra da Cultura é atacada, Cavaco é eleito e até neva em Lisboa? Foi um ar que se lhe deu, é o que é...
Mito urbano
Há cerca de um ano atrás, Pina Bausch abriu audições. Foi um corropio de aspirantes até à Alemanha. Durante horas a coreógrafa pediu aos interessados que andassem em circulos por uma sala. Andaram e andaram e andaram. Até que um disse: "não atravessei o mundo para fzer círculos numa sala. Isto é ridículo. Vou-me embora". Pina Bausch escolheu esse.
E agora, José?
(21º dia)
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de Formiga Bargante
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de Formiga Bargante
sábado, janeiro 28, 2006
Retratos mudos
Gérard Courant (França, 1951), cineasta experimental, desenvolve desde 1978 um projecto intitulado Cinématon, onde, utilizando a duração de uma bobine de Super 8 regista aquilo que "o objecto filmado" quiser. Com mais de 2000 nomes fixados, o conjunto dos filmes ascende às 142 horas de projecção. Courant, que segue sempre as mesmaś regras, há muito que abandonou o carácter provocatório que o projecto tinha quando foi iniciado. Hoje o que lhe interessa é contrariar a permanente violência que nos assalta o quotidiano. Nas várias retrospectivas que se fazem pelo mundo, pede aos espectadores que observem.
As regras do Cinématon, segundo Gérard Courant
1) La caméra cadre un gros plan fixe du visage d’une personnalité des arts et du spectacle.
2) La caméra cinématographique est fixée sur un trépied.
3) La caméra filme pendant 3 minutes 25 secondes, le temps d’un chargeur "Super 8".
4) Il y a une seule prise.
5) Il n’y a pas de son.
6) Il n’y a pas de changement de mise au point.
7) Il n’y a pas de modification de cadrage en cours de tournage.
8) Il n’y a pas de coupure pendant le tournage et pas de montage.
9) La personne filmée est libre de faire ce qu’elle veut.
10) Le "cinématoné" accepte que son portrait soit montré au public.
Mais sobre Gérard Courant.
As regras do Cinématon, segundo Gérard Courant
1) La caméra cadre un gros plan fixe du visage d’une personnalité des arts et du spectacle.
2) La caméra cinématographique est fixée sur un trépied.
3) La caméra filme pendant 3 minutes 25 secondes, le temps d’un chargeur "Super 8".
4) Il y a une seule prise.
5) Il n’y a pas de son.
6) Il n’y a pas de changement de mise au point.
7) Il n’y a pas de modification de cadrage en cours de tournage.
8) Il n’y a pas de coupure pendant le tournage et pas de montage.
9) La personne filmée est libre de faire ce qu’elle veut.
10) Le "cinématoné" accepte que son portrait soit montré au public.
Mais sobre Gérard Courant.
Citação
A dúvida
Pedro Burmester irá ser nomeado oficialmente director artístico da Casa da Música antes ou depois da substituição da ministra da cultura? Podendo parecer que não, é algo que para o próprio fará toda a diferença.
in A Grande Loja do Queijo Limiano
Contexto:
Declarações de Jorge Sampaio na inauguração da Casa da Musica
Conselho de Ministros aprova Fundação
Artigo de Augusto Santos Silva, ex-Ministro da Cultura do PS I
Artigo de Augusto Santos Silva, ex-Ministro do PS II
Pedro Burmester irá ser nomeado oficialmente director artístico da Casa da Música antes ou depois da substituição da ministra da cultura? Podendo parecer que não, é algo que para o próprio fará toda a diferença.
in A Grande Loja do Queijo Limiano
Contexto:
Declarações de Jorge Sampaio na inauguração da Casa da Musica
Conselho de Ministros aprova Fundação
Artigo de Augusto Santos Silva, ex-Ministro da Cultura do PS I
Artigo de Augusto Santos Silva, ex-Ministro do PS II
O que deve ser o Teatro Nacional
Nos dias de hoje as nações são rizomas. E como tal um Teatro Nacional [TN] deve servir um tecido cultural composto por comunidades dispersas e heterogéneas. O TN deve ser um “Monstro Mutante”: um espaço dinâmico e de circulação de ideias (politeísmo de valores), com uma auto-exigência de mobilidade e pensamento progressivo. Deve ter mais medo de incêndios e inundações do que de propostas arriscadas (já que, sendo de sólida construção, um abanão de vez em quando só faz bem). Não se deve cingir a leituras antropológicas e classicistas de textos (não se tornando assim num cliché de si próprio), nem fomentar um teatro estandarte de ideias totalitárias (vivemos num real plural); mas pelo contrário afirmar-se como um local de peso e visibilidade perante as comunidades, fomentando a fortificação de linguagens emergentes que ainda não se tornaram alfabetos reconhecidos por direito próprio, tendo assim um comportamento exemplar, aferidor e, por isso, definidor de contextos. O TN não deve ter significado mas deve ter significantes, deve viver ‘aqui’ e ‘agora’ envolvendo o ‘ali’ e ‘outrora’ (há fantasmas estruturantes). Não deve representar mas transformar o mundo, espelhando um pensamento ligado ao ‘espírito do tempo’.
E a ser uma figura geométrica… seria um círculo tracejado.
Pedro Penim, actor e encenador
in jornal PÚBLICO 22.01.06
E a ser uma figura geométrica… seria um círculo tracejado.
Pedro Penim, actor e encenador
in jornal PÚBLICO 22.01.06
E agora, José?
(20º dia)
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de Formiga Bargante
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de Formiga Bargante
sexta-feira, janeiro 27, 2006
O nu em cena: porquê?
Ler, na secção Entrées Libres da revista Cahiers de Théâtre JEU 114 (Quebéc) o artigo O nu em cena: porquê?, de Michel Vais
Sofia Ferrão in Agatha Christie (Teatro Praga, 2005)
Foto: Ângelo Fernandes
Rogério Nuno Costa in Esboço#3 (Rogério Nuno Costa, 2005)
Foto: Erica Vieira
Corpos sem órgãos
Critica a A dificuldade em se exprimir,
de Luis Castro/Karnart
Quem chegue para ver A dificuldade em se exprimir sem ter visto Satirotic terá um encontro inesperado. De facto, e sem se confundirem as diferentes estratégias de cada espectáculo, a primeira parte introduz o espectador no vocabulário dos corpos, no erotismo e na pornografia, através de um percurso e habitação de espaços onde a disponibilizaçãodo espectador se faz a partir da proximidade, da descontracção e do humor.
Em A dificuldade de se exprimir inverte-se essa tendência, pela utilização do dispositivo teatral convencional que obriga os espectadores a concentrarem a abertura criada, o recente domínio dos espaços da casa, para ficarem condicionados aos seus lugares sentados, na plateia. Esta pequena tensão contribui para a percepção de uma encenação assente na criação de marcações rígidas, sem recurso a adereços, e na apresentação do texto. Esta austeridade perpassa para a presença das actrizes que se assemelham a manequins, nos momentos imóveis, com o olhar distante de quem nunca olha nos olhos.
Essa desumanização decorre, também, da utilização das lentes de contacto azuis que estranham a presença das actrizes. Em relação ao texto de Copi, trata-se de um texto delirante, visceral, quase trágico. As três mulheres são, na verdade, três homens numa casa rodeada de lobos, algures na Sibéria. A tendência em sair daquele lugar amaldiçoado pelo isolamento e pelos animais selvagens, aproxima estas personagens das Três Irmãs de Tchékhov, mas só à superfície. Estas três mulheres estão ligadas por tensões emocionais e sexuais que as aproximam e, ao mesmo tempo, as repudiam. O delírio emocional transforma-se em vertigem sensorial enquanto Irina vai destruindo o seu corpo: primeiro parte uma perna, depois uma sevícia anal, depois corta a língua. A inconsciência de Irina transforma o seu corpo num projéctil, um corpo do avesso, orgânico, desprovido de moral, de identidade e, por isso, desprovido de dor.
Enquanto o primeiro espectáculo brincava com os órgãos do corpo, o segundo concentra-se sobre o corpo projectado na sua sensibilidade. È claro que pode ser tudo mentira, tudo invenção, mas também se trata de colocar o espectador a deslizar sobre as aparências, folclore que se torna pornografia, homens que se tornam mulheres.
Pedro Manuel
ler critica a Satirotic por Eduardo Pitta
de Luis Castro/Karnart
Quem chegue para ver A dificuldade em se exprimir sem ter visto Satirotic terá um encontro inesperado. De facto, e sem se confundirem as diferentes estratégias de cada espectáculo, a primeira parte introduz o espectador no vocabulário dos corpos, no erotismo e na pornografia, através de um percurso e habitação de espaços onde a disponibilizaçãodo espectador se faz a partir da proximidade, da descontracção e do humor.
Em A dificuldade de se exprimir inverte-se essa tendência, pela utilização do dispositivo teatral convencional que obriga os espectadores a concentrarem a abertura criada, o recente domínio dos espaços da casa, para ficarem condicionados aos seus lugares sentados, na plateia. Esta pequena tensão contribui para a percepção de uma encenação assente na criação de marcações rígidas, sem recurso a adereços, e na apresentação do texto. Esta austeridade perpassa para a presença das actrizes que se assemelham a manequins, nos momentos imóveis, com o olhar distante de quem nunca olha nos olhos.
Essa desumanização decorre, também, da utilização das lentes de contacto azuis que estranham a presença das actrizes. Em relação ao texto de Copi, trata-se de um texto delirante, visceral, quase trágico. As três mulheres são, na verdade, três homens numa casa rodeada de lobos, algures na Sibéria. A tendência em sair daquele lugar amaldiçoado pelo isolamento e pelos animais selvagens, aproxima estas personagens das Três Irmãs de Tchékhov, mas só à superfície. Estas três mulheres estão ligadas por tensões emocionais e sexuais que as aproximam e, ao mesmo tempo, as repudiam. O delírio emocional transforma-se em vertigem sensorial enquanto Irina vai destruindo o seu corpo: primeiro parte uma perna, depois uma sevícia anal, depois corta a língua. A inconsciência de Irina transforma o seu corpo num projéctil, um corpo do avesso, orgânico, desprovido de moral, de identidade e, por isso, desprovido de dor.
Enquanto o primeiro espectáculo brincava com os órgãos do corpo, o segundo concentra-se sobre o corpo projectado na sua sensibilidade. È claro que pode ser tudo mentira, tudo invenção, mas também se trata de colocar o espectador a deslizar sobre as aparências, folclore que se torna pornografia, homens que se tornam mulheres.
Pedro Manuel
ler critica a Satirotic por Eduardo Pitta
Isabel, a condutora
Sobre Isabel Pires de Lima a duvida permanece: continua a falar-se das suas decisões, ou desliga-se o botão até que o ridiculo do discurso a acabe por "matar"? Depois de Fragateiro no Nacional, e da ideia de ter um autocarro para teatro, o arquitecto Tomas Taveira foi nomeado para o Conselho Consultivo do Instituto Português do Património Arquitectónico. De facto poderia ser pior. O lugar poderia ter sido dado a Troufa Real, responsavel, entre outros, pelo edificio de palmeiras brancas versão casa de banho ali para a zona do Parque das Nações. Talvez a Ministra nunca tenha ouvido a velha piada que diz que o unico sitio do qual não se consegue ver o Centro Comercial das Amoreiras é dentro do edificio, de tão horroroso que é. Se isto não é politica de gosto, não sei o que é?
