quinta-feira, setembro 30, 2004

porto II

o calor parece que esta a abrandar. a internet e que continua a ser um problema. este nem sequer tem acentos.

a pedido de varias familias vou mudar o sistema de comentarios. preciso de conselhos e sugestoes sobretudo para nao perder os comments que ja existem.O que e que utilizam nas vossas casas?

e para quem ler este blog e estiver na zona do porto (e nao so) e favor irem a serralves antes de domingo. as exposiçoes sao fantasticas. posts a desenvolver qd voltar a lx.

ultima nota: o boss existe. eu vi-o.

terça-feira, setembro 28, 2004

porto

bem, ainda não consegui encontrar um posto de internet que me permita abrir as páginas como deve ser. assim sendo a edição especial "prémio poética do quotidiano" (que esta semana será dedicada em exclusivo a blogs/bloggers do Porto) está em suspenso até descobrir esse computador como deve ser. Malditas lojas da PT.

está um calor enorme nesta cidade.

segunda-feira, setembro 27, 2004

A lei dos amantes (37)

Fingir que se espera é uma arte.

domingo, setembro 26, 2004

A Padeira eviscerada

Análise ao espectáculo DAS PADEIRAS DE ALJUBARROTA com direcção artística de Marina Nabais e Rogério Nuno Costa e encenação de Rogério Nuno Costa


Talvez importe esclarecer que uma análise de espectáculo é sempre uma tentativa de aproximação entre o discurso do criador e a recepção do espectador. Ou seja, quem analisa tem a responsabilidade de ir buscar ao espectáculo as linhas que possam dar conta das intenções – e suas consequências - a quem o vê. E, com isso, desenvolver uma zona de confronto de pontos de vista e posições que têm como objectivo o enriquecimento dos espectáculos. Um espectáculo não termina quando as luzes do público se acendem e muito menos pode ser avaliado com um indiferente “gostei” ou “não gostei”. Qualquer posição que se tome sobre o que se viu vai sempre influenciar as próximas criações dos autores assistidos. Na mesma medida em que todos os espectáculos são biográficos, já que expressam as posições dos seus criadores sobre o tema e o seu tempo (mesmo em espectáculos de época). A construção de um objecto artístico não pode ser encarada – quer pelo seu autor, quer pelo espectador – como algo inconsequente e que se encerre em si mesmo. Ainda que essa seja a sua intenção. Em última instância, quem analisa escreve para si.

Feito este prêmbulo, convém entender que as propostas lançadas por Marina Nabais (MN) e Rogério Nuno Costa (RNC) não pretendem apresentar conclusões ou defender teorias. E daí resulta a dificuldade em apreender a totalidade das suas propostas. O que se passa dentro do espaço cénico obriga o espectador a prolongar essa visão depois de sair e confrontar o que viu com o que pensa sobre o assunto. São, por isso, espectáculos partilhados e partilháveis. Ainda que profundamente individuais.

DAS PADEIRAS DE ALJUBARROTA (DPA) assume essa posição artística, defendendo a «estetização teatral daquilo que pode ser uma investigação ou um estudo à volta de uma personagem». No caso, a personagem abordada está envolta em ambíguas histórias. Fazendo parte do imaginário popular – do patriótico, sobrelevado e glorificante imaginário popular -, pouco se sabe sobre esta mítica figura, defensora de Portugal e mulher do povo que, com a sua pá, meteu no forno uns quantos espanhóis e ditou o fim da Idade Média em Portugal. Sabe-se que existiu mas não se sabe se com dois metros de altura, seis dedos, feia e matrona ou se não estará mais para David. O que se sabe é que da batalha de Aljubarrota nasceu um mito. E isso, num país que sempre se preocupou mais com a fantasia do que com a realidade é dizer muito acerca de uma figura.

O espectáculo de MN e RNC propõe uma revisitação desse mito a partir dos elementos que o construíram. Ou seja, procura o resto de verdade que existe em cada uma das mentiras que atravessaram o tempo e se impuseram como certas. Assim, o mais estimulante não passa por aquilo que apresentam, mas antes por aquilo que convocam para tratar o tema. É um duplo exercício de reconhecimento. Procedem assim a um espectáculo–ritual de convocação/evocação do mito, testando, nas suas mais diversas cambiantes, as possibilidades de reflexos de verdade. Insistem assim numa repetição ad nauseum de certos movimentos ou expressões de forma a que essa repetição possa aclarar e identificar a verdadeira padeira de nome Brites.

Esta tese teatral, «à grande e à portuguesa» é, então, um espectáculo de destruição de conceitos sem nunca se apropriar deles. E isso obriga a que o público se predisponha a abandonar os modelos performáticos confortáveis e se sujeite a assistir a todo o processo de forma a que este se possa concluir. Não há um espectáculo durante. Há um espectáculo que sucede depois. Um espectáculo que se encerrará, de forma circular, de modo a permitir uma constante revisitação desses mesmos conceitos.

Será por isso que, para lá dos momentos teatrais, DPA se fosse uma pintura estaria mais para a versão das "meninas" feita pelo Picasso do que para o original de Velásquez. Nota-se um sentido esforçado de tornar universal uma série de valores, não por imposição dos mesmos mas por hipótese/reacção/confirmação.

O espectáculo desenvolve-se a partir do corpo de três bailarinas/actrizes que se apresentam como padeiras (umas mais que outras a carregarem certos movimentos e expressões próprias do universo corporal de RNC) e quer-se dividido em dois tomos. «Porque é o número da mulher, e porque é o número do diabo». Na primeira parte, o trabalho de luzes de José Álvaro e a cenografia de F. Ribeiro encontram um ambiente aquecido e quase oriental (que advém da arte marcial qi gong utilizada nos movimentos), em que as intérpretes se apropriam literalmente de todos os elementos que possam permitir a convocação da padeira Brites, propriamente dita. É por isso de assinalar que o facto de se tratarem de três intérpretes imediatamente convoca à memória as bruxas de Macbeth. Assiste-se, assim, a um ritual de chamamento que, no entanto, se aproxima mais dos ritos funerários egípcios que do paganismo comum à época histórica da batalha.

Se, por momentos, podemos considerar que a padeira de Aljubarrota se assemelha a uma Joana d’Arc enlouquecida pela voz de um Deus que a incita a lutar, depressa nos apercebemos, como bem identificou Ana Isabel Vasconcelos na sua tese sobre o drama histórico e o papel do teatro na construção dos mitos, que se trata, sobretudo, de uma mulher ultrapassada pelos acontecimentos e as verdades deles decorrentes. «Parece que o lá fora não corresponde ao lá dentro», diz uma das padeiras. E na verdade assim é. Esta padeira (a Brites) está aprisionada entre o mito e a verdade e assim persistirá até que se encontrem outros mitos e outras verdades. Neste país de ilusões, nada poderia fazer mais sentido que um espectáculo que explore o que já temos por adquirido e nos devolva “o corpo” carregado de novas dúvidas.

Este dispositivo permite concluir que aquilo que nos é apresentado pode ser classificado de evisceração. Ou seja, o processo que era utilizado para retirar aos corpos dos faraós os órgãos e outros componentes de modo a permitir a mumificação. A colocação dos “orgãos” da padeira no centro do palco e nas actrizes – pão, pá, leite, farinha, saca de farinha – possibilitará um reconhecimento exterior por parte do espectador que, se numa primeira leitura o leva a identificar a padeira, logo depois permite a estilização até à abstração.

Portanto, o que se propõe é que os elementos identificáveis sirvam de guia de segurança para um espectador suspenso no lirismo da proposta e que os transportem, depois, para a segunda parte do espectáculo. Nesta fase, os adereços cénicos (chão laranja, bancos de madeira, castiçais) são substituidos por outros idênticos mas contemporâneos. E os figurinos de Iñaki Izoilo assumem essa contemporaneidade transportando a farinha com que as actrizes se mascararam – uma máscara que as torna iguais e, arriscando ir mais longe, permite o tal nivelamento atemporal desejado, da mesma forma que reporta ao pão sagrado e à razão das lutas, a posse das terras férteis – para o corpo delas. Vestidas de branco as três intérpretes passam de padeiras to be a objectos mutáveis. Depois de explodirem na sua sexualidade (Deus versus Diabo), ausentam-se de si mesmas e deixam-se utilizar como se um boneco se tratassem.

Será no momento em que as três “bonecas” mimam uma série de situações pretensamente performáticas – as actrizes lêem de um caderno indicações de movimentos que devem cumprir, executando-os sem procurarem uma intenção ou emoção – que mais se sente o peso da assinatura de RNC. Imediatamente se recorda o seu anterior espectáculo ACTOR e a vontade de querer significar somente o que se apresenta. Se uma actriz veste umas calças, a actriz veste as calças. «Simbologia prefiro dizer que não há», diz uma delas. Há, de facto. Cada uma dessas sequências transmite uma ideia de contributo para um puzzle que se começou a construir desde o início e que, como já se disse, resultará para cada espectador num espectáculo diferente. No final desta sequência, MN veste-se de casaco curto, top de alças e cuecas (tudo branco) e sobe a um banco em pose de santa, noiva, vencedora dos Jogos Olímpicos, miss, diva... e diz «Eu é que sou a Padeira de Aljubarrota». Assume-se aqui a ideia universal – um tanto pop e superficial, mas adequada a estes tempos de neo-heróis – de que existe uma padeira em cada um de nós. Basta querer.

