Diogo Infante é, de todos os entrevistados, o único que ainda está por começar enquanto programador. Ou melhor, o lado visível do seu trabalho só poderá ser avaliado a partir da próxima segunda-feira, 27 de Março, dia em que reabre o Maria Matos - Teatro Municipal, depois de quase um ano de obras e cinco meses depois de ter assumido o lugar de director artístico. Mais conhecido pelo trabalho enquanto actor e encenador, Diogo Infante tem aqui a sua prova de fogo, que o próprio reconhece como um desafio para o qual espera estar à altura. O regresso do Maria Matos aos espaços de programação da capital insere-se num ciclo de reabilitações que a própria Câmara Municipal reconhece como fundamental para dotar Lisboa de equipamentos culturais com meios técnicos e humanos credíveis e profissionais. Foi concentrada nessa linha de actuação que entregou o Teatro Taborda ao Teatro da Garagem e abre agora um Maria Matos capaz de atrair um público diversificado e, inevitavelmente, completar a programação do São Luiz. Para este "jovem" programador, o desafio do Maria Matos constitui uma oportunidade de alargar não só o desejo de comunicar mas o de estabelecer laços com a comunidade artística e local. O orçamento de 500 mil euros para a programação foi dividido em concertos, dança, animação de rua, cinema, festivais e teatro numa programa que reflecte "o que quis" e não "o que foi possível", referiu na conferência de imprensa. O espaço conta não só com uma sala de 450 lugares mas também com um bar, que já existia e agora vai servir para experiências teatrais, sobretudo ao nível da dramaturgia. Assumindo uma linha atenta ao que de mais relevante se for fazendo para o mais alargado dos públicos, a aposta de Diogo Infante passa também pela aprendizagem constante. É o próprio que assume estar ainda a ver como tudo se organiza. Nesta conversa houve mais espaço para o programador que para o actor, mas para Diogo Infante nada se faz sem reflectir primeiro sobre as experiências que já se carregam.
Não consigo escolher com o gosto de outra pessoa.
Como é que surge o convite e como é que o recebeste?
Recebi-o com surpresa. Foi-me pedida uma reunião, eu não sabia bem ao que ia. A então vereadora da Cultura [Maria Manuel Pinto Barbosa] perguntou-me se eu alguma vez tinha pensado na possibilidade de dirigir artisticamente um teatro. E disse-me para pensar nisso, porque gostava de me convidar. Na altura havia duas opções: ou recuperavam o Maria Matos e faziam uma simples concessão a uma produtora para explorar o teatro, ou faziam um investimento e dotavam o teatro de equipamento técnico e humano de forma a poder, à semelhança do S. Luiz, criar uma programação regular. Pedi-lhe tempo para reflectir sobre estas questões e perceber até que ponto eu próprio tinha um projecto e em que moldes é que ele poderia ser desenvolvido. Acabei por achar que seria uma oportunidade única de poder dar um contributo.
Foi-te pedido um projecto pessoal ou que emprestasses a tua imagem pública a uma filosofia de programação?
Ambas as coisas. Tenho plena noção que há uma colagem à minha pessoa enquanto figura mais ou menos mediática. Quando me pediram para criar um projecto que revitalizasse este espaço e adquirisse uma identidade própria, estavam implicitamente a pedir que eu me associasse. E, pensando na minha postura enquanto actor, e encenador, nas escolhas que faço, nos projectos que desenvolvo, verifico que tenho sempre uma preocupação de comunicar, no sentido de me interessar principalmente chegar às pessoas. Trabalho no sentido de encontrar a melhor linguagem para chegar ao público. Nunca tive a pretensão, ou sequer a vocação, para desenvolver pura e simplesmente uma linguagem estética ou artística que se ache inovadora, irreverente ou que questione o establishment. Essa não é para mim uma preocupação. Achei, por isso, que aquilo que têm sido as premissas filosóficas e artísticas do meu próprio percurso se poderiam adequar à necessidade de um teatro com estas características, e decidi aceitar.
Isto é uma prova de fogo para ti.
Sim, acho que sim. Mas assumo a responsabilidade e encaro os desafios sempre pelo lado positivo. Se tivesse medo não tinha aceite e ficava em casa. Sei que tenho muito a aprender e estou disponível para isso. Sou suficientemente acessível para ouvir as pessoas e quando não sei ou não entendo determinadas matérias procuro aconselhar-me com pessoas mais avalizadas nessas áreas. Este primeiro alinhamento é resultado de alguma reflexão mas é também a consequência daquilo que intuitivamente gostaria de ver, o que para mim é essencial. Não enceno um texto de que não goste.
Deram-te um prazo?
O meu prazo é o meu contrato de três anos. Tenho três anos para mostrar o que valho.
Olhavas para o Maria Matos como?
Tinha uma imagem pouco simpática do Teatro, confesso. Achava-o descaracterizado, pouco confortável, com programação irregular. Não estou a culpar ninguém porque se deveu eventualmente às circunstâncias, à falta de investimento… Tudo o que agora se está a procurar implementar. Espero que isso venha a ter impacto e que as pessoas se distanciem da imagem que o Teatro tinha.