A nomeação, que segundo o jornal PUBLICO causou "perplexidade" e foi considerada como "provocação" pelo meio arquitéctonico, surge na mesma altura em que a Ministra da Cultura se reune com os institutos seus dependentes para tratar da mega-remodelação. Um modelo, diz o jornal "que resulta do trabalho de uma comissão de avaliação encarregue de fazer um diagnóstico dos institutos públicos ligados ao sector, no âmbito do Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado."
Não ha nada que a faça parar?
A ter em conta: as perguntas da Formiga Bargante
A nomeação, que segundo o jornal PUBLICO causou "perplexidade" e foi considerada como "provocação" pelo meio arquitéctonico, surge na mesma altura em que a Ministra da Cultura se reune com os institutos seus dependentes para tratar da mega-remodelação. Um modelo, diz o jornal "que resulta do trabalho de uma comissão de avaliação encarregue de fazer um diagnóstico dos institutos públicos ligados ao sector, no âmbito do Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado."
Não ha nada que a faça parar?
A ter em conta: as perguntas da Formiga Bargante
A dança-teatro e o paradoxo
por Patricia Mendes
«Uma verdade em arte é algo de que
a contraditória é igualmente verdadeira.»[1]
Esta é uma leitura da estética do paradoxo sobre a obra de Pina Bausch «Se há um autor que fez do paradoxo um meio de criação de movimentos, foi com certeza Pina Bausch. Como ela própria diz a propósito da interpretação de uma qualquer situação de uma das suas peças: ”Pode sempre ver-se também o contrário”; ou ainda: “O que acho que está bem é uma pessoa poder ver de certa maneira e outra de uma maneira completamente diferente».[2]
Num espectáculo da companhia de Pina Bausch temos as relações humanas, um vocabulário de movimento quotidiano e a colaboração entre diferentes formas de arte. Do seu processo de trabalho resultam uma série de aspectos formais e estilísticos que fazem parte desta dinâmica paradoxal. Em relação à cenografia resulta dos seus espectáculos possuir um forte impacto visual, devido ao uso de cenários orgânicos, que muitas vezes nos remete para impressões cinematográficas. Depois, os seus figurinos, do qual fazem parte os vestidos de noite e os fatos, sugerindo um jogo irónico através de papéis sociais que completam o desmedido espaço cénico.
A sua pesquisa coreográfica incorpora e altera a dança clássica, convergindo-a e fazendo-a divergir no seu processo de trabalho, na sua forma e conteúdo, contrariando-a com movimentos quotidianos, teatralidade, repetições e colagens, assumindo a herança e a tradição como material dramaturgico: em Nelken temos uma cena com o bailarino Dominique Mercy fazendo os movimentos do ballet clássico, vestido de cor-de-rosa; ou um Bandoneon «Timidamente, Dominique Mercy avança sozinho, vestindo um tutu de bailado romântico: amarfanhado, desapertado, desajeitado. Executa um tendu, arrisca um plié (...) talvez seja o símbolo mais agudo e significativo da relação presente entre Pina Bausch e a dança clássica – a dança como impotência de dançar, como radicalização de uma exibição inútil, como remoção dolorosa de um esquema que se tornou grotesco.»[3]
Neste sentido, as obras de Pina Bausch remetem para uma afirmação da representação cénica da vida, porque os espectáculos incorporam movimentos e elementos da vida diária, do quotidiano, precisamente para demonstrar que são tão artificiais, como a sua representação cénica, criando tensões paradoxais. Nas suas peças vemos bailarinos que caminham, conversam, dançam pequenos movimentos, falam com o público, olham para nós, quebrando as nossas expectativas e despertando o nosso desejo pela dança. São bailarinos solitários, desunidos, dessincronizados, desamparados, transitórios do nada para o nada.
Assim, os espectáculos da coreógrafa decorrem transversalmente, vem de dentro para fora, envolvendo todos os que nele participam: bailarinos e espectadores «Praticamente todos os Stücke de Pina Bausch tratam de questões fundamentais sobre a condição humana e obrigam o público a confrontar-se com as questões postas pelo amor e pela angústia, pela nostalgia e pela tristeza, pela solidão, pela frustração e pelo terror, pela infância e pela velhice, pela morte, pela exploração do homem por outros homens (e sobretudo da mulher pelo homem num mundo organizado segundo as concepções masculinas), pela memória e pelo esquecimento ou, enfim e cada vez mais, pela destruição do meio natural pelo homem. (...) Remete-nos para a nossa própria insuficiência e, provocando em nós uma crispação constante...»[4].
A linguagem artística de Pina Bausch é paradoxal porque a coreógrafa cruza duas linguagens diferentes – a dança e o teatro. A dinâmica paradoxal está presente numa espécie de fusão da dança e do teatro, é nessa fronteira, nessa ressonância entre as duas linguagens que mora o paradoxo: «ao nascimento de um novo tipo de espectáculo; este será, como uma revista, composto de colagens, de imagens que esbatem como um num sonho e de muitas histórias paralelas estruturadas segundo o princípio do conflito estético entre a tensão e o repouso, o forte e o fraco, o claro e o obscuro, o grande e o pequeno, o triste e o alegre. Nasce uma forma que se equilibra audaciosamente entre a arte e a banalidade, a desilusão e o pathos, e eleva a repetição à categoria de princípio estilístico.»[5]
A dança-teatro tem que ser observada numa perspectiva multidisciplinar, porque dela também fazem parte: a performance, artes plásticas, o vídeo «...não se trataria nem de teatro nem de dança. Todavia deve dizer-se o contrário: a arte de Pina Bausch faz correr um fio que serpenteia entre todos os géneros de espectáculos (ou performances)»[6]. Os seus espectáculos apresentam interacção entre outras artes, mas sem rejeitar a dimensão teatral. Contudo, num gosto pelo transdisciplinar, encontramos uma porta para a compreensão de uma linguagem artística paradoxal, heterogénea, criadora de diferenças, diferencial. E, no entrecruzar de linguagens artísticas, Pina Bausch desenvolve o que podemos chamar de processos paradoxais da Dança-Teatro: a repetição, a colagem, o quotidiano.
Através da repetição de movimentos e palavras, a coreógrafa explora a natureza da dança e do teatro de forma paradoxal; a repetição estimula a dinâmica paradoxal, porque por meio da repetição encontramos pontos a divergirem. A repetição é usada também para “desarrumar” a técnica clássica [7], e a própria sociedade. As cenas do Café Müller são exemplo desse método da repetição. Este processo paradoxal da repetição é usado nos espectáculos da coreógrafa não apenas como um método coreográfico, mas como um tema a ser criticamente decomposto, até gerar a diferença.
Pina Bausch também compõe as cenas através do método de colagem: pequenas cenas ou sequências de movimentos fragmentadas, repetidas, alternadas, ou realizadas em simultâneo, sem definido um desenvolvimento na direcção de uma conclusão. A sua construção é fragmentada, por isso o todo é uma sobreposição de partes. No espectáculo Nelken temos uma cena onde todos os bailarinos habitam o palco, fazendo uma sequência de movimentos dançados com cadeiras. Ao mesmo tempo, o espaço cénico é transformado com um amontoado de caixotes, e duas enormes torres (andaimes) trazidos por profissionais especializados que participam também no espectáculo.
Esta é uma cena com algum delírio, ou loucura, porque as cenas de conjunto implicam um êxtase em palco. Porque enquanto os bailarinos executam, como um todo, esses movimentos dançados, uma das bailarinas anda pelo palco, completamente desnorteada, com um microfone, numa espécie de pânico, precisamente por causa do corrupio dos profissionais especializados, que para além de transformarem o espaço cénico, participam em situações de risco físico que intervêm nessas duas grandes torres. Em muitos dos seus espectáculos, acontecem cenas de caos de grupo, com uma ordem inerente, mas que são apresentados exactamente como caos de relações humanas, de sentimentos, de afectos.
O quotidiano é uma presença constante nos trabalhos de Pina Bausch, através das palavras e dos gestos comuns – que interagem também com palavras e gestos de outras linguagens, literatura ou linguagem gestual. Esta presença acompanha a criação de um espectáculo através do processo de ensaios que, como vimos, modifica as experiências pessoais dos intérpretes em material artístico. Pina Bausch fala de amor, da infância, das pessoas comuns, de um estranho mundo humano, mas de onde se pode retirar uma característica que tem a ver com a universalidade do seu gesto. No palco, os gestos ganham uma função estética, porque se tornam estilizados e tecnicamente estruturados. Quando os gestos quotidianos são trazidos ao palco, através da repetição, tornam-se abstractos, no sentido de não estarem conectados com as suas funções diárias, são gestos carregados de emoção. Ou seja, quando um gesto é feito pela primeira vez em palco, ele pode ser interpretado como uma expressão espontânea, mas quando é tocado pela repetição fica exposto como um elemento estético, o mesmo acontece com as palavras, repetidas até que se dissolvam dos seus significados literais.
Os espectáculos de Pina Bausch são espectáculos totais, onde o bailarino pode dançar, estar parado, falar, cantar, e não só o bailarino, mas tudo o que está em seu redor: a música, as imagens, o cenário por causa do lado habitacional que o próprio cenário também é. Desta totalidade de espectáculos ressalta uma constante incompletude, uma busca e transformação dentro de um pensar-sentir-fazer fragmentado. Estamos perante um mundo indizível e subjectivo dos significados que os corpos dos bailarinos expressam.
O paradoxo da dança-teatro surge da envolvência de duas linguagens artísticas que coexistem no mesmo corpo, na mesma atmosfera onde «a dança de Pina Bausch tem a vida toda lá dentro»8. A sua linguagem mostra-nos o paradoxo como doador de sentidos, de múltiplos sentidos, num movimento de criação de sentido diferencial. A dança-teatro de Pina Bausch está inscrita numa lógica paradoxal. A contradição e o paradoxo são qualidades da sua dança-teatro. Porque do paradoxo resulta uma proliferação de sentidos, que provém da ressonância, de um ressoar entre a dança e o teatro.
O paradoxo é o fio condutor utilizado para apresentar o universo da dança-teatro de Pina Bausch. A coreógrafa foi responsável pela criação da dança-teatro: uma forma de expressão artística que elimina os limites entre a dança e o teatro. Por isso estamos no domínio da impossibilidade de atribuir explicações às experiências que as suas obras nos transmitem.
Notas:
[1] Wilde, Oscar, «A verdade das máscaras», in Intenções – quatro ensaios sobre estética, Cotovia, Trad.Portuguesa, lisboa, 1992, pg.203.
[2] Gil, José, «Os gestos de pensamento: Pina Bausch», in Movimento Total - o corpo e a dança, Relógio d’água, Lisboa, 2001, pg.213.
[3] Bentivoglio, Leonetta, «Os espectáculos do Wuppertal Tanztheater», in O teatro de Pina Bausch, Fundação Calouste Gulbenkian, Trad.Portuguesa, Lisboa, 1991, pg. 144, 145.
[4] Idem, Ibidem, pg.87,88.