E é esse aspecto da crença que transforma DPA numa proposta estimulante, ainda que registe alguns desequilibrios na forma como a trabalha (o vídeo e a banda-sonora são dois deles, especialmente porque o primeiro não denota uma evolução de God Knows Whati! e o segunda mima o rigor da utilizada em ACTOR). Trata de uma crença naif no que isso representa de aceitação como verdadeiros os elementos sobre a história da padeira Brites que chegaram até nós.

O momento em que mais se sente essa crença acontece em duas fases: 1) quando se ouve em off as actrizes à procura dos fornos da padeira (o facto de ninguém saber onde se encontram aumenta a ideia de mito e estimula a especulação) e nas lenga-lengas e canções populares transformadas em «mediavalês», essa "língua” inventada em que elas se entendem. Isso acontece porque sabemos que entrámos no campo da ficção.

O que mais satisfaz em DPA é compreender que ao ridículo da explicação se pode associar toda uma vontade de perpetuar um ideal, um conceito, um mito. Aos criadores de DPA pouco deve importar se a padeira Brites existiu ou não. O que importa é perceber que se trata de «uma construção histórica idealizada, referencial, muitas vezes parodial, de uma Idade Média que ainda esconde muitas das razões que durante séculos fomos e do que ainda ostentamos».

Uma última nota, bastante clara sobre as mitificações: a Câmara Municipal de Batalha recusou apoiar o espectáculo, com base numa necessidade de proteger a história, tal como aconteceu. Ora, o que é que aconteceu com a Padeira de Aljubarrota? Alguém sabe? Nem de propósito, o espectáculo estreou na Festa do Avante, essa coisa mítica de um partido quimérico.

DAS PADEIRAS DE ALJUBARROTA


Direcção artística: Rogério Nuno Costa e Marina Nabais Encenação: Rogério Nuno Costa Interpretação: Marina Nabais, Ana Gouveia, Eleonore Didier e Tonan Quito (participação especial) Composição musical: Tiago Cerqueira Vídeo: António Cabrita Desenho de luz: José Álvaro Cenografia: Fernando Ribeiro Figurinos: Iñaki Izoilo

Co-Produção: A menina dos meus olhos / Festa do Avante
Estreia: 03 de Setembro
Apresentações: 03 e 05 (Festa do Avante), 10 a 12 (Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão), 23 a 25 Setembro (Hospital Miguel Bombarda, Lisboa)

sábado, setembro 25, 2004

adeus e até ao meu regresso



Jude Law
(retirado daqui)

dilemas

Como vai o clã Soares aguentar o embate dos resultados socialistas?

Pai Soares: Sim, o rapaz é meu filho, mas eu é que sou o fundador. Mas afinal, será que já não me ligam nenhuma? E este rapaz quando é que acerta?

Filho Soares: Ora, que vou eu fazer? Já sobrevivi a um acidente de avião, edito livros em linguas incompreensíveis, perdi eleições, faço-me de vítima como ninguém... Será que tenho que fazer um partido? E se eu mentisse na filiação?

última chamada

Avisam-se os interessados que ainda há inscrições para o Workshop de Produção Criativa a decorrer no Porto a partir de segunda feira e orientado por moi même.

E depois não digam que não avisei.

Maria Félix

para a Marina Nabais enquanto se prepara a análise ao espectáculo Das Padeiras de Aljubarrota




poética do quotidiano (XXI) ex-aequo

Como amanhã não vou poder, na certa, vir à atribuição habitual dos prémios, fica já anunciado o vencedor. São dois, na verdade. Primeiro o Dinis, do Me, myself and I e depois o João do Such beautiful poses. Que até poderiam ganhar quase todos os dias já que só escrevem sobre o quotidiano e fazem-no maravilhosamente.

O Dinis anuncia assim:

...

Fazer a mala para ir passar o fim-de-semana a Sines ou preparar-me para uma festa do tupperware é, no fundo, a mesma coisa.

E o João confidencia isto:

Fait-divers.

A cozinha da infame casa onde vivo (quero mudar-me! quero mudar-me!), fica na parte de trás do prédio, divisão onde, para além de cozinhar e comer, também se pode trocar informações com os vizinhos à janela. Pelo menos, é o que duas moradoras gostam de fazer às 7h30m da manhã. Com mais ou menos sono, tenho a felicidade de tomar o pequeno almoço a esta hora e comover-me com a vida destas duas. Uma chama-se Dona Esmeralda, e a outra Dona Genoveva, e embora nunca tenha contacto visual com nenhuma, já me sinto absorvido nas suas vidas. Os nomes próprios prometem, não é?A Dona Genoveva ganha com facilidade à Dona Esmeralda no que toca à vida-mais-triste. Com efeito, ontem deu os bons dias com uma voz muito triste e disparou logo: “Olhe Dona Esmeralda, tenho um problema na válvula.”É o meu programa da manhã. Não resisto a abrir a janela para ouvir o ritual matinal. Pronto, agora acho que me abstenho de contar os problemas que a Dona Genoveva tem com o filho.


prioridades

Essa coisa absurda que responde pelo nome de Morais Sarmento disse assim numa entrevista já não sei para que telejornal, a propósito da não colocação de professores:

«- Primeiro temos que pedir sinceras desculpas, não aos professores, mas às famílias e aos alunos. Pedir desculpas pela alteração das suas vidas. Depois, sim, aos professores. Mas as famílias preocupam-nos muito»

Hã???!!!

poética do quotidiano (XX)

Atendendo ao facto de estar em mudança de casa (coisa que tratarei com mais afinco quando se concretizar), leio, com atraso (o post é de quinta) o desabafo da Sara Cacao, autora do Cacaoccino e vencedora de hoje. Percebo-a perfeitamente. Depois de se sofrer que remédio temos senão gostar do sítio onde moramos?


FECHADA PARA OBRAS...

Obras em casa e quem não as teve?! Estou desde as 9h literalmente fechada para obras, passo a explicar, presa em casa. Uma hora e meia da hora marcada chegaram dois senhores aos quais gentilmente indiquei os três problemas que teríamos que desembolsar do nosso próprio bolso caso tardassem mais em vir porque a casa está a perder o seu cordão umbilical com a construtora e quase a completar cinco aninhos de existência. Todo um mimo se não fosse umas rachas estranhas nas paredes, uma infiltração no soalho de madeira e uma casa de banho com um autoclismo que se julga uma fonte de água natural que pode jorrar para fora a qualquer hora do dia, e sem aviso prévio, ora vejam bem!Há pouco sairam para almoçar e depois ainda iam terminar um trabalho a Carnide - no ponto oposto onde me encontro, mas quem não me manda morar Carnide?! -, só depois e mais à tardinha voltariam para verificar se ficámos com um autoclismo-barragem, i.e., que só faz descargas quando as tem de fazer, e se possível para dentro da retrete e não para fora porque as casas de banho não são ribanceiras, ou pelo menos a nossa!Quando terminarem o trabalho irei vingar-me e sair quicá ao cinema, cantando o downtown da Petula, lá para o centro de Lisboa e bem longe de Carnide[!]

Amanhã é sexta que bom...

tradição

Uma das primeiras coisas que publiquei neste blog tinha a ver com os Castro que fazem as luzes de Natal da maior parte do país.

Pois, ainda andamos a morrer de calor e as luzinhas começaram a ser instaladas esta semana.

Por este andar o Pai Natal, este ano, chega de calções.

intervenção urbana (?????)

O Pedro mostra algo muito estranho que está espalhado pela cidade de Lisboa. Já foi visto na rua Alexandre Herculano com a rua Castilho, na esquina da rua do alecrim com o largo duque da terceira, ao cais do sodré e Rossio. Que raio querem eles dizer com chão babado? É que, de facto, à volta da coisinha está uma espécie de resíduos de cera branca.


sexta-feira, setembro 24, 2004

poética do quotidiano (XIX)

Hoje a coisa é actual, politizada e pornográfica. Eis o aviso do Animal do Blog dos Marretas:

OLHEM PERDI A VERGONHA

Pela primeira vez neste blogue, vou meter uma imagem pornográfica num poste.



Eu sei que é chocante. Não deixem os miúdos olhar.Desculpem. Mas não resisti.

serviço público

Aqui ao lado, os Enresinados têm um post habitual que dá pelo nome de As piores capas de discos de sempre. É o verdadeiro serviço público.




Para que os erros do passado não se repitam.


o outro lado do espelho

a história horrível da morte da Joana, assassinada, ao que parece, pela mãe e pelo tio (só ainda não percebi se é irmão ou cunhado da mãe) deixa sem palavras qualquer um. sim, pelo que consta estavam em causa 20 € e a miúda foi espancada até à morte e enterrada em parte incerta. claro que agora ninguém viu nada, sabe nada, ouviu nada.