E como é que olhavas para os programadores?
Com um enorme respeito. Sempre achei que era imprimir um cunho. Tenho falado com uma série de programadores para me aperceber das dificuldades. Todos eles me disseram que a própria programação se vai definindo à medida do público, do espaço físico e social em que o teatro está inserido. Temos de reflectir as necessidades e ansiedades das pessoas à nossa volta. Daqui a um ou dois anos já terei uma noção mais razoável daquilo que é eficaz, saberei se posso investir mais numa zona em detrimento de outras.
Então qual é a nova filosofia do Maria Matos?
Ficou estabelecido que o eixo principal da actividade será o teatro, mas a programação vai contemplar outras áreas artísticas como a música, a dança ou o cinema não fazendo concessões na qualidade dos espectáculos programados. Às vezes há uma deturpação daquilo que é o sentido comercial do termo. Um teatro municipal não tem de ser um teatro comercial mas também não tem que ser um teatro para elites.
Qual é então a mais-valia de um espaço como este, sobretudo pensando que há um modelo muito semelhante que é o S. Luiz?
Acho que o S. Luiz tem vindo a definir uma linha que é muito eclética mas um bocadinho institucional, o que não invalida que se façam incursões com criadores mais alternativos. O S. Luiz tem um peso, seja pelo próprio edifício seja pelo seu programador. Acho que o Maria Matos pode oferecer um complemento: a possibilidade de criar uma ponte com linguagens mais apetecíveis para um público mais jovem e de alguma forma contribuir para que se crie uma dinâmica de público mais fluida e consequentemente com uma perspectiva de investimento a médio e longo prazo. No meu trabalho de actor acabo sempre por ser seduzido pelas novas dramaturgias que, de alguma fora, reflectem as grandes questões da nossa sociedade. Acho que o Maria Matos pode ser um espaço privilegiado nesse sentido. Não apenas para a dramaturgia estrangeira, ainda que seja forçosamente aquela que vai ditando a produção teatral, porque tem mais qualidade e oferece mais hipótese de escolha. Espero poder contribuir para aliciar, dinamizar e fundamentar a dramaturgia nacional. Um teatro municipal tem essa obrigação. Procurei contemplar isso na programação de duas formas, por um lado criando espaços onde capitalizar alguns dos dramaturgos que já existem e têm uma produção contínua e, por outro lado, recuperando um prémio de dramaturgia, para estimular e criar a possibilidade para as pessoas que querem escrever. Criar mecanismos que lhes permitam ter um confronto com a carpintaria teatral, o que passa pela relação directa com criadores, actores, encenadores, pôr as pessoas em contacto, aproximá-las.
Numa cidade com tão poucos espaços e num contexto com tão poucas oportunidades para projectos que possam experimentar ou criadores que queiram abordar outras linguagens faria ou não sentido que a Câmara, tendo um espaço como o Maria Matos, tivesse feito um investimento que lhe permitisse, por exemplo, potenciar esse aspecto mais desprotegido? Perdeu-se a oportunidade de criar no balcão uma sala estúdio.
Sim, desistiu-se. Pelo que percebi, era uma obra demasiado grande e ambiciosa.
Lamentas?
Ter-nos-ia permitido desenvolver projectos de outra natureza e linguagem. E de facto acho que a sala é suficientemente grande para poder suportar dois espaços. Teria sido muito interessante porque criaria um outro jogo de manobras. A partir do momento em que tenho uma sala de 450 lugares, isso condiciona as minhas opções. Embora tente dar espaço aos novos criadores e novas linguagens, terei forçosamente que enquadrar essas decisões na solidez dos próprios projectos. É uma questão subjectiva e delicada porque, quando tenho dez projectos para avaliar, sigo a minha intuição para perceber até que ponto as pessoas conseguem ter um discurso que é passível de se adaptar a um espaço destes, trabalhar a relação com o público. Por exemplo, vamos receber aqui em Agosto a Inestética, que trabalha num outro registo e outra linguagem. E tive receio de os pôr aqui um mês em cena. Vamos experimentar uma semana. Se correr bem, terei mais confiança e margem para investir no futuro. Eu tenho de gradualmente ir percebendo que tenho um orçamento e tenho de o rentabilizar. Tenho de justificar os investimentos que faço, o que exige cautela. Percebo a necessidade de proporcionar aos jovens criadores espaços alternativos onde possam livremente fazer as suas criações, mas acho que tem de haver alguma consciência por parte dos criativos e, sem os condicionar demasiado, lembrar-lhes que estão a ocupar e a usar estruturas públicas que existem com esse objectivo.
Razão pela qual se possa sentir na programação o estabelecimento de relações privilegiadas que têm a ver com a cautela que tiveste que ter neste primeiro ano?