[5] Schmidt, Jochen, «Da modern dance ao tanztheater», in Colóquio Pina Bausch: falem-me de amor, Fenda, trad. Portuguesa, Lisboa, 2005, pg. 93.
[6] Gil, José, «Os gestos de pensamento: Pina Bausch», in Movimento total - o corpo e a dança, Relógio d’água, Lisboa, 2001, pg. 214.
[7] Em Bandoneon , a cena do bailarino Dominique Mercy tentando fazer um passo de dança clássica, repetindo-o algumas vezes sem sucesso.
[8] Galhós, Claúdia, «O esquecimento essencial», in Revista Actual, número 1718, Outubro, 2005, pg.36
Patricia Mendes é licenciada em Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa. requenta o Ramo de Formação Educacional. Este texto é um resumo da tese de licenciatura em Filosofia «A estética do paradoxo na obra de Pina Bausch», orientada por José Gil.
«Uma verdade em arte é algo de que
a contraditória é igualmente verdadeira.»[1]
Esta é uma leitura da estética do paradoxo sobre a obra de Pina Bausch «Se há um autor que fez do paradoxo um meio de criação de movimentos, foi com certeza Pina Bausch. Como ela própria diz a propósito da interpretação de uma qualquer situação de uma das suas peças: ”Pode sempre ver-se também o contrário”; ou ainda: “O que acho que está bem é uma pessoa poder ver de certa maneira e outra de uma maneira completamente diferente».[2]
Num espectáculo da companhia de Pina Bausch temos as relações humanas, um vocabulário de movimento quotidiano e a colaboração entre diferentes formas de arte. Do seu processo de trabalho resultam uma série de aspectos formais e estilísticos que fazem parte desta dinâmica paradoxal. Em relação à cenografia resulta dos seus espectáculos possuir um forte impacto visual, devido ao uso de cenários orgânicos, que muitas vezes nos remete para impressões cinematográficas. Depois, os seus figurinos, do qual fazem parte os vestidos de noite e os fatos, sugerindo um jogo irónico através de papéis sociais que completam o desmedido espaço cénico.
A sua pesquisa coreográfica incorpora e altera a dança clássica, convergindo-a e fazendo-a divergir no seu processo de trabalho, na sua forma e conteúdo, contrariando-a com movimentos quotidianos, teatralidade, repetições e colagens, assumindo a herança e a tradição como material dramaturgico: em Nelken temos uma cena com o bailarino Dominique Mercy fazendo os movimentos do ballet clássico, vestido de cor-de-rosa; ou um Bandoneon «Timidamente, Dominique Mercy avança sozinho, vestindo um tutu de bailado romântico: amarfanhado, desapertado, desajeitado. Executa um tendu, arrisca um plié (...) talvez seja o símbolo mais agudo e significativo da relação presente entre Pina Bausch e a dança clássica – a dança como impotência de dançar, como radicalização de uma exibição inútil, como remoção dolorosa de um esquema que se tornou grotesco.»[3]
Neste sentido, as obras de Pina Bausch remetem para uma afirmação da representação cénica da vida, porque os espectáculos incorporam movimentos e elementos da vida diária, do quotidiano, precisamente para demonstrar que são tão artificiais, como a sua representação cénica, criando tensões paradoxais. Nas suas peças vemos bailarinos que caminham, conversam, dançam pequenos movimentos, falam com o público, olham para nós, quebrando as nossas expectativas e despertando o nosso desejo pela dança. São bailarinos solitários, desunidos, dessincronizados, desamparados, transitórios do nada para o nada.
Assim, os espectáculos da coreógrafa decorrem transversalmente, vem de dentro para fora, envolvendo todos os que nele participam: bailarinos e espectadores «Praticamente todos os Stücke de Pina Bausch tratam de questões fundamentais sobre a condição humana e obrigam o público a confrontar-se com as questões postas pelo amor e pela angústia, pela nostalgia e pela tristeza, pela solidão, pela frustração e pelo terror, pela infância e pela velhice, pela morte, pela exploração do homem por outros homens (e sobretudo da mulher pelo homem num mundo organizado segundo as concepções masculinas), pela memória e pelo esquecimento ou, enfim e cada vez mais, pela destruição do meio natural pelo homem. (...) Remete-nos para a nossa própria insuficiência e, provocando em nós uma crispação constante...»[4].
A linguagem artística de Pina Bausch é paradoxal porque a coreógrafa cruza duas linguagens diferentes – a dança e o teatro. A dinâmica paradoxal está presente numa espécie de fusão da dança e do teatro, é nessa fronteira, nessa ressonância entre as duas linguagens que mora o paradoxo: «ao nascimento de um novo tipo de espectáculo; este será, como uma revista, composto de colagens, de imagens que esbatem como um num sonho e de muitas histórias paralelas estruturadas segundo o princípio do conflito estético entre a tensão e o repouso, o forte e o fraco, o claro e o obscuro, o grande e o pequeno, o triste e o alegre. Nasce uma forma que se equilibra audaciosamente entre a arte e a banalidade, a desilusão e o pathos, e eleva a repetição à categoria de princípio estilístico.»[5]
A dança-teatro tem que ser observada numa perspectiva multidisciplinar, porque dela também fazem parte: a performance, artes plásticas, o vídeo «...não se trataria nem de teatro nem de dança. Todavia deve dizer-se o contrário: a arte de Pina Bausch faz correr um fio que serpenteia entre todos os géneros de espectáculos (ou performances)»[6]. Os seus espectáculos apresentam interacção entre outras artes, mas sem rejeitar a dimensão teatral. Contudo, num gosto pelo transdisciplinar, encontramos uma porta para a compreensão de uma linguagem artística paradoxal, heterogénea, criadora de diferenças, diferencial. E, no entrecruzar de linguagens artísticas, Pina Bausch desenvolve o que podemos chamar de processos paradoxais da Dança-Teatro: a repetição, a colagem, o quotidiano.
Através da repetição de movimentos e palavras, a coreógrafa explora a natureza da dança e do teatro de forma paradoxal; a repetição estimula a dinâmica paradoxal, porque por meio da repetição encontramos pontos a divergirem. A repetição é usada também para “desarrumar” a técnica clássica [7], e a própria sociedade. As cenas do Café Müller são exemplo desse método da repetição. Este processo paradoxal da repetição é usado nos espectáculos da coreógrafa não apenas como um método coreográfico, mas como um tema a ser criticamente decomposto, até gerar a diferença.
Pina Bausch também compõe as cenas através do método de colagem: pequenas cenas ou sequências de movimentos fragmentadas, repetidas, alternadas, ou realizadas em simultâneo, sem definido um desenvolvimento na direcção de uma conclusão. A sua construção é fragmentada, por isso o todo é uma sobreposição de partes. No espectáculo Nelken temos uma cena onde todos os bailarinos habitam o palco, fazendo uma sequência de movimentos dançados com cadeiras. Ao mesmo tempo, o espaço cénico é transformado com um amontoado de caixotes, e duas enormes torres (andaimes) trazidos por profissionais especializados que participam também no espectáculo.
Esta é uma cena com algum delírio, ou loucura, porque as cenas de conjunto implicam um êxtase em palco. Porque enquanto os bailarinos executam, como um todo, esses movimentos dançados, uma das bailarinas anda pelo palco, completamente desnorteada, com um microfone, numa espécie de pânico, precisamente por causa do corrupio dos profissionais especializados, que para além de transformarem o espaço cénico, participam em situações de risco físico que intervêm nessas duas grandes torres. Em muitos dos seus espectáculos, acontecem cenas de caos de grupo, com uma ordem inerente, mas que são apresentados exactamente como caos de relações humanas, de sentimentos, de afectos.
O quotidiano é uma presença constante nos trabalhos de Pina Bausch, através das palavras e dos gestos comuns – que interagem também com palavras e gestos de outras linguagens, literatura ou linguagem gestual. Esta presença acompanha a criação de um espectáculo através do processo de ensaios que, como vimos, modifica as experiências pessoais dos intérpretes em material artístico. Pina Bausch fala de amor, da infância, das pessoas comuns, de um estranho mundo humano, mas de onde se pode retirar uma característica que tem a ver com a universalidade do seu gesto. No palco, os gestos ganham uma função estética, porque se tornam estilizados e tecnicamente estruturados. Quando os gestos quotidianos são trazidos ao palco, através da repetição, tornam-se abstractos, no sentido de não estarem conectados com as suas funções diárias, são gestos carregados de emoção. Ou seja, quando um gesto é feito pela primeira vez em palco, ele pode ser interpretado como uma expressão espontânea, mas quando é tocado pela repetição fica exposto como um elemento estético, o mesmo acontece com as palavras, repetidas até que se dissolvam dos seus significados literais.
Os espectáculos de Pina Bausch são espectáculos totais, onde o bailarino pode dançar, estar parado, falar, cantar, e não só o bailarino, mas tudo o que está em seu redor: a música, as imagens, o cenário por causa do lado habitacional que o próprio cenário também é. Desta totalidade de espectáculos ressalta uma constante incompletude, uma busca e transformação dentro de um pensar-sentir-fazer fragmentado. Estamos perante um mundo indizível e subjectivo dos significados que os corpos dos bailarinos expressam.
O paradoxo da dança-teatro surge da envolvência de duas linguagens artísticas que coexistem no mesmo corpo, na mesma atmosfera onde «a dança de Pina Bausch tem a vida toda lá dentro»8. A sua linguagem mostra-nos o paradoxo como doador de sentidos, de múltiplos sentidos, num movimento de criação de sentido diferencial. A dança-teatro de Pina Bausch está inscrita numa lógica paradoxal. A contradição e o paradoxo são qualidades da sua dança-teatro. Porque do paradoxo resulta uma proliferação de sentidos, que provém da ressonância, de um ressoar entre a dança e o teatro.
O paradoxo é o fio condutor utilizado para apresentar o universo da dança-teatro de Pina Bausch. A coreógrafa foi responsável pela criação da dança-teatro: uma forma de expressão artística que elimina os limites entre a dança e o teatro. Por isso estamos no domínio da impossibilidade de atribuir explicações às experiências que as suas obras nos transmitem.
Notas:
[1] Wilde, Oscar, «A verdade das máscaras», in Intenções – quatro ensaios sobre estética, Cotovia, Trad.Portuguesa, lisboa, 1992, pg.203.
[2] Gil, José, «Os gestos de pensamento: Pina Bausch», in Movimento Total - o corpo e a dança, Relógio d’água, Lisboa, 2001, pg.213.
[3] Bentivoglio, Leonetta, «Os espectáculos do Wuppertal Tanztheater», in O teatro de Pina Bausch, Fundação Calouste Gulbenkian, Trad.Portuguesa, Lisboa, 1991, pg. 144, 145.
[4] Idem, Ibidem, pg.87,88.
[5] Schmidt, Jochen, «Da modern dance ao tanztheater», in Colóquio Pina Bausch: falem-me de amor, Fenda, trad. Portuguesa, Lisboa, 2005, pg. 93.
[6] Gil, José, «Os gestos de pensamento: Pina Bausch», in Movimento total - o corpo e a dança, Relógio d’água, Lisboa, 2001, pg. 214.
[7] Em Bandoneon , a cena do bailarino Dominique Mercy tentando fazer um passo de dança clássica, repetindo-o algumas vezes sem sucesso.