O que mais impressiona, de facto, é o comportamento da mãe ao longo destas semanas e a forma como foi tratada pela comunicação social. Entrevistas, directos, pedidos de auxílio, choros e longas reportagens. Mas era tudo encenado. A mulher do campo, simples e perversa, enganou tudo e todos. Comunicação social incluída.

Mas ainda não ouvi a imprensa fazer um mea culpa pelo empolamento do caso e assumir que não investigou a fundo a história. Agora que outros dados começam a chegar, ouço em todo o lado o simples relato das investigações da PJ e não a habitual correria pelo exclusivo. O exclusivo houve antes. Em frente ao país, em directo nos telejornais, lavados em lágrimas.

Foi ou não um "caso maior" pela forma como foi tratado pela comunicação social?

E nós a acharmos que se deu na televisão é porque é verdade.

Pobre Joana que serviu de exemplo.


quinta-feira, setembro 23, 2004

oprah

É impossível não se ficar preso ao programa de Oprah Winfrey. A mulher sabe-a toda. E não esconde. Qualquer intenção de o reproduzir cai num mimetismo inútil e absurdo. Deve haver todo um mecanismo que nos leva a comprar aquilo de olhos fechados, por mais tele-basura que seja. O mesmo sentimento que se teve ao ver a Madonna no Pavilhão Atântico. Como é que podemos iludir-nos nestas coisas? caramba, os gajos são mesmos bons. Mesmo que sejam maus ou não se goste.

Li na Telenovelas desta semana que a Oprah tinha sido violada aos 14 anos 3 vezes; que lhe tinha morrido a mãe; quee o pai a educara; que a avó a suportara... [o que dá novo e pesado sentido à sua interpretação na Cor Púrpura]. Julguei que não passava de investigação tabloidiana. E ontem, vejo-a a tratar de um programa sobre "sedução sexual" (a expressão é dela) em menores. Ou seja, abuso consentido de menores. Um treinador de 40 anos e uma rapariga de 13, que dava novo sentido à Lolita. E a meio da conversa com a miúda, diz a Oprah qualquer coisa assim: "como toda a gente sabe eu fui abusada três vezes quando tinha a tua idade... e também achava que estava apaixonada. E aos 40 anos fui ter com o meu pai e disse-lhe que não poderia continuar a ir a casa dele se o irmão, que foi um dos meus molestadores, lá continuasse... porque se uma menina de 14 anos andar nua pela casa é obrigação do adulto dizer-lhe que se vista". Caiu-me tudo.

Qualquer coisa parecida em Portugal e seria tudo lavado em lágrimas. Aqui foi só mais um momento. E que momento. Estou fã! E já percebi o fascínio.



Go Oprah go!!!

das padeiras de aljubarrota (estreia em lisboa)

aqui se deu conta da estreia do novo espectáculo de Rogério Nuno Costa e Marina Nabais DAS PADEIRAS DE ALJUBARROTA. Depois da apresentação na Festa do Avante e na Casa das Artes de Famalicão, estará em cena de hoje a sábado, às 21h30 no Hospital Miguel Bombarda.

"Uma tese sobre o 'girl power', à grande e à portuguesa", dizem.

fotos de ensaio



Encenação: Rogério Nuno Costa Direcção artística: Rogério Nuno Costa e Marina Nabais Interpretação: Marina Nabais, Ana Gouveia, Eleonore Didier e Tonan Quito (participação especial) Composição musical: Tiago Cerqueira Vídeo: António Cabrita Desenho de luz: José Álvaro Cenografia: Fernando Ribeiro Figurinos: Iñaki Izoilo

poética do quotidiano (XVIII) ex-aequo

Hoje decidi que a coisa não podia ser só para um. E também que não seria de hoje, mas de ontem. Não pela falta de qualidade dos poetas por aí espalhados [até parece que se andam todos a fazer aos prémios], mas pela forma como se complementam. Ou os complemento eu. Adiante.
Devem ser lidos por esta ordem, que não está a indicar quem recebe primeiro e depois. É mais por uma questão de organização. Depois prometo dar aos dois vencedores de hoje prémios individuais.
Então aqui vai.

Primeiro o Boss, do Renas e Veados. O inevitável, polémico, atento e fascinante Boss. Que se queixa assim:

Dia Europeu sem o quê?

Carros! Foi difícil notar essa ausência, aliás, hoje quase ia sendo atropelado no Porto - andam sempre a trocar os sentidos às ruas... De resto muito calor, muito ozono (o-zone?), muito fumo.. e custa-me ver o horizonte da minha vida académico-profissional. Amanhã começo mais a sério a busca por novo emprego (estou mesmo farto de servir cafés).
Entretanto o país continua a aguardar as colocações de 50 mil professores! A tal empresa de ex-ministros do PSD que era suposto tratar do assunto deve ter contratado os funcionários que
contaram os votos nas últimas autárquicas em Lisboa - só pode. E o governo ainda não sossegou os trabalhadores da refinaria de Matosinhos... é isto o combate ao desemprego?
No Iraque morre-se a torto e a direito, e na América Bush lidera as sondagens, será pelo facto do
candidato-que-não-Bush ser um tótó? O renas tinha avisado, Howard Dean was our man! Não nos ligaram...
Para concluir e voltando ao tom quase-intimista com que começou o post, coisa que há muito não se via por aqui, mas hoje apetece-me abrir o coração ao mundo. Cumpre assim dizer que pior que a minha vida académico-profissional, só mesmo a minha vida amorosa, que tão depressa vê uma luz ao fundo, como logo se apaga a chama.. Para isto ficar mesmo intimista até pensei em dizer há quanto tempo... Mas não quero destruir o mito da "
promiscuidade gay" - se não há proveito, valha-nos a fama! É que hoje nem o meu FCP para animar.. Ó Victor Fernadez, ser guapo não chega, e empatar também não, mi entiendes? E agora se me dão licença, vou dar corda aos sapatos*!

[links, explicações e comments no blog dele]

E depois o Pedro. Ou o lado esquerdo do Pedro. E num blog que mais do que ser ambíguo é fascinante pela forma despretensiosa como se descreve. Que, pela forma como deu a sua receita (mesmo para mim que não como beringelas ou queijo) faz descansar qualquer alma mais angustiada como a do Boss. Quem, sem tempo, ainda vem à net partilhar uma receita para os dias mais difíceis, merece ou não merece um prémio? Mãos na massa então:

Rolinhos de beringela com queijo

Cortam-se 2 beringelas em fatias finas, no sentido do comprimento. Na picadora, misturam-se 200 g de pão de milho, 100g de bacon (quem não come carne, tirar!), 150 g de legumes cozidos, 2 ovos e 2 c. sopa de ervas aromáticas. Tempera-se com sal e pimenta qb.
Coloca-se este recheio em cada fatia de beringela, enrolam-se e distribuem-se num tabuleiro.
Rega-se com 3 dl de molho de tomate (ou bechamel), passas (opcional) e cobre-se com fatias de queijo mozarella.
Vai ao forno a gratinar, 15 a 20 minutos.

Nota: A disponibilidade para a cozinha tem sido pouca, ultimamente. Esta é fácil e rápida, e sabe sempre bem com uma salada!

[a foto está no blog dele. bem como os resultados deste conselho]

quarta-feira, setembro 22, 2004

poética do quotidiano (XVII)

O vencedor de hoje não é um, são dois; não escreveu um post, reciclou; incluiu fotografia por insistência; soa a coisa muito pensada e não é original; e é enorme, pelo que só vou postar um bocadinho. Ainda assim é maravilhoso. E mais, podemos lê-lo ao mesmo tempo que se ouvem os The Smiths. O que é que queria mais? Eis o Bruno do H2omens:

Já não estás na Faculdade

(...)

"Os sinais de que já não se está na Faculdade acontecem quando...

1 - Fazer sexo numa cama de solteiro é um absurdo;
2 - Há mais comida do que cerveja no frigorífico;
3 - 6:00 da manha é quando acordas e não quando vais dormir;
4 - A tua música favorita toca num elevador;
5 - Levas sempre um guarda-chuva e dás a maior importância à previsão do tempo;
6 - Os teus amigos casam-se e divorciam-se em vez de começarem e terminarem;
7 - As tuas férias caem de 130 para 22 dias por ano;
8 - Jeans e T-Shirt já não são considerados roupa;
9 - Chamas a polícia porque o filho do vizinho não baixa o som da música;
10 - Já não sabes a que horas as roullotes fecham;

(...)

o estado deste blog

pois para que conste que se eu tivesse que me justificar com alguém, este blog estaria em estado de sítio. a desorientação é bastante e venho cá para escapar da bulimia que é o quotidiano. daí isto ter a mesma função que um guardanapo de papel no mais regular dos jantares familiares. se não houver, depressa resolvemos a situação e passamos a boca por água. por isso, aos que vêem cá espero que não se importem de comer umas invenções a partir de restos e não o habitual manjar. prometo que quando me mudar a coisa melhora. para já estou muito ansioso e irritado e sem net em casa e sem água nos canos e farto de inquéritos de rua e com uma puta de uma dor no ombro direito!!!

posto isto, fui!

marilyn, tu é que a sabias toda



foto roubada ao Mindtrap

o bode expiatório

porque será que ninguém fala das vidas afectadas dos mais de 50 mil professores não colocados? Será que na escola só há alunos? Diz o Pagan e com razão: Mantendo a educação assim, será possível educar alguém?

terça-feira, setembro 21, 2004

é por coisas assim que eu não acredito em Deus

O Boss tem razão em muitas coisas e uma delas é a sua versão para uma relação com Deus. Poderia até achar que ele se extremava, mas que há a dizer quando assistimos a lutas fraticidas, raptos, atentados contra civis... tudo em nome de D*** ?