Sempre que surgem questões com as quais não me sinto muito confortável, informo-me junto de pessoas que são mais capacitadas. É assim no teatro, como é na minha vida. O que me interessa é que a dinâmica criada seja feita pelas melhores pessoas que o saibam fazer. É uma necessidade natural. Se vier a descobrir neste processo que o retorno não corresponde às minhas expectativas, terei que encontrar outras que o consigam fazer. Mas não é só porque tenho em mãos um teatro e uma responsabilidade e que isto tem que correr bem. É porque assumo que há coisas que não sei. Essa questão para mim era importante, não se tratava de dinamizar um espaço qualquer, mas de dinamizar um espaço cultural que é da autarquia. Há uma ideia de serviço público que é muito importante
Isso já é mais o discurso do programador artístico que de um encenador ou actor. Há um conforto no papel?
De todo. Não me sinto nada confortável. Estou aqui há quatro ou cinco meses. Não estou confortável como actor, e represento há 16, quanto mais como programador. Não sinto que tenha mudado o discurso por ser programador. O meu discurso, no essencial, mantém-se o mesmo. Agora com outro tipo de noções e responsabilidades, além de ter uma programação forçosamente variada, que possa servir os diferentes públicos que interessam à cidade, das elites a um público menos formado e com menos capacidade de poder aderir a coisas alternativas. Não me posso dar ao luxo de ter a sala vazia. Se invisto e depois não tenho retorno, não consigo criar novos públicos. Estou disponível para arriscar: quero e vou fazê-lo. Mas não posso arriscar no nada… Às vezes as pessoas acham que tem direitos adquiridos. E eu lembro-me que há dez ou quinze anos ninguém me conhecia e eu também reivindicava um espaço que tive de conquistar e merecer. Hoje há muito mais gente a competir por esse espaço e tem de haver alguma sensibilidade de ambas as partes. Essa é a parte mais delicada desta função. A decisão sobre um espectáculo, sobre quanto tempo fica em cartaz, tem também a ver com o meu conhecimento do comportamento do público. Custa-me investir 50 ou 70 mil euros num projecto que sai de cena ao fim de três semanas, que é quando as pessoas se estão a mobilizar. Preciso dar tempo aos espectáculos. Se provar que o que tenho são espectáculos de qualidade, as pessoas também confiam. Mas não as posso defraudar.
Mas não estás à espera de 450 pessoas por noite.
Claro que não. Se tiver uma média de 200 fico muito contente, porque é uma média muito superior à média de um teatro. Claro que não vou conseguir isso em todos os projectos. Tenho a noção de que estou a correr alguns riscos e não quero pedir desculpas por isso, mas de facto não tenho este tipo de experiência no passado, vou aprendendo com o tempo. A única experiência que tenho é a minha própria actividade enquanto actor e programador de um teatro que sou eu próprio. Aqui, estou a lidar com coisas que me ultrapassam em absoluto, mas estou confiante. Não há resultados se não arriscarmos. Não posso programar uma coisa a pensar com a cabeça de outra pessoa. Não consigo escolher com o gosto de outra pessoa. É por isso que aqui estou.
É portanto uma questão de gosto?
Também é uma questão de gosto, claro. Sou incapaz de receber aqui qualquer coisa em que não acredite, porque o meu envolvimento estará forçosamente presente. A não ser que me imponham alguma coisa superiormente, mas essa questão não se coloca, porque isso ficou esclarecido desde o início que se sou director artístico para umas coisas, serei para outras. A responsabilidade é minha. Mas não sou eu que vou sempre encenar e interpretar. Acredito nos criadores, nos intérpretes e nos textos. Se posso fazer o meu trabalho, proporcionar-lhes as melhores condições para desenvolverem o seu trabalho, tirar partido de uma máquina de marketing e visibilidade; se conseguir não defraudar os públicos a que me estou a dirigir, talvez consiga criar aqui uma corrente que seja consequente e tenha resultados no futuro.
Não houve vontade de voltar a trazer o Teatro Infantil de Lisboa para o Maria Matos [de ode saiu em 2003, depois de vários anos no Teatro]?
Não. O TIL está interessado em ter o seu próprio espaço e sei que a CML está, neste momento, a pensar dotar o TIL de um espaço próprio, porque a sua actividade é, de resto, muito significativa. Ter o TIL aqui iria condicionar enormemente a programação, seria difícil conciliar a actividade que desenvolve com outro tipo de espectáculos. Iria ser um cunho tão marcante que mais valia entregar o Maria Matos ao TIL e esquecer o resto. O que não invalida que não se possa capitalizar esse potencial de público que foi desenvolvido pelo TIL e está aí para ser aproveitado. A programação vai integrar anualmente espectáculos infantis, em articulação com o calendário escolar.
O lugar de um programador é um cargo político?
De alguma forma. Eu vim aqui parar por convite de alguém que foi eleito politicamente. Mas eu não sinto necessidade de corresponder a um espectro político, no caso, o PSD. Isso nunca me foi pedido. As questões que levanto são de ordem política, mas independentes: as minhas convicções são as minhas convicções. O que me interessa é que os vários quadrantes se posicionem. Mas também não quero fazer disto nenhuma bandeira política. Não estou aqui para defender uma filosofia particular.