[8] Galhós, Claúdia, «O esquecimento essencial», in Revista Actual, número 1718, Outubro, 2005, pg.36
Patricia Mendes é licenciada em Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa. requenta o Ramo de Formação Educacional. Este texto é um resumo da tese de licenciatura em Filosofia «A estética do paradoxo na obra de Pina Bausch», orientada por José Gil.
E agora, José?
(19º dia)
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de Formiga Bargante
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de Formiga Bargante
Mozart
Passam hoje 250 anos sobre o aniversario do compositor W. A. Mozart. O programa oficial de comemorações pode ser consultado aqui. Entretanto, aqui fica uma pequena prenda para os leitores. O poema de Alexandr Pushkin Mozart & Salieri, escrito em 1826,serviu de inspiração para a peça de Peter Schaffer que deu origem ao filme de Milos Forman.
A peça do poeta russo põe em causa o conflicto entre génio e assassino, procurando reflectir, a partir da voz de Salieri, se um e outro podem co-existir na mesma pessoa. Salieri é aqui assaltado de duvidas pelas consequências dos seus actos, nomeadamente por ter dado a Mozart um copo de vinho envenenado. Mas tera Salieri assassinado Mozart, figura ambigua, enre o génio e o inconsciente, que punha em causa todos os valores que o Salieri defendia? O texto, breve, intenso e inquietante teve direito a uma opera por Rimsky-Korsakov.
um excerto
Mozart: (...) And genius and villainy. Are two things incompatible, aren’t they?
Salieri: You think so? (He pours the poison into Mozart’s glass) Come, drink up now.
Mozart: To your health, my friend, and to the loyal bond that binds together Mozart and Salieri, sons of harmony.
Salieri: Stop, stop!...You’ve drunk it all... And me?
Mozart: (throwing his napkin on the table) Enough. I’m full.(He goes to the piano) Listen, Salieri: My Requiem.(He plays) You’re weeping?
Salieri: These are tears I’ve never shed before: painful but welcome, as if I had discharged a heavy debt, as if the healing knife had cut away a throbbing limb. Mozart, dear friend, these tears... pay them no mind. Play on, play on, make haste, and saturate my soul with sounds!
quinta-feira, janeiro 26, 2006
Espaço poético
Critica a Satirotic, de Luis Castro/KARNART
por Eduardo Pitta
Se nunca ouviu falar da KARNART, está a tempo. Fundada por Luís Castro em 2001, a associação tem como objecto a criação artística, plástica, performativa e audiovisual, centrada no conceito de Perfinst. Momento de grande visibilidade foi a sua passagem pelo Teatro Nacional, onde montaram Equerma, leitura de imagens e entrosamentos que estabelece uma simbiose dinâmica entre Lorca e Camus. Quem viu, sabe do que falo. Neste momento, o grupo tem em cena dois espectáculos: Satirotic, a partir de textos eróticos e satíticos de vários autores portugueses; e A Dificuldade em se Exprimir, do argentino Copi (Raúl Damonte). Em ambos, o vigor do registo queer abre os textos respectivos a múltiplas possibilidades de fruição.
Interessa-me Satirotic. Uma sucessão de quadros, ou instalações críticas, tomando Botto, Junqueiro, Bocage, Eugénio, Almada, Cesariny, e outros, como narradores autodiegéticos. Tudo se passa e tudo acontece no décor frio da Escola de Medicina Veterinária de Lisboa. A escada (íngreme como um escadote) que permite o acesso às salas ocupa o espaço outrora reservado ao içamento dos animais. Numa das bancadas para necropsia, o serviço de chá é a nota dissonante. André Amálio faz as honras com um fumegante Rooibos vanille. Cenografia, como tal, praticamente omissa. Decerto não por acaso, a ficha técnica refere «instalação do espaço». Quando menos esperam, os espectadores vêem-se nos braços dos actores travestidos: a mim calhou-me Luís Castro. Um dos temas de Richard Rogers para The Sound of Music — com a letra de Oscar Hammerstein convenientemente adaptada ao happening — serve de entreacto ao discurso dos poetas.
De sala em sala, por mármores, gaiolas e tulhas de sangradura, ouvimos Quando o Intestino de Augusto Gil, Balofas Carnes de Botto, um excerto d’A Cena do Ódio de Almada, O Bispo de Beja de Homem-Pessoa, o Soneto XIII de Bocage, Resposta da Quinteira de António Maria Eusébio, Metempsicose de Antero, a Epístola VI de Bocage (série Cartas de Olinda a Alzira), a Fábula de Eugénio, o revolvente A Torre de Babel ou A Porra do Soriano de Junqueiro, Nunca te foram ao cu de Botto, uma cena d’O Doido de Junqueiro, António Botto de Francisco Eugénio dos Santos Tavares, Corpo Visível de Cesariny e, a fechar, Hermaphrodita de Eugénio de Castro. Fio condutor, a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, publicada em 1966 por Natália Correia.
Digamos que a arquitectura do espaço «penaliza» umas performances em detrimento de outras. Todo o patchwork narrativo apresenta dificuldades, mas André Amálio, Luís Caboco, Luís Castro e Ricardo Cruz estão à altura do desafio. Particularmente felizes as «leituras» de Homem-Pessoa, Eugénio, o segundo Botto e Cesariny. Descontada a irreverente originalidade do espaço, uma mais valia nada despicienda, Satirotic talvez pudesse e devesse deslocalizar-se para onde muito mais gente o visse. Convenhamos que dez espectadores por sessão (o espaço permitirá, no limite, catorze) é ambição modesta para quem merece outra ressonância.
Nota: Texto escrito a convite d'O Melhor Anjo. Titulo, edição e links da minha responsabilidade. Este texto sera publicado amanhã no blog daLiteratura (TBC)
por Eduardo Pitta
Se nunca ouviu falar da KARNART, está a tempo. Fundada por Luís Castro em 2001, a associação tem como objecto a criação artística, plástica, performativa e audiovisual, centrada no conceito de Perfinst. Momento de grande visibilidade foi a sua passagem pelo Teatro Nacional, onde montaram Equerma, leitura de imagens e entrosamentos que estabelece uma simbiose dinâmica entre Lorca e Camus. Quem viu, sabe do que falo. Neste momento, o grupo tem em cena dois espectáculos: Satirotic, a partir de textos eróticos e satíticos de vários autores portugueses; e A Dificuldade em se Exprimir, do argentino Copi (Raúl Damonte). Em ambos, o vigor do registo queer abre os textos respectivos a múltiplas possibilidades de fruição.
Interessa-me Satirotic. Uma sucessão de quadros, ou instalações críticas, tomando Botto, Junqueiro, Bocage, Eugénio, Almada, Cesariny, e outros, como narradores autodiegéticos. Tudo se passa e tudo acontece no décor frio da Escola de Medicina Veterinária de Lisboa. A escada (íngreme como um escadote) que permite o acesso às salas ocupa o espaço outrora reservado ao içamento dos animais. Numa das bancadas para necropsia, o serviço de chá é a nota dissonante. André Amálio faz as honras com um fumegante Rooibos vanille. Cenografia, como tal, praticamente omissa. Decerto não por acaso, a ficha técnica refere «instalação do espaço». Quando menos esperam, os espectadores vêem-se nos braços dos actores travestidos: a mim calhou-me Luís Castro. Um dos temas de Richard Rogers para The Sound of Music — com a letra de Oscar Hammerstein convenientemente adaptada ao happening — serve de entreacto ao discurso dos poetas.
De sala em sala, por mármores, gaiolas e tulhas de sangradura, ouvimos Quando o Intestino de Augusto Gil, Balofas Carnes de Botto, um excerto d’A Cena do Ódio de Almada, O Bispo de Beja de Homem-Pessoa, o Soneto XIII de Bocage, Resposta da Quinteira de António Maria Eusébio, Metempsicose de Antero, a Epístola VI de Bocage (série Cartas de Olinda a Alzira), a Fábula de Eugénio, o revolvente A Torre de Babel ou A Porra do Soriano de Junqueiro, Nunca te foram ao cu de Botto, uma cena d’O Doido de Junqueiro, António Botto de Francisco Eugénio dos Santos Tavares, Corpo Visível de Cesariny e, a fechar, Hermaphrodita de Eugénio de Castro. Fio condutor, a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, publicada em 1966 por Natália Correia.
Digamos que a arquitectura do espaço «penaliza» umas performances em detrimento de outras. Todo o patchwork narrativo apresenta dificuldades, mas André Amálio, Luís Caboco, Luís Castro e Ricardo Cruz estão à altura do desafio. Particularmente felizes as «leituras» de Homem-Pessoa, Eugénio, o segundo Botto e Cesariny. Descontada a irreverente originalidade do espaço, uma mais valia nada despicienda, Satirotic talvez pudesse e devesse deslocalizar-se para onde muito mais gente o visse. Convenhamos que dez espectadores por sessão (o espaço permitirá, no limite, catorze) é ambição modesta para quem merece outra ressonância.
Nota: Texto escrito a convite d'O Melhor Anjo. Titulo, edição e links da minha responsabilidade. Este texto sera publicado amanhã no blog daLiteratura (TBC)
Amanhã
E agora, José?
(18º dia)
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de Formiga Bargante
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
Uma ideia original de Formiga Bargante
Fragateiro par lui-même
1. A minha ideia sempre foi dar continuidade e sentido ao grande investimento que o Estado faz na rede nacional de cineteatros, muitos dos quais já têm equipa, equipamentos e programadores, embora lhes falte uma coisa essencial, que são conteúdos.
2. Estrategicamente, a grande aposta do Estado tem de ser o incentivo à criação de conteúdos. Em linguagem informática, é preciso arranjar «software» para os muitos computadores que existem pelo país fora.
3. O meu projecto e o projecto do Ministério da Cultura faz sentido para um país com poucos meios financeiros mas que tem de actuar com o pouco que possui. Na práctica, aquilo que proponho é que a instituição deve estar ao serviço dos artistas e dos seus projectos pessoais, precisa sim de princípios que tenham a ver com o país, que intervenham na sociedade e tenham sentido de utilidade pública. A cultura tem de estar ao serviço do desenvolvimento.
4. Em termos sociais, a minha preocupação é que o grande défice é o da inteligência e da sensibilidade. A grande luta é a da invenção. Um teatro tem de trabalhar ao nível da inteligência e da sensibilidade, tem de ser um laboratório de novas formas de vida, de novos modos de olhar o mundo, de novas ideias.
5. Tudo o que faço se baseia em quatro triângulos. Um pequeno triângulo que liga a matemática à língua e à música, que são os instrumentos e as disciplinas de treino do cérebro, que quando se alargam a uma dimensão superior formam o triângulo do conhecimento – arte, ciência e filosofia. Esse triângulo, em termos sociais, traduz-se na memória do passado, na capacidade de intervir no presente e de ficcionar o futuro, acabando naquilo que inquieta o Homem, que é o que se passa no Universo, o que se passa dentro de nós ao nível do cérebro e o que se passa no centro da Terra, tudo coisas que desconhecemos totalmente.
E onde é que fica o Teatro Nacional?