Comigo não.

Fui alertado para o choque e a dor que o vídeo da decapitação do construtor civil norte-americano Eugene Armstrong mostra.



Quem quiser seguir e ver o vídeo [link a vermelho na esquerda do ecrã] prepare-se para o pior. Aqui há outro site que reúne os videos de todas as decapitações já feitas. Chama-se, nem de propósito, How can you handle life?. A de Eugene Armstrong é a que está a vermelho, logo no início.

poética do quotidiano (XVI)

Hoje o dia é de outro blog novo (pelo menos para mim). Escreve [e vence] assim o João Tiago do Alguidar Pneumático:

"A casa do Senhor"

Na minha rua há uma capela. Lembro-me que quando era miúdo, o Padre me dizia que aquela "era a Casa do Senhor", e que ele amava todas as crianças da minha idade.Eu sempre acreditei que o Senhor gostasse muito de mim, porque ao contrário das outras casas, aquela era a única em que eu chutava a bola contra o portão, e não aparecia ninguém a ralhar...

aviso

se eu for ali e demorar é porque decidi não insultar mais o computador e a internet cheia de firewalls.

[a ver se me ganhas ò internetezinha da treta. antes de apareceres já havia mundo. demorava-se era mais tempo a percorrê-lo. mas olha que há sempre o delete. e depois? vais chamar o paizinho, vais? ]

ordinária.

suposição

é impressão minha ou o que se passa no real madrid está ao nível da angústia das educadoras de infância quando querem por os meninos a dormir a sesta?

segunda-feira, setembro 20, 2004

já que a tarde se põe

já que a tarde se põe, assim a caminhar para o fresco e cheia de um quebranto irrestível, sigo o conselho do Tiago e escuto o(s) novo(s) Nick Cave.
Acompanha-se com martini rosso fresco e sem limão.


poética do quotidiano (XV)

Hoje, escreve-se sobre relações e amores e visões e generation gaps. Escreve assim o Cachucho, um dos elementos do Enresinados:

AMOR AOS OITENTA!

Tenho dois vizinhos simpáticos.Andam ambos na casa dos oitenta anos e fazem um casal fantástico. Todos os dias a meio da tarde quando o vento se espreguiça pela primeira vez, saem de casa para se instalarem comodamente frente ao prédio onde vivem.Para cruzar a estrada não perderam o hábito de darem a mão, agora talvez mais fustigadas pelos anos que carregam, mas o toque será o mesmo e esse não muda.

Cada um leva consigo religiosamente uma garrafa de água para tentar enganar o calor que vai martirizando o dia.A troca de olhares entre eles continua a mostrar uma paixão que o tempo não desgastou. Depois de no banco instalados teimam em acenar-me em sinal de simpatia apesar de não me conhecerem. Retribuo com um aceno e um sorriso nos lábios que é interrompido por um casal na casa dos trinta em feroz discussão!

domingo, setembro 19, 2004

sequestros emocionais (post em preparação)

Para um post que há-de vir sobre sequestros emocionais (somos sequestrados ou sequestradores?), fica, para já, um excerto da canção emotional rescue dos rolling stones. o resto está aqui.

Is there nothing I can say
Nothing I can do
To change your mind
I’m so in love with you
You’re too deep in
You can’t get out
You’re just a poor girl in a rich man’s house
Yeah, baby, I’m crying over you

Don’t you know promises were never made to keep?
Just like the night, dissolve in sleep
I’ll be your savior, steadfast and true
I’ll come to your emotional rescue
I’ll come to your emotional rescue

poética do quotidiano (XIV)

Vence hoje o colectivo 3tesas não pagam dívidas. [não, mas ajudam a percebê-las, diria]. E escrevem assim:

Correio do leitor

Um leitor devidamente identificado enviou um mail a informar o seguinte:

"Caros Tesos (ou tesas?)
Era leitor assiduo do vosso blog. Já não sou, porque este tem vindo a perder cada vez mais qualidade. Na ânsia de catapultarem as audiências do blog têm se vendido, pondo traduções reles da letra dos tais romenos, falando dum tal de Günther e não sei quê mais. É pena, mas os vossos posts já deixaram de ter a qualidade do passado."


Audiências? Nós? Bem, a TVI também já foi da igreja, e agora é a baixaria que se vê...

Novos blogs

Adicionei à lista desorganizada da direita novos blinks. São recentes descobertas. A saber: Mindtrap, Enresinados, e Litanias. Acrescentei ainda um blog que se apresenta, via e-mail, assim:

Tenciono transformar o blog não na oportunidade única de mostrar como eu sou um rapaz inteligente e cheio de ideias revolucionárias à la intelectual de esquerda (pois isso já corresponde a 90% dos blogs que leio), nem tão pouco de me auto-promover como agente das artes performativas (restantes 8%), ou mostrar como tenho tanta piada que podia estar a escrever anedotas nas Produções Fictícias (1%). Não acredito no valor social do meu blog. E também não no político. E também não no cultural. E também não em muitos outros que estão nos 99% a que fiz referência. Quero engrandecer-lhe o valor humano. Pois quero que o 'vou a tua casa' seja mais da vida que do teatro.



Trata-se do blog de Rogério Nuno Costa, actor e autor já por várias vezes falado aqui neste blog (Das padeiras de aljubarrota, Actor, Saudades do tempo em que se dizia texto, Vou a tua casa, Pictures at an Exhibition, God Knows Whati! ) e é uma espécie de caderno aberto e exposto sobre o seu projecto mais estimulante VOU A TUA CASA.

De malas aviadas para Londres e depois para Torres Vedras [onde vai apresentar a 1ª e 2ª parte respectivamente], diz o Rogério: "Acima de tudo, quero que as coisas que escrevo, escondidas nos cadernos de notas, nos rascunhos dos ensaios e nos ficheiros do meu computador cada vez mais velhinho e já sem memória, possam ser vistas e comentadas pelas pessoas que, em diversas frentes, se têm interessado pelo 'vou a tua casa'. Repito: porque o 'vou a tua casa' não são só os espectáculos."

Sobre o Vou a tua casa apetece-me repetir isto: Vou a tua casa não é só teatro... é um pedacinho de verdade, de entrega, de paixão, de procura, de memória... de amor. É a forma como olhamos para as nossas coisas e nos recordamos do exacto momento em que lhes pegámos pela primeira vez. É, em suma, um presente para ser descoberto e que antes de ser rasgado pode conter lá dentro o mundo.

Sigam então viagem.


sábado, setembro 18, 2004

poética do quotidiano (XIII)

O prémio hoje é do mais alto nível, não querendo desmerecer os anteriores poetas quotidianos. É a vez do Pedro Mexia, que agora alimenta o Fora do Mundo, em parceria com Pedro Lomba e Francisco José Viegas. (Para quem achar que estou a fazer batota por dar o prémio de poética a um poeta, reparem a coincidência de ser o prémio nº 13). Ei-lo:

FIQUE COM ESTE: Estou numa livraria e reparo, subitamente, numa edição baratíssima da correspondência de Sylvia Plath. Não penso duas vezes, pego no grosso volume e vou para o balcão no qual deixei outras compras. No momento de desmagnetizar, a menina do balcão, uma espécie de «gótica feliz», faz uma cara tristíssima e pergunta, lamentosa, de onde tirei aquele exemplar. Aponto para a estante em causa. «Era o último. Queria guardar este para mim», diz, e faz beicinho dois segundos. Como eu tivesse encolhido os ombros (sem que os tenha encolhido) a menina desmagnetiza e suspira que vai mandar vir outro. Fico contente por encontrar uma livreira que lê livros. Mas a bibliomania não consente franciscanismos. Sorrio, pago, saio. Conto o episódio a N., que me diz que se a menina fosse gira eu teria dito «fique com este, eu espero por outro».

sexta-feira, setembro 17, 2004

poética do quotidiano (XII)

Hoje é o dia de um outro Tiago, o do Litanias, recente descoberta. O post já é de ontem, mas desde que voltei de espanha parece que ando atrasado. Ei-lo, numa bomba de gasolina:

Humor gasolineiro

Chego à BP, saio do carro e, enquanto marco a quantidade de gasolina desejada, uma voz masculina supostamente alegre por estar supostamente numa pista de dança supostamente rodeado de top-models bamboleantes (ou mulatas de coxame grosso, depende do dia) esganiça-se no seu ar jocoso, cantarolando "Don't You Know, Pump It Up,You Got To Pump It Up...", ad infinitum.