Mas há certamente uma vontade de marcar um estilo.
Devo confessar que a minha preocupação não foi procurar ser diferente nem fazer o que os outros não fazem. Isso é-me um bocadinho indiferente. Tenho uma estrutura que é Municipal, giro dinheiros públicos, tenho de chegar ao maior número de pessoas possível e devo fazê-lo de uma forma interessante e estimulante, dando oportunidade a novos criadores e ao mesmo tempo sem gastar demasiado dinheiro. Se o S. Luiz também o faz, embora numa outra vertente; se o Teatro Nacional não o faz mas deveria fazer; isso não me interessa. Concentro-me em criar aqui um espaço que seja uma referência de qualidade, onde apeteça às pessoas vir. Se há outros espaços, fantástico. Acho que o serviço público passa forçosamente por isto. Mas claro que falei muito com o Jorge Salavisa, claro que tenho uma noção do que cada um anda a fazer. Quero que as pessoas façam uma associação pavloviana: que pensem no Maria Matos e imediatamente pensem que o que aqui se faz é bom, que virão ver uma coisa fresca e diferente. Quero que se crie uma identidade, já que aqui não haverá lugar a uma estética definida, dado não sermos uma companhia. Mas há um patamar de qualidade. Depois verei se estou a ser demasiado ambicioso.
E quanto a programares projectos pessoais?
A primeira encenação é minha e foi uma coisa assumida. Mas tenho de ter algum cuidado porque o Teatro não existe para me servir a mim. Serve para servir o teatro. Esta peça, Laramie [de Mosiés Kaufman, sobre um jovem que foi assassinado nos EUA por ser homossexual], é uma coisa muito específica e particular e cabe dentro desta linha de teatro de serviço público. Por isso é que vai abrir a temporada: de alguma forma dá o mote para o que gostava que pudesse vir a ser o Maria Matos. É um texto assumidamente político e social, que coloca questões que estão na ordem do dia e com as quais lidamos diariamente. O texto não é convencional, segue uma linha documental. O que me interessa sobretudo é criar, mais do que um espaço de entretenimento, um espaço de reflexão, de debate, onde as pessoas se possam encontrar e discutir. Acho que a arte tem forçosamente de ser política no sentido em que nos devolve uma imagem qualquer de nos próprios, por mais que ela nos possa incomodar. Gostava de, dentro do possível, incomodar as pessoas, já que dizer que vamos abalar consciências é um bocadinho pretensioso. Isso não significa nenhuma espécie de concessão. Não creio que esteja a trabalhar para uma elite; pelo contrário, estou a falar de coisas muito simples.
Que poder tem um programador?
O poder do programador está no orçamento que tem, que gere e distribui, contemplando este projecto em detrimento daquele. Eu tenho de fazer escolhas. Essa é a parte mais difícil. Até porque sou actor e estou inserido no meio, estou sistematicamente a ser confrontado com colegas. É difícil dizer que não, que aquilo não se enquadra, ou que simplesmente não tenho tempo ou dinheiro que chegue. Mas é uma vicissitude, tenho de aprender a fazer. Agora ainda não tenho certezas, tenho muitas dúvidas. Mas tenho algumas intuições e convicções. Conto com a minha experiência no meio teatral e conto muito com o próprio meio. Eu lanço reptos e desafios mas também estou à espera de ser desafiado, surpreendido. Procuro não ter preconceitos nem ideias muito definidas sobre o que deve ser a programação. Quero dar o mote, mostrar que o teatro pode ser interventivo, mas isso não significa que amanhã não possa fazer um musical. A programação deve ser variada para que não tenhamos exclusivamente um tipo de publico.
Que podem os espaços quando o Teatro Nacional está sob contestação, como podem contribuir para uma circulação, evitando nichos e sobreposições de programação?
Não se evita. Os teatros nacionais estão sob outra alçada. A soluçãopassa por uma maior proximidade com os seus programadores. Podemos eventualmente dialogar mais, mas se isso não acontece, é também o reflexo da desunião da própria classe. Os teatros independentes não se dão, falam-se pouco, não se vão ver uns aos outros. As pessoas vivem nos seus nichos e trabalham para o seu público. É tudo muito segmentarizado. E deveríamos trabalhar no sentido de formar um público que não seja exclusivo. Para quem a ida ao teatro seja uma necessidade: isso é uma coisa que se educa e não se faz a partir de um único ponto, faz-se de forma concertada.
O Teatro Nacional é reflexo disso também?