Juntando estes quatro triângulos, proponho uma programação centrada no conhecimento. Quero que sintamos que, no Rossio, aquela casa faz um teatro que vai à memória buscar de volta os clássicos, que conseguem falar além do seu tempo. E, simultaneamente, pretendo que o D. Maria seja capaz de intervir no mundo de hoje. Em Portugal, temos de enfrentar a nossa relação mal resolvida com África, sobre a qual começam a aparecer, timidamente, alguns textos a que é preciso dar voz. E temos de encarar de frente a emigração e a multiculturalidade. O D. Maria será a casa da dramaturgia portuguesa, no sentido em que é urgente falar-mos sobre as nossas histórias e as histórias dos outros num espaço de questionamento.
6. para conseguir desenvolver projectos que abordem temáticas emergentes terei no D. Maria uma equipa multidisciplinar, vinda das várias áreas do conhecimento, que regularmente vá reflectindo sobre as grandes questões que atravessam o mundo e que têm de ser trabalhadas a nível de ficção. (...) Teremos permanentemente um observador a circular pelo mundo, na Internet, que nos irá fazer um relatório semanal sobre o que se produz a nível mundial no universo dos espectáculos de teatro e da dramaturgia internacional contemporânea.
7. Foi esta proposta que apresentou ao MC?
Exactamente, foi esta a proposta provinciana e retrógrada que apresentei. (...) Sinto-me no combate entre a ignorância e o conhecimento. Estou no interior desse combate e de uma forma muito intensa.
A entrevista a Carlos Fragateiro, da autoria de Alexandra Carita, publicada no jornal Expresso do passado dia 14.01.06 esta disponivel para leitura integralmente no Pancada de Moliére.
Sobre o "caso Nacional" ler aqui.
2. Estrategicamente, a grande aposta do Estado tem de ser o incentivo à criação de conteúdos. Em linguagem informática, é preciso arranjar «software» para os muitos computadores que existem pelo país fora.
3. O meu projecto e o projecto do Ministério da Cultura faz sentido para um país com poucos meios financeiros mas que tem de actuar com o pouco que possui. Na práctica, aquilo que proponho é que a instituição deve estar ao serviço dos artistas e dos seus projectos pessoais, precisa sim de princípios que tenham a ver com o país, que intervenham na sociedade e tenham sentido de utilidade pública. A cultura tem de estar ao serviço do desenvolvimento.
4. Em termos sociais, a minha preocupação é que o grande défice é o da inteligência e da sensibilidade. A grande luta é a da invenção. Um teatro tem de trabalhar ao nível da inteligência e da sensibilidade, tem de ser um laboratório de novas formas de vida, de novos modos de olhar o mundo, de novas ideias.
5. Tudo o que faço se baseia em quatro triângulos. Um pequeno triângulo que liga a matemática à língua e à música, que são os instrumentos e as disciplinas de treino do cérebro, que quando se alargam a uma dimensão superior formam o triângulo do conhecimento – arte, ciência e filosofia. Esse triângulo, em termos sociais, traduz-se na memória do passado, na capacidade de intervir no presente e de ficcionar o futuro, acabando naquilo que inquieta o Homem, que é o que se passa no Universo, o que se passa dentro de nós ao nível do cérebro e o que se passa no centro da Terra, tudo coisas que desconhecemos totalmente.
E onde é que fica o Teatro Nacional?
Juntando estes quatro triângulos, proponho uma programação centrada no conhecimento. Quero que sintamos que, no Rossio, aquela casa faz um teatro que vai à memória buscar de volta os clássicos, que conseguem falar além do seu tempo. E, simultaneamente, pretendo que o D. Maria seja capaz de intervir no mundo de hoje. Em Portugal, temos de enfrentar a nossa relação mal resolvida com África, sobre a qual começam a aparecer, timidamente, alguns textos a que é preciso dar voz. E temos de encarar de frente a emigração e a multiculturalidade. O D. Maria será a casa da dramaturgia portuguesa, no sentido em que é urgente falar-mos sobre as nossas histórias e as histórias dos outros num espaço de questionamento.
6. para conseguir desenvolver projectos que abordem temáticas emergentes terei no D. Maria uma equipa multidisciplinar, vinda das várias áreas do conhecimento, que regularmente vá reflectindo sobre as grandes questões que atravessam o mundo e que têm de ser trabalhadas a nível de ficção. (...) Teremos permanentemente um observador a circular pelo mundo, na Internet, que nos irá fazer um relatório semanal sobre o que se produz a nível mundial no universo dos espectáculos de teatro e da dramaturgia internacional contemporânea.
7. Foi esta proposta que apresentou ao MC?
Exactamente, foi esta a proposta provinciana e retrógrada que apresentei. (...) Sinto-me no combate entre a ignorância e o conhecimento. Estou no interior desse combate e de uma forma muito intensa.
A entrevista a Carlos Fragateiro, da autoria de Alexandra Carita, publicada no jornal Expresso do passado dia 14.01.06 esta disponivel para leitura integralmente no Pancada de Moliére.
Sobre o "caso Nacional" ler aqui.
quarta-feira, janeiro 25, 2006
Diz-me com quem queres falar...
O Melhor Anjo lança o desafio. Dia 27 de Março comemora-se o Dia Mundial do Teatro e neste blog publicarei uma entrevista com um criador ou criadora à escolha dos leitores. Que nome é que gostariam de ver entrevistado por este blog? Vale tudo, do classico ao contemporâneo, nacional e internacional, da Africa do Sul a Bragança. Desde que seja da area do teatro ou performance. Aceitam-se sugestões até dia 20 de Fevereiro por e-mail ou na caixa de comentários. Depois dessa data indicarei os três nomes mais votados ou, à falta de quorum, os mais interesantes. Ficarão disponiveis para votação até 01 Março. O nome escolhido será divulgado no proprio dia 27 de Março.
Uma discussão
a seguir, aquela que sobre cultura, se faz, por episódios, no A Arte da Fuga. E ainda, como referência bibliográfica: WHY ARE ARTISTS POOR?, a tese do economista e teorico Hans Abbing
E agora, José?
(17º dia)
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
terça-feira, janeiro 24, 2006
E agora, José?
(16º dia)
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
segunda-feira, janeiro 23, 2006
Avignon 2005-2006
De um Festival ao outro
Uma conversa com Hortense Archambault e Vincent Baudriller,directores do Festival de Avignon, por Jean-François Perrier [in newsletter]
Le Festival d’Avignon 2005 a été l’objet de discussions assez vives et contrastées tant dans le public que dans le milieu de la critique théâtrale.
Vincent Baudriller: Oui, depuis six mois, nous avons beaucoup écouté, entendu et échangé dans les débats spontanés ou organisés qui ont eu lieu pendant et après le Festival. Nous avons lu ce qui s’est écrit sur la programmation et sur les œuvres présentées. Ces débats sont utiles car ils témoignent, s’il en était besoin, de la vitalité du théâtre et de celle du Festival qui pose la question : “qu’est-ce que le théâtre aujourd’hui dans un monde en pleine mutation ? En quoi nous est-il nécessaire ?” Questionnement qui touche à la fois au sens même du théâtre, aux formes multiples qu’il peut prendre aujourd’hui et à ce qu’il raconte au public. Ces débats montrent aussi qu’il n’y a pas qu’une seule, mais au contraire une multiplicité de réponses. Et ils ne sont pas nouveaux, car depuis 60 ans, le Festival n’a cessé de s’ouvrir, de se modifier, de bouger, en maintenant une confrontation entre des formes artistiques diverses. Jean Vilar, déjà, a fait monter sur le plateau de la Cour d’honneur des chorégraphes et des danseurs, des musiciens, des cinéastes pour présenter leurs œuvres, provoquant déjà des batailles souvent acharnées. Autour du théâtre, tous les arts de la scène ont eu leur place à un moment ou à un autre, sans qu’il y ait une quelconque opposition entre eux, et cette ouverture a contribué à faire du Festival d’Avignon ce rendez-vous unique et sa renommée. Notre démarche s’inscrit dans cette dynamique.
Hortense Archambault: Dans la diversité des esthétiques que nous présentons, nous nous efforçons de trouver une harmonie. Cet équilibre nous a semblé être présent en 2004 et en 2005 même si, bien sûr, certaines propositions esthétiques mises au centre du dernier Festival sont habituellement plus à la marge des arts de la scène. Mais il nous a paru possible et important de les présenter à un large public. En fait, la question que l’on peut légitimement se poser est celle du sens des catégories dans lesquelles est parfois cloisonné le théâtre. Ne doit-on pas encourager la curiosité du public hors des chemins bien balisés? Ne doit-on pas mêler au plaisir d’une relecture d’œuvres déjà connues, l’heureuse surprise possible d’une découverte? Chacun apporte sa réponse, mais l’essentiel réside dans cette quête d’émotions et de pensées.
Ce Festival 2005 s’est inscrit dans le projet que vous avez proposé sur plusieurs années. Quelles en sont les lignes directrices ?
H. A.: Nous sommes partis d’un constat assez simple: dans une société en constante et profonde mutation où tout s’accélère, il nous semble que le théâtre, parfois considéré comme une forme archaïque, résiste avec une vivacité remarquable à l’usure du temps, ce qui en fait un art résolument contemporain. Il est toujours ce lieu irremplaçable, permettant à une communauté éphémère d’individus de se rassembler pour voir et entendre une représentation de l’homme et du monde donnée par d’autres individus. La particularité du Festival d’Avignon, c’est que ce rassemblement se fait autour d’une multiplicité d’aventures qui se côtoient et se répondent dans un même lieu et dans un même temps, permettant les changes et confrontations. Pour répondre à ce constat, nous avons donc invité des artistes qui prennent le risque d’inventer des formes, des écritures, pour partager leurs visions et leurs interrogations.
V.B.: Faire et regarder subjectivement le théâtre en toute liberté, c’est un pari qu’il faut tenter. Pouvoir offrir des espaces où il est possible à chacun de se confronter à un regard singulier, de vivre une expérience de l’altérité, nous semble absolument nécessaire aujourd’hui.
Un des points essentiels de ce projet c’est aussi d’avoir associé un artiste à votre programmation. Pourquoi?
V. B.: Depuis trois ans, avec Thomas Ostermeier, puis Jan Fabre et maintenant Josef Nadj, nous avons voulu mettre chaque année un artiste différent au cœur de notre aventure, non pas en tant que programmateur, mais comme artiste. Par son œuvre, son regard, ses questionnements, il est le point de départ et l’inspirateur de la programmation que je construis en dialogue avec lui. Ce compagnonnage, que nous vivons comme une aventure artistique et humaine forte, donne chaque année, nous l’espérons, une âme particulière au Festival. Cette démarche offre une grande liberté, elle donne du sens et ouvre le champs des possibles. Nous ne fixons pas une thématique préalable pour chaque édition, mais nous cherchons à provoquer un dialogue libre entre des démarches artistiques, qui souvent se mettent à résonner entre elles au f ur et à mesure de la construction de la programmation. Chaque année, la phase de préparation met à jour des correspondances, des croisements qui parfois n’étaient pas prévus. C’est vraiment dans le travail, au fil des discussions avec tous les artistes invités et de la préparation de leurs créations, que se révèlent les couleurs dominantes de chaque édition.