Depois das máquinas com voz feminina arfante a dizer que foi um prazer servir-nos (yeah, right!), já chegámos à fase das mensagens subliminares consumistas?

quinta-feira, setembro 16, 2004

damon, the hunk

Já não é a primeira vez que Matt Damon (o rapaz que estragou o Talentoso Mr. Ripley) fala em querer fazer um filme porno: "«Tenho uma teoria: o cinema de acção é como o cinema pornográfico», diz. «Um filme porno tem que ter um argumento e actores mesmo muito maus e personagens primárias. Há sempre uma cena de chacha onde uma personagem diz, 'Olá, eu sou o leiteiro'. Aí sabemos logo o que é que vai acontecer a seguir. E acontece isso mesmo, não ligamos nada e depois há mais outra cena estúpida com o leiteiro»." (in Diário de Notícias hoje)

Cá para mim descobriu o seu verdadeiro talento. Ou isso ou então algo de estranho se passa. Ei-lo aqui no filme School Ties :



(é o da esquerda. aquele que se prepara para se ir meter no meio dos outros dois e fazer as vezes do leiteiro. foto roubada aqui)

Pacheco dixit

Comecei a ler no nuno e segui para o público. Diz Pacheco:

Excluam-se os blogues e a comunicação social seria diferente. Não porque os blogues sejam lidos por muita gente, mas sim porque são lidos pela gente certa. Os blogues são escritos por uma elite para uma elite, são escritos por estudantes, literatos, políticos, cientistas, investigadores, jornalistas, na maioria dos casos jovens e no início de carreira, e são lidos pelos mesmos grupos sociais e profissionais dos que os escrevem.

Isto é para quem ainda ache que os blogs não valem nada. Toma e embrulha!

poética do quotidiano (XI)

Mais quotidiano que isto é impossível. Hoje descreve-se o 100nada no blog homónimo. Há algum tempo que estava para vencer o prémiozito.

Eu

também a pedais. Esqueçam.

(agora vou ali escrever uma notinha:

Etelvina

Faça o favor de começar a aquecer água assim que chegar que eu, pura e simplesmente não acredito que cortem o gás ao fim da tarde: ou a Etelvina é surda ou saiu mais cedo do que a sua hora. Aliás, também não acredito que a Etelvina não tenha dado pelo carteiro a tocar à porta quando chegou o aviso de corte e sabe bem que me esqueci das chaves de casa na mesa da entrada da casa onde passei férias e que fica a 240 km daqui. Sim, e nas chaves de casa estavam as duas cópias da chave da caixa do correio, que eu pensava que uma era a da garagem e afinal agora nem tenho uma nem outra e sabe-se lá onde é que a Etelvina descolocou a da garagem. Seja lá como for, a verdade é que me espera um duche gelado amanhã de manhã. Eu sei que posso sempre passar sem banho, mas a hipótese não é viável para mim que fui criada a duche matinal a ferver e sem isso não há qualquer forma de funcionamento, o que quer dizer que amanhã é bem possível que não apareçam posts - já viu o problema que está a causar aos meus leitores? E também sei que a conta do gás ficou por pagar mas isso a culpa não é minha que o papel é igual todos os meses e se não havia cacau para pagar a transferência bancária, a culpa também é sua, Etelvina, que me suga o orçamento todo com o seu ordenado maior que o meu. E ainda estou para saber se a ciática que eu tive não foi alguma janela entreaberta a fazer corrente de ar, quando se lembrou de andar a lavar janelas pendurada do lado de fora com uma mão e com o pano na outra. Se cair da janela abaixo, como é, Etelvina? Fico com mais um problema para resolver? Só me dá trablho Etelvina. Só me dá trabalho.
Já agora faça uma sopa de cenoura e arrede o frigorífico para limpar por baixo, apesar de eu já ter tirado três quilos de cotão e a peça do jogo de madeira do Babar que faltava, sim aquela da bicicleta pela qual andava o menino a chorar há dois anos. )
Nota final ao post: qualque semelhança entre este post e a realidade é completamente verdade...menos a parte de ter Etelvina amanhã a aquecer água pois tirou o dia...

TÍTULO (últimos dias)

termina já no sábado a 18ª produção do Teatro Praga, TÍTULO (ver aqui e aqui a análise publicada neste blog). Todos os dias às 21h30, no Hospital Miguel Bombarda (Lisboa), TÍTULO deve ser lido à luz de uma redefinição da relação espectáculo/espectador e convenção/memória. E isso é tão ou mais verdadeiro que a falsidade que o teatro, de uma maneira geral, impõe. E daquilo que se julga ver numa peça de teatro.



TÍTULO

Pelo Teatro Praga
Co-criação e interpretação de: Carlos Alves, Catarina Campino, Cláudia Jardim, Javier Núñez Gasco, Patrícia da Silva e Pedro Penim
Fotografia: Sofia Ferrão
Produção e promoção: Pedro Pires
Apresentações: Hospital Miguel Bombarda, de 11 de Agosto a 18 de Setembro 2004
de Quarta a Sábado às 21:30
Co-produção: Espaço do Tempo - Centro;
Patrocínio: Ministério da Cultura / Instituto das Artes
Apoios: Fundação Calouste Gulbenkian, Câmara Municipal de Lisboa, Hospital Miguel Bombarda, Tintas CIN, Restart

quarta-feira, setembro 15, 2004

Workshop de Produção Criativa - Porto (27 Setembro a 02 outubro)

WORKSHOP de PRODUÇÃO CRIATIVA

com Tiago Bartolomeu Costa

Datas: 27 Setembro a 02 Outubro
Horários: 19h - 22h; sábado 02: 15h-19h
Local: Instituto Português da Juventude Porto
Preço: 60 €
Informações e inscrições: 96 550 9 550 / 22 608 57 00
tiago.bartolomeu@sapo.pt

O workshop abordará os seguintes temas, através de exercícios práticos

O papel do produtor no processo de criação;
Relação Estado/Sociedade - Cultura;
Pesquisa de Financiamentos - Patrocínios, Mecenato, Apoios;
Organização de estruturas;
Desenho de Projecto, orçamentação e imprevistos;
Marketing, promoção e públicos.

sondagem

Já que existem dúvidas (aqui, aqui e aqui por exemplo) vamos lá a saber então a verdade dos factos. Se as sondagens valem o que valem, quantas mulheres foram ao concerto da Madonna? E quantos gays? E quantos é que descobriram que eram gays e saíram de lá de mão dada com outro deixando a namorada sozinha? E quantos é que uivaram contra o palhaço do Santana?



foto courtesy of H2omens


poética do quotidiano (X)

Hoje a distinção é de ontem. Mas, obviamente muito actual, atendendo ao frenesim madonnesco. Assim, eis a Charlotte do Bomba Inteligente:

Cenas da vida conjugal

- Querida, não queres ouvir os CDs outra vez e decorar as letras para não fazeres má figura?

terça-feira, setembro 14, 2004

astor

Este é o Astor. O meu ex-gato. Agora vive com uma amiga e é muito feliz. Também o era comigo, mas eu era muito incompetente para tratar dele. Mudei-o de casa várias vezes e fi-lo atravesar o país outras tantas. Percebe espanhol (a outra parte filial era da américa do sul) e é fã dos Sete Palmos de terra. Vinha cheio de escoriações, uma otite e muito magro quando o fomos buscar à loja de animais. Tinha dois meses mal feitos nesse início de verão de 2002. Hoje está enorme, e astuto. Eis o Astor, assim chamado por causa do compositor.

been there, seen that



foto courtesy of Mindtrap (onde há mais...)

A lei dos amantes (36)

Sinceramente, o melhor de tudo ainda é o início. Mesmo aqueles que podem parecer novas versões de antigos.

Madonna rules!!

Apetecia-me pouco cair no histerismo da coisa, mas a verdade é que foi impressionante o espectáculo da Madonna ontem no Pavilhão Atlântico. Invejem-se pois os que desdenharam. É que coisas como estas dificilmente se vêem. Uma coisa que só o rigor, o preciosismo, o trabalho árduo e, claro, os milhões de dólares podem fazer.

A máquina que Madonna alimenta não se presta por isso a margens de segurança ou coisas feitas por desenrrascanço. É espectáculo puro e duro. À americana, quando isso não quer dizer prepotência e arrogância. Um espectáculo com E grande no que isso representa de criação de um mundo à parte, em que nada mais importa que não seja o gosto e o prazer pela arte.

Diziam os críticos espalhados pelo mundo que neste digressão Madonna pregava um sermão, agora que se virou pra a cabalística. É verdade que abundam os símbolos religiosos, de Cristo a Gandhi e daí à kabala. Mas isso importa pouco para quem não é fã acérrimo da senhora e quer só ver um espectáculo. O maior do mundo dizem. É-o, de facto. Como este, só o dos U2 em Alvalade (Zooropa e Discoteque incluídos)

É verdade que estava à espera que ela cantasse mais coisas dos 80. Coisas como o La isla bonita e afins. Desse tempo de laços na cabeça e camisas com folhos. E queria também ter visto a Evita, essa coisa tão má que é boa. E o American Pie, que não é dela mas que faz tão bem. E o Erótica, que me fazia corar por ser tão novo e saber tão pouco.