O caso do Nacional é particular. Acho que o meio se sente incomodado por estes jogos de cintura políticos. Pareceu-me que os argumentos colocados eram falsos. Há uma consternação e uma sensação de desconforto. O Teatro Nacional é um elefante há demasiado tempo e, em última análise, é contra isso que o meio está. Não tenho nada contra o [António] Lagarto ou o [Carlos] Fragateiro desde que façam o que se espera daquele espaço. O Teatro Nacional tem de ser a referência. Os teatros nacionais e municipais surgem para que se possa continuar a fazer uma série de projectos que em circunstâncias normais não têm viabilidade orçamental. Se um teatro independente de grande porte tem 500 mil euros para a gestão de tudo, eu tenho 500 mil só para a programação. Tenho muito mais possibilidade de fazer os espectáculos que importa fazer. E muito mais tem o Teatro Nacional. Espero poder ver ali as grandes referências universais: é o que acontece na Europa. Porque é que no nosso país não acontece isso? Eu dou pouco pelas coisas que se fazem no Nacional, e sou actor. Porque é a Portugal Telecom retirou o patrocínio ao Teatro Nacional? Porque provavelmente não conseguiu corresponder às expectativas. Estas questões têm de ser equacionadas. E o meio sente que o Nacional é maltratado.
Recebi-o com surpresa. Foi-me pedida uma reunião, eu não sabia bem ao que ia. A então vereadora da Cultura [Maria Manuel Pinto Barbosa] perguntou-me se eu alguma vez tinha pensado na possibilidade de dirigir artisticamente um teatro. E disse-me para pensar nisso, porque gostava de me convidar. Na altura havia duas opções: ou recuperavam o Maria Matos e faziam uma simples concessão a uma produtora para explorar o teatro, ou faziam um investimento e dotavam o teatro de equipamento técnico e humano de forma a poder, à semelhança do S. Luiz, criar uma programação regular. Pedi-lhe tempo para reflectir sobre estas questões e perceber até que ponto eu próprio tinha um projecto e em que moldes é que ele poderia ser desenvolvido. Acabei por achar que seria uma oportunidade única de poder dar um contributo.
Foi-te pedido um projecto pessoal ou que emprestasses a tua imagem pública a uma filosofia de programação?
Ambas as coisas. Tenho plena noção que há uma colagem à minha pessoa enquanto figura mais ou menos mediática. Quando me pediram para criar um projecto que revitalizasse este espaço e adquirisse uma identidade própria, estavam implicitamente a pedir que eu me associasse. E, pensando na minha postura enquanto actor, e encenador, nas escolhas que faço, nos projectos que desenvolvo, verifico que tenho sempre uma preocupação de comunicar, no sentido de me interessar principalmente chegar às pessoas. Trabalho no sentido de encontrar a melhor linguagem para chegar ao público. Nunca tive a pretensão, ou sequer a vocação, para desenvolver pura e simplesmente uma linguagem estética ou artística que se ache inovadora, irreverente ou que questione o establishment. Essa não é para mim uma preocupação. Achei, por isso, que aquilo que têm sido as premissas filosóficas e artísticas do meu próprio percurso se poderiam adequar à necessidade de um teatro com estas características, e decidi aceitar.
Isto é uma prova de fogo para ti.
Sim, acho que sim. Mas assumo a responsabilidade e encaro os desafios sempre pelo lado positivo. Se tivesse medo não tinha aceite e ficava em casa. Sei que tenho muito a aprender e estou disponível para isso. Sou suficientemente acessível para ouvir as pessoas e quando não sei ou não entendo determinadas matérias procuro aconselhar-me com pessoas mais avalizadas nessas áreas. Este primeiro alinhamento é resultado de alguma reflexão mas é também a consequência daquilo que intuitivamente gostaria de ver, o que para mim é essencial. Não enceno um texto de que não goste.
Deram-te um prazo?
O meu prazo é o meu contrato de três anos. Tenho três anos para mostrar o que valho.
Olhavas para o Maria Matos como?
Tinha uma imagem pouco simpática do Teatro, confesso. Achava-o descaracterizado, pouco confortável, com programação irregular. Não estou a culpar ninguém porque se deveu eventualmente às circunstâncias, à falta de investimento… Tudo o que agora se está a procurar implementar. Espero que isso venha a ter impacto e que as pessoas se distanciem da imagem que o Teatro tinha.
E como é que olhavas para os programadores?
Com um enorme respeito. Sempre achei que era imprimir um cunho. Tenho falado com uma série de programadores para me aperceber das dificuldades. Todos eles me disseram que a própria programação se vai definindo à medida do público, do espaço físico e social em que o teatro está inserido. Temos de reflectir as necessidades e ansiedades das pessoas à nossa volta. Daqui a um ou dois anos já terei uma noção mais razoável daquilo que é eficaz, saberei se posso investir mais numa zona em detrimento de outras.
Então qual é a nova filosofia do Maria Matos?
Ficou estabelecido que o eixo principal da actividade será o teatro, mas a programação vai contemplar outras áreas artísticas como a música, a dança ou o cinema não fazendo concessões na qualidade dos espectáculos programados. Às vezes há uma deturpação daquilo que é o sentido comercial do termo. Um teatro municipal não tem de ser um teatro comercial mas também não tem que ser um teatro para elites.
Qual é então a mais-valia de um espaço como este, sobretudo pensando que há um modelo muito semelhante que é o S. Luiz?