H. A.: L’édition 2004 mettait plus en avant une représentation du monde à forte connotation sociale et politique, alors qu’en 2005 le Festival s’est davantage penché sur l’intimité de l’être humain.
V. B.: Ces lignes de force n’empêchaient pas la coexistence d’esthétiques et de propos variés dans la quarantaine de spectacles proposés. Il y a un vrai risque de caricature à vouloir appréhender en quelques mots chacune des éditions ; quoi qu’il en soit, le théâtre est au cœur d’un dialogue permanent entre l’intime et le social, c’est de cela dont nous parlons.
H. A.: Ce qui est très important, c’est qu’à cette liberté des artistes d’imaginer avec nous leur présence au Festival, souvent avec plusieurs propositions artistiques, doit correspondre la liberté des publics qui le parcourent avec des attentes multiples. Chaque spectateur, en effet, invente sa propre traversée. La construction du programme et l’accompagnement des spectateurs par les documents d’information que nous réalisons, les rencontres variées que nous proposons, doivent les aider dans leur choix. Nous organisons à Avignon, pendant toute l’année, des rencontres mensuelles avec les artistes du prochain Festival pour partager cette alchimie particulière et mystérieuse du processus de création d’une œuvre. C’est notre responsabilité de favoriser la rencontre entre artistes et publics et de faire en sorte qu’elle puisse être la plus riche possible.
V. B.: Notamment, nous sommes particulièrement attentifs à l’accompagnement des jeunes spectateurs, dont la fréquentation augmente fortement depuis deux ans. Par exemple, grâce au soutien de plusieurs régions, du ministère de l’Education nationale et à l’implication d’enseignants passionnés, de nombreux lycéens peuvent découvrir le Festival et y être accueillis avec l’aide du Centre de jeunes et de séjour du Festival d’Avignon animé par les CEMÉA, qui fêteront cette année les cinquante ans de leur présence.
Vous êtes encore dans la phase de préparation du 60e Festival, que pouvez-vous nous dire de votre dialogue avec Josef Nadj, l’artiste associé de cette édition ?
V. B.: Nous sommes en effet au moment où apparaissent mieux les couleurs et les tonalités du prochain Festival. Dans nos conversations avec Josef Nadj, deux images sont revenues avec persistance: la terre et le fleuve. La terre comme image des racines et de l’identité culturelle, le fleuve comme lieu du mouvement, du possible déplacement vers d’autres terres, d’autres cultures. Pour Josef Nadj, c’est de la terre de Voïvodine en Serbie qu’il part pour Budapest puis Paris au début des années quatre-vingts. Ce “déplacement” géographique lui a donné une grande liberté, tant dans le regard qu’il porte sur le monde que dans l’invention de son propre univers. Chacun de ses spectacles nous convie à voyager dans son monde imaginaire et mystérieux, hors du temps, où il porte un regard tendre et profond sur notre humanité. La modernité de son art est fortement nourrie aussi bien par une connaissance des formes et des arts traditionnels que par un dialogue avec d’autres arts comme la musique, la peinture ou la littérature. À partir de ces préoccupations, nous traçons des chemins qui croisent ceux empruntés par les artistes que nous avons invités, comme Bartabas, Alain Françon, Arthur Nauzyciel, Anatoli Vassiliev et François Verret annoncés en juillet dernier, et bien d’autres avec qui nous finalisons un travail entamé souvent il y a plus d’un an pour présenter leurs créations. Ensemble, ils dessineront la carte de la 60e édition du Festival, très différente des deux précédentes mais tout aussi passionnante, nous l’espérons.
Mais informações sobre o Festival de Avignon aqui
Uma conversa com Hortense Archambault e Vincent Baudriller,directores do Festival de Avignon, por Jean-François Perrier [in newsletter]
Le Festival d’Avignon 2005 a été l’objet de discussions assez vives et contrastées tant dans le public que dans le milieu de la critique théâtrale.
Vincent Baudriller: Oui, depuis six mois, nous avons beaucoup écouté, entendu et échangé dans les débats spontanés ou organisés qui ont eu lieu pendant et après le Festival. Nous avons lu ce qui s’est écrit sur la programmation et sur les œuvres présentées. Ces débats sont utiles car ils témoignent, s’il en était besoin, de la vitalité du théâtre et de celle du Festival qui pose la question : “qu’est-ce que le théâtre aujourd’hui dans un monde en pleine mutation ? En quoi nous est-il nécessaire ?” Questionnement qui touche à la fois au sens même du théâtre, aux formes multiples qu’il peut prendre aujourd’hui et à ce qu’il raconte au public. Ces débats montrent aussi qu’il n’y a pas qu’une seule, mais au contraire une multiplicité de réponses. Et ils ne sont pas nouveaux, car depuis 60 ans, le Festival n’a cessé de s’ouvrir, de se modifier, de bouger, en maintenant une confrontation entre des formes artistiques diverses. Jean Vilar, déjà, a fait monter sur le plateau de la Cour d’honneur des chorégraphes et des danseurs, des musiciens, des cinéastes pour présenter leurs œuvres, provoquant déjà des batailles souvent acharnées. Autour du théâtre, tous les arts de la scène ont eu leur place à un moment ou à un autre, sans qu’il y ait une quelconque opposition entre eux, et cette ouverture a contribué à faire du Festival d’Avignon ce rendez-vous unique et sa renommée. Notre démarche s’inscrit dans cette dynamique.
Hortense Archambault: Dans la diversité des esthétiques que nous présentons, nous nous efforçons de trouver une harmonie. Cet équilibre nous a semblé être présent en 2004 et en 2005 même si, bien sûr, certaines propositions esthétiques mises au centre du dernier Festival sont habituellement plus à la marge des arts de la scène. Mais il nous a paru possible et important de les présenter à un large public. En fait, la question que l’on peut légitimement se poser est celle du sens des catégories dans lesquelles est parfois cloisonné le théâtre. Ne doit-on pas encourager la curiosité du public hors des chemins bien balisés? Ne doit-on pas mêler au plaisir d’une relecture d’œuvres déjà connues, l’heureuse surprise possible d’une découverte? Chacun apporte sa réponse, mais l’essentiel réside dans cette quête d’émotions et de pensées.
Ce Festival 2005 s’est inscrit dans le projet que vous avez proposé sur plusieurs années. Quelles en sont les lignes directrices ?
H. A.: Nous sommes partis d’un constat assez simple: dans une société en constante et profonde mutation où tout s’accélère, il nous semble que le théâtre, parfois considéré comme une forme archaïque, résiste avec une vivacité remarquable à l’usure du temps, ce qui en fait un art résolument contemporain. Il est toujours ce lieu irremplaçable, permettant à une communauté éphémère d’individus de se rassembler pour voir et entendre une représentation de l’homme et du monde donnée par d’autres individus. La particularité du Festival d’Avignon, c’est que ce rassemblement se fait autour d’une multiplicité d’aventures qui se côtoient et se répondent dans un même lieu et dans un même temps, permettant les changes et confrontations. Pour répondre à ce constat, nous avons donc invité des artistes qui prennent le risque d’inventer des formes, des écritures, pour partager leurs visions et leurs interrogations.
V.B.: Faire et regarder subjectivement le théâtre en toute liberté, c’est un pari qu’il faut tenter. Pouvoir offrir des espaces où il est possible à chacun de se confronter à un regard singulier, de vivre une expérience de l’altérité, nous semble absolument nécessaire aujourd’hui.
Un des points essentiels de ce projet c’est aussi d’avoir associé un artiste à votre programmation. Pourquoi?
V. B.: Depuis trois ans, avec Thomas Ostermeier, puis Jan Fabre et maintenant Josef Nadj, nous avons voulu mettre chaque année un artiste différent au cœur de notre aventure, non pas en tant que programmateur, mais comme artiste. Par son œuvre, son regard, ses questionnements, il est le point de départ et l’inspirateur de la programmation que je construis en dialogue avec lui. Ce compagnonnage, que nous vivons comme une aventure artistique et humaine forte, donne chaque année, nous l’espérons, une âme particulière au Festival. Cette démarche offre une grande liberté, elle donne du sens et ouvre le champs des possibles. Nous ne fixons pas une thématique préalable pour chaque édition, mais nous cherchons à provoquer un dialogue libre entre des démarches artistiques, qui souvent se mettent à résonner entre elles au f ur et à mesure de la construction de la programmation. Chaque année, la phase de préparation met à jour des correspondances, des croisements qui parfois n’étaient pas prévus. C’est vraiment dans le travail, au fil des discussions avec tous les artistes invités et de la préparation de leurs créations, que se révèlent les couleurs dominantes de chaque édition.
H. A.: L’édition 2004 mettait plus en avant une représentation du monde à forte connotation sociale et politique, alors qu’en 2005 le Festival s’est davantage penché sur l’intimité de l’être humain.
V. B.: Ces lignes de force n’empêchaient pas la coexistence d’esthétiques et de propos variés dans la quarantaine de spectacles proposés. Il y a un vrai risque de caricature à vouloir appréhender en quelques mots chacune des éditions ; quoi qu’il en soit, le théâtre est au cœur d’un dialogue permanent entre l’intime et le social, c’est de cela dont nous parlons.
H. A.: Ce qui est très important, c’est qu’à cette liberté des artistes d’imaginer avec nous leur présence au Festival, souvent avec plusieurs propositions artistiques, doit correspondre la liberté des publics qui le parcourent avec des attentes multiples. Chaque spectateur, en effet, invente sa propre traversée. La construction du programme et l’accompagnement des spectateurs par les documents d’information que nous réalisons, les rencontres variées que nous proposons, doivent les aider dans leur choix. Nous organisons à Avignon, pendant toute l’année, des rencontres mensuelles avec les artistes du prochain Festival pour partager cette alchimie particulière et mystérieuse du processus de création d’une œuvre. C’est notre responsabilité de favoriser la rencontre entre artistes et publics et de faire en sorte qu’elle puisse être la plus riche possible.
V. B.: Notamment, nous sommes particulièrement attentifs à l’accompagnement des jeunes spectateurs, dont la fréquentation augmente fortement depuis deux ans. Par exemple, grâce au soutien de plusieurs régions, du ministère de l’Education nationale et à l’implication d’enseignants passionnés, de nombreux lycéens peuvent découvrir le Festival et y être accueillis avec l’aide du Centre de jeunes et de séjour du Festival d’Avignon animé par les CEMÉA, qui fêteront cette année les cinquante ans de leur présence.
Vous êtes encore dans la phase de préparation du 60e Festival, que pouvez-vous nous dire de votre dialogue avec Josef Nadj, l’artiste associé de cette édition ?
