1. sol
o imenso sol espanhol de que falava o Hemingway alcança, nos fins de tarde madrileños, sentidos maiores. Fazer o centro de madrid ao fim da tarde quente e abafada é sentir o peso de uma cidade que nao te deixa parar. E é também perceber que a força destas gentes vem da terra que pisam e das escolhas que fazem. O sol em Madrid nao fustiga. Instiga.
2. Espanha imperial
o que mais impressiona nesta espanha imensa e imperial é a ausência de referências a Portugal. Seria de esperar que entre dois países com um problema eterno (relaçoes de superioridade e inferioridade constantes) e uma história comum algo se apresentasse. Pois nada. Do reinado de Felipe II, I de Portugal, e no seu vasto El Escorial nada existe. Tao pouco se encontram nos museus quadros referentes a rainhas portuguesas que se casaram com reis espanhóis ou o que reporte à nossa dinastia filipina (que para eles nao existiu). A coisa funciona entao de nós para eles e nao o contrário. Portugal seria só mais uma provincia, tal como eram todas as outras que ainda hoje compoe a Espanha. E, por outro lado, este é um país de vencedores, nao de derrotas.
Do Portugal presente em Espanha existem algumas imagens do Santo António (a mais impressionante patente na Academia de Bellas Artes de San Fernando, incluida na exposiçao temporária do Museu de Granada), um retrato da rainha Santa Isabel ( erroneamente identificando que a Rainha distribuia dinheiro e nao pao) no Museu do Prado e um ou outro quadro de umas linhagens de Bragança. De resto, começam-se a vender-se Saramagos nos quiosques, há uma bandeira visível e até a artista plástica Joana Vasconcelos é sempre apresentada como francesa.
Manoel de Oliveira está numa sala de Madrid com Um filme falado e Joao César Monteiro em Barcelona com Vai e Vem. E ontem á noite, num ciclo de curtas de terror, passaram o filme-sensaçao de Filipe Melo I'll see you in my dreams. E fora de qualquer patriotismo balofo meteu a um canto as outras quatro curtas apresentadas.
3. recorridos
A dada altura perdi a conta ao número de exposiçoes que vi nestas últimas semanas. Várias sobre Picasso, outras tantas de arte moderna espanhola, umas estrangeiros, milhares de arte sacra... Mas escolho três, pelo que representam de alienaçao do quotidiano e que terminam todos dia 12 de Setembro:
Cecilia Brown, Julian Schnabel (no Reina Sofia) e Monserrat Soto no edifício da Telefónica. Em particular esta última já que trata de fotografar as casas de coleccionadores de arte ou comissários de exposiçao e a forma como os objectos diários se confundem com a arte. Estao onde as fronteiras?
4. Sao Jerónimo Penitente
A quantidade de quadros que existem deste santo espalhados pelas dezenas de museus. Impressionante. Todos o pintaram.
5. café, pao e cervejas.
Já sabia que seria um problema tomar o pequeno almoço habitual no estrangeiro, mas nao sabia que seria o caos. O pao é duro a qualquer hora do dia e o café é amargo. E se ao final da tarde quisermos tomar uma cerveja é melhor ficarmo-nos pela ideia. Os preços sao proibitivos, por mais aliciantes que sejam as esplanadas.
nota final: este será o último post escrito em espanha. amanha saio de madrid às 10h da manha e regresso à pátria lusa. A mesma que já está a fazer sentir-se epidermicamente. Para os que acompanharam a viagem através deste blog, posso garantir qua nao acaba já este exílio. Para depois ficam as fotos, quase tao instantaneas e breves quanto estas notas. Ficou tanta coisa para ver mas ainda assim saio com a sensaçao de ter entendido algumas coisas. E é essa a diferença entre um turista e um viajante.
Uma nota final a quem me acolheu (e a quem mos recomendou) nas duas cidades. E outra a quam praticamente viveu esta viagem comigo.
Até depois.
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