Acho que o S. Luiz tem vindo a definir uma linha que é muito eclética mas um bocadinho institucional, o que não invalida que se façam incursões com criadores mais alternativos. O S. Luiz tem um peso, seja pelo próprio edifício seja pelo seu programador. Acho que o Maria Matos pode oferecer um complemento: a possibilidade de criar uma ponte com linguagens mais apetecíveis para um público mais jovem e de alguma forma contribuir para que se crie uma dinâmica de público mais fluida e consequentemente com uma perspectiva de investimento a médio e longo prazo. No meu trabalho de actor acabo sempre por ser seduzido pelas novas dramaturgias que, de alguma fora, reflectem as grandes questões da nossa sociedade. Acho que o Maria Matos pode ser um espaço privilegiado nesse sentido. Não apenas para a dramaturgia estrangeira, ainda que seja forçosamente aquela que vai ditando a produção teatral, porque tem mais qualidade e oferece mais hipótese de escolha. Espero poder contribuir para aliciar, dinamizar e fundamentar a dramaturgia nacional. Um teatro municipal tem essa obrigação. Procurei contemplar isso na programação de duas formas, por um lado criando espaços onde capitalizar alguns dos dramaturgos que já existem e têm uma produção contínua e, por outro lado, recuperando um prémio de dramaturgia, para estimular e criar a possibilidade para as pessoas que querem escrever. Criar mecanismos que lhes permitam ter um confronto com a carpintaria teatral, o que passa pela relação directa com criadores, actores, encenadores, pôr as pessoas em contacto, aproximá-las.
Numa cidade com tão poucos espaços e num contexto com tão poucas oportunidades para projectos que possam experimentar ou criadores que queiram abordar outras linguagens faria ou não sentido que a Câmara, tendo um espaço como o Maria Matos, tivesse feito um investimento que lhe permitisse, por exemplo, potenciar esse aspecto mais desprotegido? Perdeu-se a oportunidade de criar no balcão uma sala estúdio.
Sim, desistiu-se. Pelo que percebi, era uma obra demasiado grande e ambiciosa.
Lamentas?
Ter-nos-ia permitido desenvolver projectos de outra natureza e linguagem. E de facto acho que a sala é suficientemente grande para poder suportar dois espaços. Teria sido muito interessante porque criaria um outro jogo de manobras. A partir do momento em que tenho uma sala de 450 lugares, isso condiciona as minhas opções. Embora tente dar espaço aos novos criadores e novas linguagens, terei forçosamente que enquadrar essas decisões na solidez dos próprios projectos. É uma questão subjectiva e delicada porque, quando tenho dez projectos para avaliar, sigo a minha intuição para perceber até que ponto as pessoas conseguem ter um discurso que é passível de se adaptar a um espaço destes, trabalhar a relação com o público. Por exemplo, vamos receber aqui em Agosto a Inestética, que trabalha num outro registo e outra linguagem. E tive receio de os pôr aqui um mês em cena. Vamos experimentar uma semana. Se correr bem, terei mais confiança e margem para investir no futuro. Eu tenho de gradualmente ir percebendo que tenho um orçamento e tenho de o rentabilizar. Tenho de justificar os investimentos que faço, o que exige cautela. Percebo a necessidade de proporcionar aos jovens criadores espaços alternativos onde possam livremente fazer as suas criações, mas acho que tem de haver alguma consciência por parte dos criativos e, sem os condicionar demasiado, lembrar-lhes que estão a ocupar e a usar estruturas públicas que existem com esse objectivo.
Razão pela qual se possa sentir na programação o estabelecimento de relações privilegiadas que têm a ver com a cautela que tiveste que ter neste primeiro ano?
Sempre que surgem questões com as quais não me sinto muito confortável, informo-me junto de pessoas que são mais capacitadas. É assim no teatro, como é na minha vida. O que me interessa é que a dinâmica criada seja feita pelas melhores pessoas que o saibam fazer. É uma necessidade natural. Se vier a descobrir neste processo que o retorno não corresponde às minhas expectativas, terei que encontrar outras que o consigam fazer. Mas não é só porque tenho em mãos um teatro e uma responsabilidade e que isto tem que correr bem. É porque assumo que há coisas que não sei. Essa questão para mim era importante, não se tratava de dinamizar um espaço qualquer, mas de dinamizar um espaço cultural que é da autarquia. Há uma ideia de serviço público que é muito importante
Isso já é mais o discurso do programador artístico que de um encenador ou actor. Há um conforto no papel?