V. B.: Nous sommes en effet au moment où apparaissent mieux les couleurs et les tonalités du prochain Festival. Dans nos conversations avec Josef Nadj, deux images sont revenues avec persistance: la terre et le fleuve. La terre comme image des racines et de l’identité culturelle, le fleuve comme lieu du mouvement, du possible déplacement vers d’autres terres, d’autres cultures. Pour Josef Nadj, c’est de la terre de Voïvodine en Serbie qu’il part pour Budapest puis Paris au début des années quatre-vingts. Ce “déplacement” géographique lui a donné une grande liberté, tant dans le regard qu’il porte sur le monde que dans l’invention de son propre univers. Chacun de ses spectacles nous convie à voyager dans son monde imaginaire et mystérieux, hors du temps, où il porte un regard tendre et profond sur notre humanité. La modernité de son art est fortement nourrie aussi bien par une connaissance des formes et des arts traditionnels que par un dialogue avec d’autres arts comme la musique, la peinture ou la littérature. À partir de ces préoccupations, nous traçons des chemins qui croisent ceux empruntés par les artistes que nous avons invités, comme Bartabas, Alain Françon, Arthur Nauzyciel, Anatoli Vassiliev et François Verret annoncés en juillet dernier, et bien d’autres avec qui nous finalisons un travail entamé souvent il y a plus d’un an pour présenter leurs créations. Ensemble, ils dessineront la carte de la 60e édition du Festival, très différente des deux précédentes mais tout aussi passionnante, nous l’espérons.
Mais informações sobre o Festival de Avignon aqui
E agora, José?
(15º dia)
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do Primeiro-Ministro, que tem por varias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder."
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa, em 09.01.2006
domingo, janeiro 22, 2006
E agora, José?
Com o novo Presidente eleito (enfim...) ja não ha desculpas para não se arrumar a casa. O Melhor Anjo associa-se ao Formiga Bargante e pergunta:
E AGORA, JOSÉ ?
(14º dia)
"Se estou aqui é porque tenho a confiança do primeiro-ministro, que tem várias vezes manifestado a confiança, a que procuro responder".
Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, em conferência de imprensa realizada em 9.01.2006.
Hoje, no Porto
Com o pais mergulhado no resultado eleitoral, ninguem vai ler isto... Ainda assim importa dar conta das posições de Luis Miguel Cintra, director do Teatro da Cornucopia e recente galardoado com o Prémio Pessoa 2005, acerca da gestão dos teatros nacionais feitas no âmbito de um debate realizado no Teatro Nacional S. João: "Está a comer-se o dinheiro todo entre os teatros nacionais e as companhias velhas. Não se apoiam projectos criativos novos".
Textos dispersos
Na coluna da direita, na secção Dossiers, pode agora consultar-se, numa pasta chamada Textos dispersos, o conjunto de textos de opinião, reportagens, comentarios ou entrevistas ja publicados neste blog.
Foram, também, actualizados os links Analises de Espectaculos e Analises criticas de Pedro Manuel.
E foram acrescentados novos links à secção dos blogs
Mon ami president...
Pelo menos desde quinta-feira que, aqui em França, os jornais tratam Cavaco Silva com o novo Presidente da Republica. Ontem o Le Monde chamava à capa a imagem de Mario Soares na feira da Trofa, para dar conta não tanto da corrida presidencial mas do marasmo social, economico e politico em que Portugal se afundou 20 anos depois de ter entrado na UE. Hoje, do Le Monde ao Liberaton, nos varios sites e até nas radios, Cavaco é ja tratado como Presidente de todos os ortugueses. Presque...
Le Portugal prêt à virer à droite in Liberation
Le spleen des Portugais vingt ans après l'adhésion européenne in Le Monde
Le candidat de droite, M. Cavaco Silva, part favori pour le premier tour du scrutin présidentiel in Le Monde
Citações 5
A política do Ministério da Cultura (MC), e em particular as decisões mais recentes relativas ao Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, tem vindo a ser contestada através de uma mobilização sem precedentes, em particular por parte de nomes de primeiro plano dos meios culturais da capital. Nesse movimento, a presença da cidade do Porto tem sido praticamente residual - fica-se por um número reduzido de figuras representando as gerações mais novas do teatro e das artes do espectáculo. (...) este não-alinhamento no movimento parece, no entanto, decorrer mais do notório apagamento do Porto da cena nacional (cultural, política, económica) do que de um calculado silêncio de apoio à política do MC. (...) Ele surge na sequência, ainda, da ressaca do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura e da porfiada, e parece que conseguida, secundarização a que o presidente da câmara Rui Rio entretanto submeteu a vida cultural da cidade. (...) Porto parece conformado em ficar "à margem" da vida política, económica e cultural do país. Mas "à margem de certa maneira", parafraseando a música de José Mário Branco - da sua maneira, bem portuense, de achar que isso não lhe diz respeito, não lhe interessa e, enfim, não o incomoda.Verdadeiramente, o Porto parece só reagir com alguma intensidade e indignação quando o árbitro marca penalty a favor do Benfica. Mas fá-lo com as vozes menos avalizadas para uma eficaz reafirmação da cidade no contexto nacional.
Sérgio C. Andrade in PUBLICO
Tina Turner e Bruce Springsteen versão dança moderna em NY
sábado, janeiro 21, 2006
Dia de reflexão
Sobre moda e artes plasticas, sobre relações entre cultura e politica, sobre marcas e globalização, sobre corpo e simbolo.
Vanessa Beecroft em exposição fotografica na galeria de arte Louis Vuitton, em Paris, até 31 Março
sexta-feira, janeiro 20, 2006
Citações 4
2.
João Carneiro in jornal Expresso:
é inacreditável que se permita a permanência no Governo a pessoas tão incompetentes como arrogantes e (...) caucionar as suas actividades é desrespeitar totalmente as pessoas que são governadas. E, ainda, porque não se admite que estejamos a perder tanta energia e tinta com uma questão cujo fundo é incompreensível, cuja incompreensibilidade já foi referida à exaustão, e que continua a ser modelo de governação na área da cultura; infelizmente, e porque caucionada pelo poder central, nada de bom pressagia relativamente a este. Se a demissão de um gestor antes do final do seu mandato é estranha, quase inusitada, tanto mais que não existem razões para o fazer, tanto mais que não se propõe nenhuma alternativa cuja urgência determine o acto, sou levado a pensar que a ministra da Cultura e o secretário de Estado estão conscientes do que estão a fazer e que isso corresponde ao que pensam como projecto para o país. Ora, isto já seria razão mais do que suficiente para eles serem demitidos e para se assumir o erro, possível, de uma má escolha, antes de mais estragos. Contudo, e mesmo sem que a decisão de fundo esteja em causa - e está, é claro -, haveria ainda mais qualquer coisa que não devia passar em branco. Como se diz, o demónio está nos detalhes. (...) A brincadeira com o cidadão normal ultrapassou tudo o que se pode tolerar e, no entanto, tudo continua como se nada fosse. Mas o que é que isto tudo quer dizer? É esta questão que me inquieta, com contornos de sonho agitado, de pesadelo ainda por vir.
Um resumo possivel
Eis algumas das coisas que se escreveram nos ultimos dias acerca do TNDMII e da crise cultural que o pais atravessa:
[em construção]
Neste blog:
Coups de thèâtre - mudanças no TNDMII (06.01)
A conferência de imprensa de Isabel Pires de Lima (09.01)
Perspectivas (10.01)
Pontos nos iis (11.1)
Serviço Publico (12.01)
Pais Imaginario (13.01)
(ainda) algumas notas (15.01)
Noutros locais:
O verdadeiro Teatro Nacional - por João Paulo Sousa in daLiteratura (06.01)
Golpe no teatro, atentado às liberdades - por Augusto M. Seabra in PUBLICO (07.01)
Desilusão no D. Maria II - por Miguel-Pedro Quadrio in DN (07.01)
TNDMII - por André e. Teodosio e Pedro Penim in teatropraga (07.01)
Da cultura 2 - por Eurico de Barros in Jantar das quartas (08.01)
Petições e erros - por João Gonçalves in Portugal dos Pequeninos (09.01)
Citações 1 (10.01)
Tira-teimas - por Eduardo Pitta in daLiteratura (11.01)
À espera do comboio na paragem do autocarro - por contra-abaixo in A grande loja do queijo limiano (11.01)
O desastre na cultura publica - por Augusto M. Seabra in PUBLICO (12.01)
Citações 2 (12.01)
Pergunta dramatica - por Eurico de Barros in Jantar das quartas (12.01)
Os saudosos de Carrilho - por Gustavo Rubim in Casmurro (12.01)
HIGHLIGHTS DA CULTURA - por Eduardo Pitta in daLiteratura (13.06)
Ainda a chatice dos saudosos de Carrilho - por Gustavo Rubim in Casmurro (13.01)
Eu até vou mais longe - por Gustavo Rubim in Casmurro (14.01)
Um teatro nacional - por Eurico de Barros in DN (14.01)
Vingar Antonio Ferro - por Eduardo Pitta in daLiteratura (15.01)
Citações 3 (19.01)
[em construção]
Neste blog:
Coups de thèâtre - mudanças no TNDMII (06.01)
A conferência de imprensa de Isabel Pires de Lima (09.01)
Perspectivas (10.01)
Pontos nos iis (11.1)
Serviço Publico (12.01)
Pais Imaginario (13.01)
(ainda) algumas notas (15.01)
Noutros locais:
O verdadeiro Teatro Nacional - por João Paulo Sousa in daLiteratura (06.01)
Golpe no teatro, atentado às liberdades - por Augusto M. Seabra in PUBLICO (07.01)
Desilusão no D. Maria II - por Miguel-Pedro Quadrio in DN (07.01)
TNDMII - por André e. Teodosio e Pedro Penim in teatropraga (07.01)
Da cultura 2 - por Eurico de Barros in Jantar das quartas (08.01)
Petições e erros - por João Gonçalves in Portugal dos Pequeninos (09.01)
Citações 1 (10.01)
Tira-teimas - por Eduardo Pitta in daLiteratura (11.01)
À espera do comboio na paragem do autocarro - por contra-abaixo in A grande loja do queijo limiano (11.01)
O desastre na cultura publica - por Augusto M. Seabra in PUBLICO (12.01)
Citações 2 (12.01)
Pergunta dramatica - por Eurico de Barros in Jantar das quartas (12.01)
Os saudosos de Carrilho - por Gustavo Rubim in Casmurro (12.01)
HIGHLIGHTS DA CULTURA - por Eduardo Pitta in daLiteratura (13.06)
Ainda a chatice dos saudosos de Carrilho - por Gustavo Rubim in Casmurro (13.01)
Eu até vou mais longe - por Gustavo Rubim in Casmurro (14.01)
Um teatro nacional - por Eurico de Barros in DN (14.01)
Vingar Antonio Ferro - por Eduardo Pitta in daLiteratura (15.01)
Citações 3 (19.01)
quinta-feira, janeiro 19, 2006
Este é o meu corpo - exposição
Este é o meu corpo
exposição colectiva - Instalação, Fotografia, Vídeo, Escultura, Performance
Museu dos Biscainhos, Braga
20 Janeiro - 20 Fevereiro
terça a domingo 09:30 - 17:30
comissariada por Antonio Rui Effe
com ana luandina, ângela mendes ferreira, carla gaspar & filipe rego, célia rodrigues, hélder pereira, joão acciaioli catalão, júlio dolbeth, m. joão calisto & jorge oliveira, nuno coelho, paula lopes, paula tavares, rogério nuno costa, rui effe
"Através do corpo, ficção cultural que opera transformações visíveis na esfera do ego, os artistas apresentam um outro eu, um alter-ego no qual o sujeito parece sentir-se mais à vontade do que no seu "próprio" corpo. Todos os trabalhos apresentados nesta exposição são auto-retratos realizados em diversas modalidades artísticas (instalações, fotografias,vídeos, esculturas, performances), que colocam em evidência problemasfundamentais da identidade, tornando o ego visível numa obra de artepessoal, íntima, feita sob medida e incorporada no próprio 'si'."
a exposição inaugura Sexta, 20 de Janeiro 2006, às 21h30, com performances de Rogério Nuno Costa e Sandra Andrade
informações enviadas por e-mal e da responsabilidade dos autores
Uma falsa questão?