Pois saltei e pulei e gritei e pisei. Nem parecia que tinha acabado de chegar de uma viagem estafante. E sim, havia gays, e heteros, e famílias e solitários. E o Santana. Que foi brilhantemente insultado. Que é para ver se aprende a escolher os sítios onde vai. Que as gentes queriam distrair-se das desgraças do país. Esse a que regressámos hoje de manhã com a voz dorida e os pés moídos. Esse, que ela pediu que viva "as one".



foto roubada ao Me, myself and I


poética do quotidiano (IX)

Hoje a distinção é para o Tiago de Oliveira Cavaco que escreve o Voz do Deserto:

Roupas no altar

Domingo que passou fui ao púlpito muito mal vestido. A pregação foi elogiada. Sentia-me, todavia, em vestes impuras. Israel dava importância ao fato dos sacerdotes. Felizmente que Jesus não preocupou a igreja com estas minudências têxtis. Careço de uma espécie de actualização neo-testamentária. A minha cabeça anda algures entre a Fashion TV e o Pentateuco.

segunda-feira, setembro 13, 2004

são mais que as mães

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, ... perdi a conta aos numerosos blogs que anunciam a sua presença no concerto de hoje.

poética do quotidiano (VIII)

O regresso da poética do quotidiano faz-se com um post de ontem, já que a blogosfera parece estar toda à porta do Pavilhão Atlântico. Ainda assim é todo merecido este prémio. Eis o que disse do seu domingo A causa foi modificada:

Chamo-lhe um Figo

Comi um docezinho de figo que não vos digo nada. As migas de espargos também não estavam más, mas como disse logo a minha mãe quando lhe telefonei a falar do assunto: “Isso é coisa de finos!” Gostava então de falar do ser “fino”: ser fino é viver numa casa com chão de madeira de azinho. Isso sim, é ser “fino”. Aposto que até a minha mãe, desde sempre avessa a “finuras”, vacilaria a um soalho forrado a essa nobre madeira em vias de extinção. Para além disso, esta merda mais parece Knossos na dimensão e o arranjo das assoalhadas o labirinto do Minotauro. Uma casa assim, uma biblioteca assim, uma discoteca e uma videoteca assim, ornamentados com uma televisão eventualmente três vezes maiores e com acesso à Sport TV, e, creio bem, jamais voltaria respirar livre.

Zeus queira que os Jogos Olímpicos lhes corram mal; por maradona (com minúscula)

e tu? se não estiveres ali, estás onde?

Madonna, hoje, no Pavilhão Atlântico. E depois o quê?


domingo, setembro 12, 2004

caçada

para o p.



Deux guerriers ont couru l'un sur l'autre, leurs armes
Ont éclaboussé l'air de lueurs et de sang.
Ces jeux, ces cliquetis du fer sont les vacarmes
D'une jeunesse en proie à l'amour vagissant.
Les glaives sont brisés! comme notre jeunesse,
Ma chère! Mais les dents, les ongles acérés,
Vengent bientôt l'épée et la dague traîtresse.
- O fureur des coeurs mûrs par l'amour ulcérés!
Dans le ravin hanté des chats-pards et des onces
Nos héros, s'étreignant méchamment, ont roulé,
Et leur peau fleurira l'aridité des ronces.
- Ce gouffre, c'est l'enfer, de nos amis peuplé!
Roulons-y sans remords, amazone inhumaine,
Afin d'éterniser l'ardeur de notre haine!


Charles Baudelaire, Duellum (Les Fleurs du Mal)

que bela recepção

avaria no metro; cortes nas condutas de água até madrugada; blogs sem funcionar.


sábado, setembro 11, 2004

espanha - madrid (tomo VIII)

1. sol

o imenso sol espanhol de que falava o Hemingway alcança, nos fins de tarde madrileños, sentidos maiores. Fazer o centro de madrid ao fim da tarde quente e abafada é sentir o peso de uma cidade que nao te deixa parar. E é também perceber que a força destas gentes vem da terra que pisam e das escolhas que fazem. O sol em Madrid nao fustiga. Instiga.

2. Espanha imperial

o que mais impressiona nesta espanha imensa e imperial é a ausência de referências a Portugal. Seria de esperar que entre dois países com um problema eterno (relaçoes de superioridade e inferioridade constantes) e uma história comum algo se apresentasse. Pois nada. Do reinado de Felipe II, I de Portugal, e no seu vasto El Escorial nada existe. Tao pouco se encontram nos museus quadros referentes a rainhas portuguesas que se casaram com reis espanhóis ou o que reporte à nossa dinastia filipina (que para eles nao existiu). A coisa funciona entao de nós para eles e nao o contrário. Portugal seria só mais uma provincia, tal como eram todas as outras que ainda hoje compoe a Espanha. E, por outro lado, este é um país de vencedores, nao de derrotas.

Do Portugal presente em Espanha existem algumas imagens do Santo António (a mais impressionante patente na Academia de Bellas Artes de San Fernando, incluida na exposiçao temporária do Museu de Granada), um retrato da rainha Santa Isabel ( erroneamente identificando que a Rainha distribuia dinheiro e nao pao) no Museu do Prado e um ou outro quadro de umas linhagens de Bragança. De resto, começam-se a vender-se Saramagos nos quiosques, há uma bandeira visível e até a artista plástica Joana Vasconcelos é sempre apresentada como francesa.

Manoel de Oliveira está numa sala de Madrid com Um filme falado e Joao César Monteiro em Barcelona com Vai e Vem. E ontem á noite, num ciclo de curtas de terror, passaram o filme-sensaçao de Filipe Melo I'll see you in my dreams. E fora de qualquer patriotismo balofo meteu a um canto as outras quatro curtas apresentadas.

3. recorridos

A dada altura perdi a conta ao número de exposiçoes que vi nestas últimas semanas. Várias sobre Picasso, outras tantas de arte moderna espanhola, umas estrangeiros, milhares de arte sacra... Mas escolho três, pelo que representam de alienaçao do quotidiano e que terminam todos dia 12 de Setembro:

Cecilia Brown, Julian Schnabel (no Reina Sofia) e Monserrat Soto no edifício da Telefónica. Em particular esta última já que trata de fotografar as casas de coleccionadores de arte ou comissários de exposiçao e a forma como os objectos diários se confundem com a arte. Estao onde as fronteiras?

4. Sao Jerónimo Penitente

A quantidade de quadros que existem deste santo espalhados pelas dezenas de museus. Impressionante. Todos o pintaram.

5. café, pao e cervejas.

Já sabia que seria um problema tomar o pequeno almoço habitual no estrangeiro, mas nao sabia que seria o caos. O pao é duro a qualquer hora do dia e o café é amargo. E se ao final da tarde quisermos tomar uma cerveja é melhor ficarmo-nos pela ideia. Os preços sao proibitivos, por mais aliciantes que sejam as esplanadas.


nota final: este será o último post escrito em espanha. amanha saio de madrid às 10h da manha e regresso à pátria lusa. A mesma que já está a fazer sentir-se epidermicamente. Para os que acompanharam a viagem através deste blog, posso garantir qua nao acaba já este exílio. Para depois ficam as fotos, quase tao instantaneas e breves quanto estas notas. Ficou tanta coisa para ver mas ainda assim saio com a sensaçao de ter entendido algumas coisas. E é essa a diferença entre um turista e um viajante.
Uma nota final a quem me acolheu (e a quem mos recomendou) nas duas cidades. E outra a quam praticamente viveu esta viagem comigo.
Até depois.

quinta-feira, setembro 09, 2004

um ano inteiro

Se eu soubesse que ia chegar aqui, muito provavelmente desistiria. Um ano é muito tempo. Poucas coisas comigo duraram um ano. Este blog quebra a tradiçao maldita (que de todo desejo). Se soubesse sequer que este blog seria lido, comentado, citado e referido mais me custaria a crer a sua existência. A verdade é que por muito óbvia que fosse a existência de um blog assinado por mim, jamais conceberia que o fizesse. Afinal, ainda utilizo papel e caneta e de computadores só sei o número dos que se avariaram nas minhas maos. E, por outro lado, nunca fui de manter diários. O único que fiz (corriam os negros anos da adolescência) durou pouco mais de 3 meses e ainda assim foi alvo de auto-censura explicita e nao cifrada. Arranquei todas as páginas mais secretas passado um tempo. Tenho-o ali (o "ali" é relativo dada a constante mudança de casa... está num caixote qualquer numa garagem estranha em Linda - a - velha) e nao é coisa que me diga muito. Guardo-o por nostalgia e incapacidade de deitar coisas fora.
Este blog (o nome nem sequer é original e está preso a devaneios juvenis) mantém-se assim, malgré moi meme: figura instável, urbano-depressiv, conflictuosa e blase o suficiente para ter a sorte de cair mais vezes em graça que ser engraçado. Os que me conecem nao o lêem. Dizem, depois de rápida incursao, que se parece muito comigo. Pois. Os outros continuam. Há até alguns que voltam sempre. Eu sei. Só nao sei porquê (!?).
De tudo o que já escrevi neste blog (e nao o fiz sozinho... houve, em tempos, uma colaboraçao rápida mas sumarenta da minha amiga Ana Vicente) há coisas pessoais e outras nem tanto (algumas mais encriptadas que outras... tanto que nem eu as compreendo), sugestoes, teorias, tomadas de posiçao, homenagens, prendas, desabafos, consideraçoes e outras coisas quotidianas. Valem o que valem. Nem todas valem o mesmo. Há coisas que apagaria, outras que remodelava, coisas que faltam e algumas que me orgulham particularmente. Mas nao é a minha vida. Há pouca realidade neste blog. Da realidade crua e quotidiana. Tudo é postado através de um filtro. Um filtro que quer deixar marca. Um filtro que denuncia a incapacidade de lidar com a efemeridade dos acontecimentos.
Instigado pelos habitantes do agora defunto Santa Ignorância, comecei o Melhor Anjo com a notícia da morte de Leni Riefensthal. Comecei como gosto de o fazer. Sem dar conta que cheguei (riem-se agora os que me conhecem !!!). Como se fosse um passo mais. Passado um tempo dava conta do que acreditava serem as responsabilidades de quem tem um blog (se se puderem dizer estas coisas...). Um ano depois (da estaçao telefónica da PT, no Rossio, em Lisboa, a um locutório no centro de Madrid) continuo a vir cá, ás vezes a acreditar que há alguém que me espera ler. Na verdade, todos os dias abro este blog e continuo sem saber porquê. Se algum dia alguém tiver a resposta para perguntas como esta, faça o favor de nao me contar.
É que o apelo de carregar no delete também surge todos os dias.
Feliz aniversário Anjo.

