1. A minha ideia sempre foi dar continuidade e sentido ao grande investimento que o Estado faz na rede nacional de cineteatros, muitos dos quais já têm equipa, equipamentos e programadores, embora lhes falte uma coisa essencial, que são conteúdos.
2. Estrategicamente, a grande aposta do Estado tem de ser o incentivo à criação de conteúdos. Em linguagem informática, é preciso arranjar «software» para os muitos computadores que existem pelo país fora.
3. O meu projecto e o projecto do Ministério da Cultura faz sentido para um país com poucos meios financeiros mas que tem de actuar com o pouco que possui. Na práctica, aquilo que proponho é que a instituição deve estar ao serviço dos artistas e dos seus projectos pessoais, precisa sim de princípios que tenham a ver com o país, que intervenham na sociedade e tenham sentido de utilidade pública. A cultura tem de estar ao serviço do desenvolvimento.
4. Em termos sociais, a minha preocupação é que o grande défice é o da inteligência e da sensibilidade. A grande luta é a da invenção. Um teatro tem de trabalhar ao nível da inteligência e da sensibilidade, tem de ser um laboratório de novas formas de vida, de novos modos de olhar o mundo, de novas ideias.
5. Tudo o que faço se baseia em quatro triângulos. Um pequeno triângulo que liga a matemática à língua e à música, que são os instrumentos e as disciplinas de treino do cérebro, que quando se alargam a uma dimensão superior formam o triângulo do conhecimento – arte, ciência e filosofia. Esse triângulo, em termos sociais, traduz-se na memória do passado, na capacidade de intervir no presente e de ficcionar o futuro, acabando naquilo que inquieta o Homem, que é o que se passa no Universo, o que se passa dentro de nós ao nível do cérebro e o que se passa no centro da Terra, tudo coisas que desconhecemos totalmente.
E onde é que fica o Teatro Nacional?
Juntando estes quatro triângulos, proponho uma programação centrada no conhecimento. Quero que sintamos que, no Rossio, aquela casa faz um teatro que vai à memória buscar de volta os clássicos, que conseguem falar além do seu tempo. E, simultaneamente, pretendo que o D. Maria seja capaz de intervir no mundo de hoje. Em Portugal, temos de enfrentar a nossa relação mal resolvida com África, sobre a qual começam a aparecer, timidamente, alguns textos a que é preciso dar voz. E temos de encarar de frente a emigração e a multiculturalidade. O D. Maria será a casa da dramaturgia portuguesa, no sentido em que é urgente falar-mos sobre as nossas histórias e as histórias dos outros num espaço de questionamento.
6. para conseguir desenvolver projectos que abordem temáticas emergentes terei no D. Maria uma equipa multidisciplinar, vinda das várias áreas do conhecimento, que regularmente vá reflectindo sobre as grandes questões que atravessam o mundo e que têm de ser trabalhadas a nível de ficção. (...) Teremos permanentemente um observador a circular pelo mundo, na Internet, que nos irá fazer um relatório semanal sobre o que se produz a nível mundial no universo dos espectáculos de teatro e da dramaturgia internacional contemporânea.
7. Foi esta proposta que apresentou ao MC?
Exactamente, foi esta a proposta provinciana e retrógrada que apresentei. (...) Sinto-me no combate entre a ignorância e o conhecimento. Estou no interior desse combate e de uma forma muito intensa.
A entrevista a Carlos Fragateiro, da autoria de Alexandra Carita, publicada no jornal Expresso do passado dia 14.01.06 esta disponivel para leitura integralmente no Pancada de Moliére.
Sobre o "caso Nacional" ler aqui.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
Já tinha mandado esse expresso para o lixo. que bom voltar a ler isto. ainda me parece mais absurdo lido no ecrã. o papel e a referência que é o expresso atenuaram a barbaridade que foi esta entrevista.
atenção, não é falar-mos, é falarmos.
fragateiro disse: "Sinto-me no combate entre a ignorância e o conhecimento"
isso é verdade, mas ele está incontestávemente do lado da ignorância.
será que os triangulos são daqueles do snooker? Um Verdadeiro Teatro-Feira Popular tem de ter diversões para captar públicos, certo?. Eu gostava de ver Gil Vicente versão gameboy, musical morangos com açucar, malucos do riso no salão nobre, e cyber café no foyer para que os visitantes viagem pelo mundo a conhecer a dramaturgia internacional. É comovente assistir a uma convergência ideias tão genial. até dá falta de ar. que génio! quando for grande quero ser assim.
sabem aquele espaço do euronews?
"no comments"
Este senhor é aquele que quer actores da Globo, ou da TVI ou de qualquer parte...quanto ao texto ele não precisa realmente de o conhecer, le a sinopse. De preferencia que gaste pouco dinheiro e melhor se o produtor ainda injectar algum. Não tem qualquer pudor em faltar com a sua palavra, promover mau teatro e sugerir elenco "bastante popular". Basta por os olhos na programação anunciada para o Trindade. Chega de amadorismos, ele que fique onde está que está bem...
O que é que esse senhor anda a fazer? é da família do cavaco. cala-se e pod ser que engane alguém...
Enviar um comentário