Neste momento em França estão em cartaz 5 filmes de tematica gay: Brokeback Mountain, Odete, Reinas, George Michael: a different story e Le Bal des chattes sauvages. Mas a quem se dirigem este filmes? O jornal Le Monde lançou ontem a questão.
Le cinéma gay vise un public au-delà de sa communauté
por Isabelle Regnier
Avant sa projection à Venise, on parlait déjà du Secret de Brokeback Mountain comme du premier western gay. Depuis, on a su que ce n'était pas un western. Selon son distributeur, Philippe Hellmann, le film ne serait même pas spécifiquement gay : "C'est une histoire d'amour. Il se trouve qu'elle se passe entre deux hommes." Distribué en 130 copies, le lauréat du Lion d'or sort bien dans les deux salles phares de l'art et essai du marais, le MK2 Beaubourg et l'UGC Ciné-Cité les Halles, mais il n'est soutenu que par des partenaires médias "non gays" : Paris Première, Club Internet, Télérama, Libération... "Ang Lee est connu par un autre public que les gays, explique Philippe Hellmann. Je ne voulais pas l'enfermer dans cette catégorie, qui à mes yeux est secondaire en regard du film."
Réputée cinéphile, surinformée sur ce qui la concerne, la communauté gay n'aurait pas besoin d'une campagne dédiée pour aller voir un film précédé d'un tel "buzz". C'est ce que pense aussi Jean Labadie (Bac Films), distributeur de Crustacés et coquillages, comédie familiale sur fond d'amours homosexuelles, signée Olivier Ducastel et Jacques Martineau : "On n'est plus à l'époque où Fassbinder tournait La Loi du plus fort. Sortir un film avec des personnages homosexuels n'a rien de courageux. Et quitte à viser un large public, mieux vaut ne pas cibler une communauté. Les gens risquent de se dire : si c'est pour eux, ce n'est pas pour moi."
Réputée cinéphile, surinformée sur ce qui la concerne, la communauté gay n'aurait pas besoin d'une campagne dédiée pour aller voir un film précédé d'un tel "buzz". C'est ce que pense aussi Jean Labadie (Bac Films), distributeur de Crustacés et coquillages, comédie familiale sur fond d'amours homosexuelles, signée Olivier Ducastel et Jacques Martineau : "On n'est plus à l'époque où Fassbinder tournait La Loi du plus fort. Sortir un film avec des personnages homosexuels n'a rien de courageux. Et quitte à viser un large public, mieux vaut ne pas cibler une communauté. Les gens risquent de se dire : si c'est pour eux, ce n'est pas pour moi."
Ce discours s'applique mieux aux films politiquement consensuels et commercialement ambitieux qu'aux productions fragiles ou pointues. Reinas, Odete, George Michael, mon histoire et Le Bal des chattes sauvages, les quatre petits films gays qui sortaient mercredi 11 janvier, ont tous été lancés avec peu de moyens, en partenariat avec des entreprises et associations communautaires.
Pour Reinas, comédie espagnole de Manuel Gomez Pereira, Eric Vincent (ARP Distribution) a réparti son budget entre des médias neutres (Ouï FM et Ciné Cinémas), des supports latins (Radio Latina, Vocable...) et des partenaires gays (Têtu, Illico, Gayvox. com, le Syndicat national des entreprises gays (SNEG) et la soirée des Follivores)... "Je préfère, affirme-t-il, informer 3 000 personnes dans une soirée où je suis sûr d'avoir un taux de déperdition très faible que n'importe qui sur colonnes Morris, que je n'ai de toute façon pas les moyens de me payer..." Les stars du film, Marisa Paredes et Carmen Maura, ont par ailleurs été invitées par Pink TV, Radio FG, et à peu près tous les médias gays.
Le choix des salles est souvent crucial, à Paris du moins, car en régions aucune salle ne draine spécifiquement de public gay ou lesbien. Distributeur d'Odete, de Joao Pedro Rodriguez, Maurice Tinchant (Pierre Grise), qui aurait voulu plus de salles parisiennes pour faire connaître le cinéaste, doit se contenter du Racine et de l'incontournable MK2 Beaubourg. Pour O Fantasma, premier long métrage sulfureux de l'auteur, cette salle proche du Marais avait fédéré 16 000 spectateurs sur un total de 40 000. Selon Marc Mercier, programmateur des salles MK2, le film a d'abord marché pour ses qualités cinématographiques. "La communauté gay est cinéphile et exigeante. Elle s'intéresse à tous les cinémas. Qu'un film aborde un thème lié à l'homosexualité ne suffit pas à la déplacer." De fait, la notoriété du film avait été portée par les festivals (scandale à Venise, Grand Prix de Belfort), par la campagne de communication éclatée par son distributeur, Epicentre Films, entre médias cinéphiles et supports communautaires, et par une critique dithyrambique de Libération.
Reste que les festivals de films gays et lesbiens remplissent encore les salles, que le Festival du film de Berlin récompense chaque année, par le Teddy Bear d'or, son meilleur film gay, dont le récent développement de rayons gays et lesbiens chez les marchands de DVD a fait exploser les ventes. Chez Antiprod, Patrick Morin a ainsi vendu 60 000 exemplaires en cinq ans des DVD de sa collection "Courts, mais gays", compilations de courts métrages glanés un peu partout dans le monde. Autre éditeur DVD, Eric Kertudeau (Optimale) profite aussi de cette segmentation, mais sans s'en satisfaire : "C'est facile de vendre nos titres dans les rayons gays et lesbiens. Ce qui est dur, c'est de les amener chez Leclerc, Carrefour, là où on ne les attend pas, à côté de Hulk et de Shrek..." Mariant agressivité commerciale et militantisme, il arrive à ses fins en éditant, aux côtés de Presque rien de Sébastien Lifshitz, et de Yossi et Jagger d'Eytan Fox, des séries télé à succès, comme Clara Sheller, ou Les Chroniques de San Francisco.
Longe de estar encerrada a questão...
... lê-se:
A potência do teatro reside no seu arquétipo: uns diante de outros, partilhando entre iguais uma ficção. É um arquétipo democrático, um lugar de polémica sem espaço à demagogia que materializa uma relação vital entre raciocínio emocional e emoção raciocinada. A presença simultânea de espectadores e actores confere-lhe uma natureza não-mítica. Proximidade e complexidade fazem do teatro, apostado na decifração de enigmas e no debate dos problemas da "cidade", a arte não-instrumental por excelência. A chegada ao Dona Maria de uma hipotética via manipuladora da cultura teatral e populista, a verificar-se, será apenas mais um passo na regressão cultural em marcha. Mas o teatro é uma cultura fundadora das bases civilizacionais do mundo, não vai atrás do fácil (por vezes hibernando mesmo): os mitos gregos já problematizavam toda a nossa existência, como dizia Muller. Em As Aves, Aristófanes estigmatiza a relação da velha política com a corrupção. Recentemente, Luca Ronconi, o actual director do Piccolo Teatro de Milão, viu a sua Paz proibida por Silvio Berlusconi. Estas características do teatro não têm servido as "políticas" mais recentes, apostadas em formas dóceis, parateatrais, high-tech e manipuláveis, e no êxito popular mediático. O teatro é rebelde, não se ajeita ao "pronto a inovar" que deifica o efémero e faz tábua rasa do passado. E os problemas, agora que o copo de água parece transbordar, são muitos e extravasam a questão do D. Maria.
Fernando Mora Ramos, jornal PUBLICO, 16.01.6
[A entrevista de Carlos Fragateiro ao jornal Expresso (14.01),] oscila entre o puro ridículo e o patético. E augura o pior para a direcção do Teatro Nacional. Em primeiro lugar, a onda de contestação que a sua nomeação suscitou "não o incomoda nada". Fragateiro considera que as pessoas falam do que não sabem, que foi vítima de ataques por ter posto em cena uma peça do nosso actual ministro dos Negócios Estrangeiros e que os que neste momento o põem em causa são "um pequeno núcleo com gente significativa que tem acesso à comunicação social" e que possui um estatuto algo mafioso: "Gente que tem poderes que vão para além dos poderes visíveis à luz do dia mas que não representa a maioria da classe teatral." É inevitável, porque faz parte da condição humana: ninguém aceita que seja objecto de uma opinião negativa por motivos estritamente objectivos. Tem que se imaginar sempre um complot, uma conjura sinistra que se passa na sombra, nas catacumbas, longe da luz do dia. Porque, pensam, existem lobbies. Admito que existam lobbies, embora neste caso a diversidade e quantidade de pessoas tenha sido tão grande que estamos um pouco naquela hipótese borgesiana em que o mapa tem o tamanho do território que cartografa. Mas adiante: cada um escolhe as defesas de que precisa, e se estas consolam Carlos Fragateiro, admitamos que ele diga com um panache quixotesco: "Sinto-me no combate entre a ignorância e o conhecimento." De acordo, mas resta saber de que lado está.
Eduardo Prado Coelho, jornal PUBLICO, 18.01.06
Consumada a substituição de António Lagarto por Carlos Fragateiro no Teatro Nacional D. Maria e entregue no gabinete do primeiro-ministro a Carta Aberta subscrita por mais de 1800 cidadãos, será que há "caso encerrado"? Interessará à ministra da Cultura a insinuação de que estava em causa apenas a substituição de pessoas e eventuais interesses associados, quando o que se questiona sim, em termos processuais e políticos, é toda uma desorientação gravosa e a falta de ética e de conhecimento das coisas dos (ir)responsáveis da tutela. (...) Essa é uma questão gravíssima, ainda mais agudizada pelo flagrante desrespeito das bases programáticas com que o PS se apresentou ao eleitorado e do consequente programa do Governo. Manifestamente, a ministra não sabe responder à óbvia contradição com o disposto no programa, no sentido de avançar "para formas de recrutamento e actividade das direcções artísticas que as tornem menos dependentes da lógica de nomeação governamental directa e mais distintas das funções de administração". (...) Perante as novas dinâmicas e dados de ordem territorial, perante a flagrante incapacidade da actual equipa da Cultura de pensar o "funcionamento em rede" que até é trave-mestra do programa do Governo, não será tempo de reunir contributos e avançar para formas de mobilização, discussão e levantamento, de estabelecer um horizonte como uns Estados Gerais da Cultura?
Augusto M. Seabra, jornal PUBLICO, 19.01.06
terça-feira, janeiro 17, 2006
discothèque
Sábado / Saturday
21.01.2006
COMPACT DISCOTHÈQUE
Nuno Coelho (DJ Set)
3º Aniversário no / 3rd Birthday at Triplex
(Av. Boavista 911, Porto)
21.01.2006
COMPACT DISCOTHÈQUE
Nuno Coelho (DJ Set)
3º Aniversário no / 3rd Birthday at Triplex
(Av. Boavista 911, Porto)
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