quarta-feira, setembro 08, 2004

espanha - madrid (tomo VII)

1. ambientes

estao 34 graus em madrid. está um tempo seco e áspero. nao corre uma so brisa fresca. as pessoas param simplesmente nas ruas. nao andam. sao mais de seis milhoes os transeuntes. o palácio real está fechado por actos oficiais. os teatros estao esgotados. nos cafés só servem turistas que nao falem espanhol. madrid está insuportável hoje.

2. locutorios

para compensar as carências de cajeros automaticos (os vulgares multibancos) - impressionante como é dificil encontrar um multibanco em madrid que nao esteja virado para o sol, sem dinheiro, avariados, num prédio com obras, ocupado por japoneses ou convenientemente assinalado - , há uma quantidade enorme de postos de intenet a preços muito acessíveis. os mais baratos (1€ por hora) sao de propriedade muçulmana ou indiana. sao tambem esses que nao têm ar condicionado, webcams ou configuraçao conveniente nos ecras. mas estao espalhados por todo o lado.

3. supermercados

nao é dificil ir a um supermercado em madrid. quando se encontra um, claro. de qualquer maneira os produtos sao os mesmos.

4. desayunos

estes tipos nao devem tomar o pequeno almoço nas ruas. porque se o fizessem ja tinham inventado uma coisa que se chama "pastelaria".

terça-feira, setembro 07, 2004

espanha - madrid (tomo VI)

1. tele-basura

a televisao espanhola é má. e isto deveria chegar para a definir. depois de reality-shows seguem-se reality-shows. no domingo começou a sexta ediçao do big brother (obviamente traduzido para Gran hermano) e logo com um escândalo: mercedes e javi e salva foram amantes, ex-amantes e sei lá que mais. a coisa está ao rubro e hoje á tarde os pais, amigos e desconhecidos dos três trocavam acusaçoes e defesas em vários canais nacionais. Depois há à tarde o aqui hay tomate e à noite o salsa rosa. Em ambos os participantes que vao dar conta das suas vidas e vê-las discutidas por absurdos periodistas, dependendo da qualidade das histórias, podem receber até 6 mil € por programa. Neste momento as crises maiores sao por causa de uma acusaçao de agressao feita á isabel pantoja e uma separaçao do toureiro francisco rivera. nao sei que raio interessam estas histórias, mas enchem horas de programaçao.

2. zara tara

como a marca é espanhola inventaram uma coisa fabulosa que é uma espécie de feira de defeitos em que vendem mais barato a roupa estragada. fui lá comprar umas calças que deveriam custar 30 € mas só custaram 11€. Pois que nao vi defeito nenhum. Sou mesmo crente.

3. cansaço

pode-se chegar a sofrer de sobre-dose cultural. Quando esse nível está prestes a ser atingido, o melhor é nao fazer nada. E nao fazer nada significa nao fazer nada. Ver televisao e ir ás compras, por exemplo.

espanha - madrid (tomo V)

1. cinema

para além de ser caríssimo, o cinema em espanha, para quem nao é espanhol, torna-se uma experiência surreal. tudo está dobrado. é como se vivessemos num imenso filme pornográfico. ainda assim há salas que exibem películas em lingua original sub-tituladas. comentava com um amigo daqui que talvez daqui a 50 anos nao seja tao dificil haver um equilibrio entre dobragens e originais. isto passa-se no mesmo país que há cerca de 50 anos firmou um manifesto contra a manipulaçao por outrem das formas artísticas.

pois mas se hoje foi dia de cine (los lunes son el dia de espectador), foi-o por duas vezes: uma reposiçao e uma estreia. A primeira a versao director's cut de Alien (e é impressionante ver como um filme com 25 anos nao dá pela passagem do tempo) e a outra o novo filme de Alejandro Amenabar que, recentemente fez o seu coming out: Mar adentro. Filme forte, pesado, emocionante e pleno de vida. Certamente irá estrear em Portugal e é a nao perder.

2. língua

há uma semana em espanha e é-me cada vez mais difícil nao por palavras espanholas nas frases quando hablo en portugues. até mismo pensando isso sucede.

3. comida (outra vez)

para descanso das almas, hoje fui a um restaurante a sério comer comida a sério. passei o resto do dia a arrotar a sopa fria de pepino com iogurte. devo ter estranhado a falta de atum.

espanha - madrid (tomo IV)

1. toros

no domingo fui a uma tourada. em espanha, sê espanhol. pois. a coisa tem tanto de sub-humano quanto de exemplo para a justificaçao da estupidez do homem. razao tiveram os touros que, apesar de irem morrer (e como o sentem eles. impressionante!! cada um parece que vem vingar a morte do anterior) se recusaram a enfrentar os bandarilheiros, os picadores e os toureiros propriamente ditos.
o ritual que se executa numa tourada, do mais próximo que podemos encontrar do espírito espanhol, é pleno de simbolismo, arrivismo, prepotência, supremacia e necessidade de demonstraçao das forças de poder.
o mais impressionante nao é portanto a morte do touro (depois da primeira sao todas iguais e comparadas a atentados humanos contra inocentes sao brincadeiras de crianças), mas antes a forma como todos se unem num jogo de perpétuos enganos. nos dias que correm nem as touradas servem o espírito espanhol nem tao pouco podem ser consideradas um espectaculo. de coisa falsa feita para turista ver (contavam-se pelos dedos de poucas maos os espanhóis que assistiam à corridas soam, ainda assim, muito mais honestas que as corridas à portuguesa em que o touro morre às escondidas. ao menos aqui a coisa é levada até ao fim. justificam-se assim as críticas e as defesas.
e a pouca assistencia deve justificar a perda de interesse.

domingo, setembro 05, 2004

espanha - madrid (tomo III)

1. garrafas de água

a quantidade de garrafas de água que já comprei desde que estou em espanha é impressionante. acabo sempre por perdê-las. a primeira foi no turismo de badajoz, a segunda no autocarro em barcelona, a terceira no albergue, depois na pedrera, no park güell, uma em frente ao prado (dada a um pobre que estava beber directamente de uma fonte) e a última no banco de jardim em frente ao supermercado. curiosamente só me lembro onde as perdi horas depois.

2. fotografias

confesso que nao sei tirar fotografias e felizmente sao poucos os que me solicitam fazê-lo. devo denunciá-lo à distância, afinal sou o único que nao se poe em frente aos monumentos, com um pé à frente do outro e sorriso de plastico a dar conta de que efectivamente esteve lá. Eu, para provar que estive lá, tiro fotografias ás coisas. Nao a mim nas coisas. Para isso montava uns cartoes pintados e fingia. Que é mais ou menos isso que os outros fazem em frente aos monumentos.

3. a feira de rastro

é uma espécie de feira da ladra aberta aos domingos e que ocupa toda a zona de tirso molina e até embajadores. uma feira é uma feira é uma feira. e para feira é tudo caríssimo.

4. o famoso triângulo

Está feita, está morta. O triângulo sagrado está completo como quem cumpre uma penitência: Thyssen-Bornemisza, o Reina Sofia e o Prado. E o que me apetece dizer é isto:

1) a quantidade de caes representada em quadros das mais diversas épocas, estilos e autores é impressionante. Há até quem os repita ao longo de uma vida, sempre na mesma posiçao.

2) uma vez revista toda a história da religiao católica e das monarquias europeias através da pintura, começamos a perceber melhor porque é que há quem nao queira por nada nas paredes.

