segunda-feira, maio 03, 2004

Tableaux - vivants



Segundo Victor Turner, teórico da performance, o termo performance provém do francês arcaico parfournir e quer significar o final da representação, o ponto máximo do que se quer dizer. Conforme tinha dito nuns posts mais abaixo, fui a Braga ver Pictures at an Exhibition, apresentação/intervenção urbana/site-specific/exercício do TUM - Teatro Universitário do Minho, dirigido por Rogério Nuno Costa, e o que encontrei foi um grupo de disponíveis (digamos assim) que se ofereceram a uma cidade suspensa com a pré-eliminatória da Taça UEFA, um festival de tunas, um segredado 1º de Maio e até chuva. Por causa disso - por causa de tudo, provavelmente - foram coisas quase secretas as coisas que aconteceram em galerias de arte, um bar, um cabeleireiro e na Torre de Menagem.

Secretas porque o que mostraram não foi um espectáculo, mas sim um presente a quem os procurou - antes, os encontrou. E um presente que, dependendo da forma como cada um - performer e espectador - se relacionava com o espaço e um com o outro, adoptava diferentes significados. O mais musical de toda esta intervenção prende-se exactamente com a facilidade com que se poderiam ler atitudes auto-biográficas e com a surpresa de não o serem, muito pelo contrário. Tais intervenções - e essa é a vantagem dos que fazem as coisas por gosto, longe das classificações amador ou profissional e que não se apresentam com um discurso formatado, preso a teorias ou convencionalismos - pautaram-se por uma discrição, assente numa ocupação milimétrica do espaço em relação ao que seria de esperar.

Todos, sem excepção - dos que me foram dados a ver, as intervenções de sexta feira falharam-me - trataram de se desenvolver enquanto performers, menos preocupados com quem os ia ver e mais com o que tinham para fazer - até mesmo mais do que com o que tinham para dizer. Silenciosos, distantes, presentes, abertos. Displicentes, quase.

A uma cidade que se quer a respirar cultura, e face à apatia generalizada, as intervenções pautaram-se por um desenho leve de diversos percursos, feito de sorrisos e cúmplicidades várias. Não existia uma ordem aparente, a não ser pelo horário das apresentações, e muito menos uma linha programática. Pelo que me foi dado a perceber, o percurso individual de cada um foi valorizado, bem como a verdadeira vontade de o fazer. Num certo sentido, aquilo a que pude asistir foi menos a uma demostração e mais a uma intenção. Eis-nos para que eu me olhe.

Nota negativa para o Teatro Universitário do Minho que não pautou por uma extensa divulgação, atendendo aos diversos eventos a decorrer na cidade. Nota mais do que positiva para o Gaspar, o Paulo, a Clara, o João Pedro, a Sandra, a Eduarda, o Luís, o Fred e para o Rogério. Há imagens que me ficaram. Imagens muito belas. Imagens a recusarem a interpretação. Só isso, o que nos quiseram dar.

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