De todo. Não me sinto nada confortável. Estou aqui há quatro ou cinco meses. Não estou confortável como actor, e represento há 16, quanto mais como programador. Não sinto que tenha mudado o discurso por ser programador. O meu discurso, no essencial, mantém-se o mesmo. Agora com outro tipo de noções e responsabilidades, além de ter uma programação forçosamente variada, que possa servir os diferentes públicos que interessam à cidade, das elites a um público menos formado e com menos capacidade de poder aderir a coisas alternativas. Não me posso dar ao luxo de ter a sala vazia. Se invisto e depois não tenho retorno, não consigo criar novos públicos. Estou disponível para arriscar: quero e vou fazê-lo. Mas não posso arriscar no nada… Às vezes as pessoas acham que tem direitos adquiridos. E eu lembro-me que há dez ou quinze anos ninguém me conhecia e eu também reivindicava um espaço que tive de conquistar e merecer. Hoje há muito mais gente a competir por esse espaço e tem de haver alguma sensibilidade de ambas as partes. Essa é a parte mais delicada desta função. A decisão sobre um espectáculo, sobre quanto tempo fica em cartaz, tem também a ver com o meu conhecimento do comportamento do público. Custa-me investir 50 ou 70 mil euros num projecto que sai de cena ao fim de três semanas, que é quando as pessoas se estão a mobilizar. Preciso dar tempo aos espectáculos. Se provar que o que tenho são espectáculos de qualidade, as pessoas também confiam. Mas não as posso defraudar.
Mas não estás à espera de 450 pessoas por noite.
Claro que não. Se tiver uma média de 200 fico muito contente, porque é uma média muito superior à média de um teatro. Claro que não vou conseguir isso em todos os projectos. Tenho a noção de que estou a correr alguns riscos e não quero pedir desculpas por isso, mas de facto não tenho este tipo de experiência no passado, vou aprendendo com o tempo. A única experiência que tenho é a minha própria actividade enquanto actor e programador de um teatro que sou eu próprio. Aqui, estou a lidar com coisas que me ultrapassam em absoluto, mas estou confiante. Não há resultados se não arriscarmos. Não posso programar uma coisa a pensar com a cabeça de outra pessoa. Não consigo escolher com o gosto de outra pessoa. É por isso que aqui estou.
É portanto uma questão de gosto?
Também é uma questão de gosto, claro. Sou incapaz de receber aqui qualquer coisa em que não acredite, porque o meu envolvimento estará forçosamente presente. A não ser que me imponham alguma coisa superiormente, mas essa questão não se coloca, porque isso ficou esclarecido desde o início que se sou director artístico para umas coisas, serei para outras. A responsabilidade é minha. Mas não sou eu que vou sempre encenar e interpretar. Acredito nos criadores, nos intérpretes e nos textos. Se posso fazer o meu trabalho, proporcionar-lhes as melhores condições para desenvolverem o seu trabalho, tirar partido de uma máquina de marketing e visibilidade; se conseguir não defraudar os públicos a que me estou a dirigir, talvez consiga criar aqui uma corrente que seja consequente e tenha resultados no futuro.
Não houve vontade de voltar a trazer o Teatro Infantil de Lisboa para o Maria Matos [de ode saiu em 2003, depois de vários anos no Teatro]?
Não. O TIL está interessado em ter o seu próprio espaço e sei que a CML está, neste momento, a pensar dotar o TIL de um espaço próprio, porque a sua actividade é, de resto, muito significativa. Ter o TIL aqui iria condicionar enormemente a programação, seria difícil conciliar a actividade que desenvolve com outro tipo de espectáculos. Iria ser um cunho tão marcante que mais valia entregar o Maria Matos ao TIL e esquecer o resto. O que não invalida que não se possa capitalizar esse potencial de público que foi desenvolvido pelo TIL e está aí para ser aproveitado. A programação vai integrar anualmente espectáculos infantis, em articulação com o calendário escolar.
O lugar de um programador é um cargo político?
De alguma forma. Eu vim aqui parar por convite de alguém que foi eleito politicamente. Mas eu não sinto necessidade de corresponder a um espectro político, no caso, o PSD. Isso nunca me foi pedido. As questões que levanto são de ordem política, mas independentes: as minhas convicções são as minhas convicções. O que me interessa é que os vários quadrantes se posicionem. Mas também não quero fazer disto nenhuma bandeira política. Não estou aqui para defender uma filosofia particular.
Mas há certamente uma vontade de marcar um estilo.
Devo confessar que a minha preocupação não foi procurar ser diferente nem fazer o que os outros não fazem. Isso é-me um bocadinho indiferente. Tenho uma estrutura que é Municipal, giro dinheiros públicos, tenho de chegar ao maior número de pessoas possível e devo fazê-lo de uma forma interessante e estimulante, dando oportunidade a novos criadores e ao mesmo tempo sem gastar demasiado dinheiro. Se o S. Luiz também o faz, embora numa outra vertente; se o Teatro Nacional não o faz mas deveria fazer; isso não me interessa. Concentro-me em criar aqui um espaço que seja uma referência de qualidade, onde apeteça às pessoas vir. Se há outros espaços, fantástico. Acho que o serviço público passa forçosamente por isto. Mas claro que falei muito com o Jorge Salavisa, claro que tenho uma noção do que cada um anda a fazer. Quero que as pessoas façam uma associação pavloviana: que pensem no Maria Matos e imediatamente pensem que o que aqui se faz é bom, que virão ver uma coisa fresca e diferente. Quero que se crie uma identidade, já que aqui não haverá lugar a uma estética definida, dado não sermos uma companhia. Mas há um patamar de qualidade. Depois verei se estou a ser demasiado ambicioso.
E quanto a programares projectos pessoais?
A primeira encenação é minha e foi uma coisa assumida. Mas tenho de ter algum cuidado porque o Teatro não existe para me servir a mim. Serve para servir o teatro. Esta peça, Laramie [de Mosiés Kaufman, sobre um jovem que foi assassinado nos EUA por ser homossexual], é uma coisa muito específica e particular e cabe dentro desta linha de teatro de serviço público. Por isso é que vai abrir a temporada: de alguma forma dá o mote para o que gostava que pudesse vir a ser o Maria Matos. É um texto assumidamente político e social, que coloca questões que estão na ordem do dia e com as quais lidamos diariamente. O texto não é convencional, segue uma linha documental. O que me interessa sobretudo é criar, mais do que um espaço de entretenimento, um espaço de reflexão, de debate, onde as pessoas se possam encontrar e discutir. Acho que a arte tem forçosamente de ser política no sentido em que nos devolve uma imagem qualquer de nos próprios, por mais que ela nos possa incomodar. Gostava de, dentro do possível, incomodar as pessoas, já que dizer que vamos abalar consciências é um bocadinho pretensioso. Isso não significa nenhuma espécie de concessão. Não creio que esteja a trabalhar para uma elite; pelo contrário, estou a falar de coisas muito simples.
Que poder tem um programador?
O poder do programador está no orçamento que tem, que gere e distribui, contemplando este projecto em detrimento daquele. Eu tenho de fazer escolhas. Essa é a parte mais difícil. Até porque sou actor e estou inserido no meio, estou sistematicamente a ser confrontado com colegas. É difícil dizer que não, que aquilo não se enquadra, ou que simplesmente não tenho tempo ou dinheiro que chegue. Mas é uma vicissitude, tenho de aprender a fazer. Agora ainda não tenho certezas, tenho muitas dúvidas. Mas tenho algumas intuições e convicções. Conto com a minha experiência no meio teatral e conto muito com o próprio meio. Eu lanço reptos e desafios mas também estou à espera de ser desafiado, surpreendido. Procuro não ter preconceitos nem ideias muito definidas sobre o que deve ser a programação. Quero dar o mote, mostrar que o teatro pode ser interventivo, mas isso não significa que amanhã não possa fazer um musical. A programação deve ser variada para que não tenhamos exclusivamente um tipo de publico.
Que podem os espaços quando o Teatro Nacional está sob contestação, como podem contribuir para uma circulação, evitando nichos e sobreposições de programação?
Não se evita. Os teatros nacionais estão sob outra alçada. A soluçãopassa por uma maior proximidade com os seus programadores. Podemos eventualmente dialogar mais, mas se isso não acontece, é também o reflexo da desunião da própria classe. Os teatros independentes não se dão, falam-se pouco, não se vão ver uns aos outros. As pessoas vivem nos seus nichos e trabalham para o seu público. É tudo muito segmentarizado. E deveríamos trabalhar no sentido de formar um público que não seja exclusivo. Para quem a ida ao teatro seja uma necessidade: isso é uma coisa que se educa e não se faz a partir de um único ponto, faz-se de forma concertada.
O Teatro Nacional é reflexo disso também?
O caso do Nacional é particular. Acho que o meio se sente incomodado por estes jogos de cintura políticos. Pareceu-me que os argumentos colocados eram falsos. Há uma consternação e uma sensação de desconforto. O Teatro Nacional é um elefante há demasiado tempo e, em última análise, é contra isso que o meio está. Não tenho nada contra o [António] Lagarto ou o [Carlos] Fragateiro desde que façam o que se espera daquele espaço. O Teatro Nacional tem de ser a referência. Os teatros nacionais e municipais surgem para que se possa continuar a fazer uma série de projectos que em circunstâncias normais não têm viabilidade orçamental. Se um teatro independente de grande porte tem 500 mil euros para a gestão de tudo, eu tenho 500 mil só para a programação. Tenho muito mais possibilidade de fazer os espectáculos que importa fazer. E muito mais tem o Teatro Nacional. Espero poder ver ali as grandes referências universais: é o que acontece na Europa. Porque é que no nosso país não acontece isso? Eu dou pouco pelas coisas que se fazem no Nacional, e sou actor. Porque é a Portugal Telecom retirou o patrocínio ao Teatro Nacional? Porque provavelmente não conseguiu corresponder às expectativas. Estas questões têm de ser equacionadas. E o meio sente que o Nacional é maltratado.
Amanhã: comentário final
Já publicadas: Giacomo Scalisi, consultor para o teatro do Centro Cultural de Belém; Marta Furtado, responsável pela programação de artes performativas da Galeria Zé dos Bois; Jorge Salavisa, director artístico do São Luiz - Teatro Municipal; Francisco Frazão, assessor para o teatro da Culturgest
Agradecimentos: Mónica Guerreiro
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