3) a criaçao de expectativas sustentada pelo marketing da arte invalida o prazer da descoberta simultânea. Podemos acabar a exclamar envergonhadamente: "é só isto?"

nota final: pois, estou mal disposto porque fui alvo de um ataque neo-terrorrista: uma caixa automática de um banco basco ficou-me com uma nota de 10 € mas nao se esqueceu de me dar o comprovativo de levantamento.





sábado, setembro 04, 2004

espanha - madrid (tomo II)

1. la movida

a força da noite espanhola faz-se sentir até nos mais avessos à festa. é impossível deixar de se sentir o calor das gentes, o trânsito caótico, os bares cheios, as comidas cheias de óleo. até de manha as calles estao cheias e nao sao poucos os que se descobrem, ao nascer do sol, com menos roupa, menos consciência e menos dinheiro. La movida nao é para quem quer, é para quem pode.

2. marcas

por momentos podemos acreditar que estamos em casa, tal é a abundância de marcas reconhecíveis nas ruas de madrid: zara, springfield, pull & bear, bershka... Mas depois é que nos apercebemos que fomos NÓS os invadidos.

3. os amigos da Sofia

A Sofia tem um museu. E é um belo museu o da Sofia. Tem lá muitos quadros de artistas amigos, espanhóis e estrangeiros. Muitos quadros sao ícones da história da arte e outros nem por isso. Nos que sao famosos as pessoas demoram-se muito tempo, tecem conjunturas e dao opinioes. Dizem que vêem tudo o que o pintor diz ter posto e mais além. Aos outros respondem com um argumento-base: "também fazia isto". Pois, deve ser por isso que uns expoe e outros vêem.


sexta-feira, setembro 03, 2004

espanha - madrid (tomo I)

1. movimento

sai-se para a rua e parece que chegámos atrasados a madrid. a cidade anda a uma velocidade impressionante, quase tao rápida quanto a forma de falar dos madrileños. sente-se que temos que entrar na roda e seguir, antes de sermos atropelados. as pessoas sao muito mais fechadas, muito mais feias e muito mais antipáticas que em barcelona. parece que receiam algo.

2. comidas

nao sei o que comem os espanhóis já que só encontro museo del jamón e bodegas con enchiladas e tapas e pinchos. nao admira que se espalhem pela cidade cartazes a pedir que se tenha em atençao o colestrol. depois de um pequeno almoço de sandes de presunto com queijo (sim!!!!), seguiu-se um almoço, em frente ao museo del prado, em que pude variar das sandes de atum, mexilhao, lulas e ameijoa. desta vez foi atum à lá calabresa.

3. kitsch (I)

segui o mapa e entrei na catedral de almudena, onde se casaram os principes das astúrias. quarta feira é dia do palácio real.
pois.

4. arte pública

tanto em barcelona como em madrid as ruas estao cheias de pequenas estatuas, pinturas, baixos relevos nas fachadas dos prédios, ... uma espécie de museu ao ar livre.

5. tempo

está a chover em madrid.


quinta-feira, setembro 02, 2004

espanha - barcelona (tomo V)

Nota prévia: este post está a ser escrito já em madrid. deixei barcelona às 10h da manha. e depois de me ter alojado no centro de barcelona, agora é a vez do centro de madrid, perto da estaçao de La Atocha e do museo de arte reina sofia. ainda assim este post é sobre barcelona.
1. performers
Para além do início da nova época teatral marcada para a próxima semana (com anúncios pagos pelos mesmos patrocinadores espalhados por toda a cidade), Barcelona agrega um conjunto de artistas de rua que animam a cidade e os habitantes/visitantes. Se os exemplos mais famosos se encontram nas Ramblas com as suas estátuas vivas, também nas estaçoes de metro, nos jardins ou nas arcadas dos prédios se pode assistir a performances, flamenco, tango, percursao, circo e leituras. As idades sao as mais diversas bem como a imaginaçao e as nacionalidades. Longe de ser uma ideia de "animaçao cultural", estes artistas de rua compoe a cidade. A concorrência é muita, cerrada e violenta. E mesmo que nao recolham muito dinheiro, sabem que Barcelona é uma cidade melhor por causa deles.
2. línguas
A dada altura do dia é fácil esquecermo-nos de que país somos. Podemos começar a pensar em português, meter o espanhol pelo meio, acabar em françês e ouvir em italiano. Tudo isto é um novo e positivo significado do conceito de globalizaçao.
3. silêncio
No Parq Montjuic, onde fica a cidade olímpica, ouve-se o silêncio. Lá em baixo, na cidade, há um som uniforme que nunca cessa. Nao se trata de algo incomodativo mas antes de uma massa envolvente e reconfortante que em vez de afastar, acolhe. Em Barcelona nao se grita. Ouve-se.
4. jornais
Para além de exemplos bem sucedidos de jornais gratuitos (Catalunya hoy e Metro - ambos com versoes em inglês), os jornais espanhóis dao conta das noticias contextualizando-as sempre. Nao partem do princípio que o leitor sabe tudo. Isto sem falar no facto de ignorarem Portugal.
5. peluquerias
Há mais cabeleireiros em Barcelona que cabelos cortados. Há-os para todos os estilos, géneros, gostos e capacidades. Há-os até partilhados entre humanos e caes.
e agora já em viagem
6. país vazio
O que mais impressiona ao atravessar a linha central espanhola é poderem-se passar dezenas de quilómetros sem que se vejam sinais de cidades, aldeias ou tao pouco bombas de gasolina. Quilómetros de uma paisagem árida e montanhosa que se altera bruscamente para planícies cobertas de densa vegetaçao. Os humanos sao todos muitos pequenos quando o mundo se dispoe assim.





espanha - barcelona (tomo IV)

1. lugares de fé

entre a devoçao solitaria e o local turistico, as igrejas em barcelona servem de palco aos mais bizarros encontros das gentes. os que procuram o deus da sua devoçao e a necessidade de recolhimento sao literalmente invadidos por hordas de turistas de máquinas em punho, ávidos nao de um lugar de fé mas antes de mais um risquinho no guia das "coisas a ver". as igrejas colocam-se num dificil plano de classificaçao quando a fé serve os propositos do turismo, preterindo os fieis aos "desagregados". como exemplo paradigmático há a sagrada família que, por nao estar consagrada, nao serve um proposito nem outro.

2. MECAL

curtas metragens, curtos-documentarios, anuncios e videos... tudo serve este encontro internacional a ser apresentado no Centro de Cultura Contemporania de Barcelona. e as gentes saem para as ruas e páteos para verem cinema e se distrairem. mesmo que os filmes sejam fracos.

3. almodovar

a ideia de que Barcelona seria um lugar de exposiçao das figuras do realizador espanhol é falsa. sim há as prostituas-travestis nas ramblas e toda uma comunidade gay a ser tratada de bandeja pelas campanhas publicitárias, mas longe da explosao que se poderia imaginar.

4. exposiçoes

o forum barcelona espalhou pela cidade uma série de exposiçoes imperdiveis e que tratam a relaçao da arte com a guerra e a paz sobretudo, do século XX. a saber e visitar para quem ainda vier a tempo: "guerra i pau" no museu picasso, "la belleza del fracaso/el fracaso de la belleza", na Fundacion Juan Miró e "en guerra" no CCCB. Para todas a mesma pergunta: como foi possível chegarmos a este ponto? as formas de se olhar transformam-se depois de vistas as exposiçoes.

5. p.



das padeiras de aljubarrota (estreia)

interrompe-se o ciclo de bilhetes postais sobre barcelona e madrid para se dar conta da estreia do novo espectáculo de Rogério Nuno Costa e Marina Nabais, DAS PADEIRAS DE ALJUBARROTA, uma co-produçao entre a estrutura a menina dos meu olhos e a Festa do Avante
"Três mulheres dão corpo a um mito: a padeira de Aljubarrota. Entre a lenda e o desconhecido, o mistério prevalece.
Quem foi a famosa padeira de nome Brites? A condição feminina e os séculos de escravatura, num espectáculo novo e altamente pedagógico.No seguimento do espectáculo Ophelia, o presente Das Padeiras de Aljubarrota pretende dar continuidade à estetização teatral daquilo que pode ser uma investigação ou um estudo à volta de uma personagem. Mas se em 'Ophelia' o estudo partia de um imaginário maioritariamente literário, em Padeiras será a dimensão histórica a privilegiada, nomeadamente aquela que misteriosamente se cruza com a lenda e o desconhecido. Mais uma vez, a ideia de mito que se cria à volta de uma personagem.
A intersecção entre um registo real e outro ficcionado é exactamente aquela que a história perpetuou – a famosa padeira existiu realmente, mas muito do que se disse e escreveu ao longo dos séculos não passa de exageros inverosímeis, numa tentativa muito lusófona de mitificação de heróis populares.
A construção teatral socorre-se de um vasto conjunto de registos cénicos, todos com o objectivo premente de inculcar no corpo de três mulheres uma construção histórica idealizada, referencial, muitas vezes parodial, de uma Idade Média que ainda esconde muitas das razões daquilo que durante séculos fomos e do que ainda hoje ostentamos."
datas de apresentaçao:
2 e 5 de setembro na festa do avante (atalaia, amora, seixal)
23, 24 e 25 setembro no hospital miguel bombarda (lisboa)
outro espectáculo de Rogério Nuno Costa e Marina Nabais já tratado neste blog: