quinta-feira, janeiro 12, 2006

A classe imobilista

Disse ontem a (ainda) Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, em cerimonia de tomada de posse dos novos directores e sub-directores dos Institutos seus dependentes: Artes, Cinema e Audivisual e Cinemateca: "é natural que num regime democrático uns cidadãos concordem com as medidas tomadas e outros não" (DN), "acrescentando que este tipo de contestação é frequente em vários sectores, ao contrário do que acontece no da Cultura, 'menos habituado a agitações' e 'porventura imobilista'" (PUBLICO). à noite, em entrevista ao Magazine, na RTP 2, a Ministra insistia que "Portugal não [era] so Lisboa" e que tudo isto eram atitudes do "lobby de Lisboa". Gaguejando, la reafirmou continuar a ter o apoio do Primeiro Ministro. E acabou por pedir tempo aos agentes culturais, uma vez que tinha um plano e ainda estava no inicio da legislatura. (aqui outra opinião de quem também viu a entrevista) Leiam-se então alguns exemplos dessa "classe imobilista" e do lobby lisboeta que não lhe da tempo:

N° de assinaturas, ds mas diversos sectores culturais, às 11h36 na petição Queremos um Ministério capaz: 1480;

Opinião de Eunice Muñoz, que raramente toma posições publicas, lida ontem, no final do espectaculo A Profissão Mais Velha, no TNDMII: "Que critérios fazem decidir este Governo a atirar [Carlos Fragateiro] para a direcção artística (...), uma irreflectida decisão, esvaziada de ideias, de enunciados demagogicamente populistas e de qualidade questionável?" (via PUBLICO);

Comunicado da REDE - Plataforma para a Dança Contemporânea, que congrega mais de 2à estruturas e criadores de dança: [a substituição de António Lagarto na direcção artística do Teatro Nacional D. Maria II é] "apenas mais um sinal do total afastamento do Ministério da Cultura [MC] do programa do Governo e de uma postura inconsequente, prepotente e pouco dialogante", [espera-se do Primeiro-Ministro, em relação aos varios atrasos e problemas] "uma reacção urgente e consistente para que não seja desperdiçado todo o investimento financeiro feito pelo Estado na Cultura e todo o trabalho realizado pelos agentes culturais nos últimos anos". . (via PUBLICO);

Zita Seabra, editora da Alethea, e deputada pelo PSD: "O traço mais característico é a inexistência de uma política cultural", [a equipa do Ministério da Cultura não têm a] mínima ideia do que já fez, do que está a fazer ou do que vai fazer no futuro" (via PUBLICO);

Augusto M. Seabra, critico: "A cultura é um conjunto de tradições e dinâmicas, e muito mal estaríamos se ela dependesse exclusivamente da acção do Estado. Mas as fragilidades do tecido cultural em Portugal obrigam a uma acção pública particularmente atenta, e com tanto mais garantias de isenção, e não continuadas práticas de intervenção ao sabor de cada governo e dos interesses associados. [...] Não se trata de uma específica defesa do actual director do Dona Maria, mas de uma posição de princípio, a qual se tornou já no movimento mais abrangente de que há memória, como se constata nas mais de 1200 assinaturas, e na presença de autores e quadros culturais provenientes de praticamente todos os sectores. É um movimento cívico, tudo menos corporativo. [...] É tristemente revelador da estreiteza de horizontes dos responsáveis da tutela que na sua engasgada conferência de imprensa o que tenha antes de mais transparecido é a obsessão com o vencimento do director do Nacional enquanto presidente de uma sociedade anónima, em lugar de, como lhes competia, terem trabalhado para um novo quadro institucional em vez desta absurda situação de um Teatro Nacional ser uma SA. [...] Isabel Pires de Lima é um monstro de incompetência. É politicamente óbvio para toda a gente que na primeira ocasião a ministra sairá. Mas, entretanto, que consequências advirão de continuadas estagnações e usurpações ou novas nomeações? Como se pode permitir que "o somatório de contradições, desconhecimentos, desrespeitos e incompetência" faça também ressurgir inadmissíveis quadros de acção, para "ao serviço do povo" moldar os gostos e as opções e direitos culturais? Como e até quando?" (via PUBLICO. Mais aqui.)

2 comentários:

vvoi disse...

Sao poucas as vezes em que concordo com o Augusto Seabra como agora.

Anónimo disse...

A entrevista da ministra ontem na rtp2 foi hilariante. ela não conseguiu esconder que não sabe o q anda a fazer. gaguejou o tempo todo, principalmente sobre o caso teatro nacional. será que vai ter a cara de pau de esperar que o sacrates a demita ou vai ter a dignidade de se ir embora?