A proposta do jornal Expresso era simples: juntar dois dos mais relevantes nomes da criacao contemporânea nacional, num diálogo sobre o teatro, o fazer teatral, as ideologias e conviccoes. No fundo, pô-los a falar, finalmente sobre o que os junta e afasta. Luís Miguel Cintra, Prémio Pessoa 2005, actor, encenador e co-director do Teatro da Cornucópia, e André e. Teodósio, actor, encenador e membro do Teatro Praga em conversa na edicao de hoje do Expresso.
Um excerto:
"A.E.T. -Agora, há um esquema qualquer, gigante, que nos ultrapassa a todos, que a televisão e os outros meios de comunicação repetem, no qual se sublinha a necessidade de repertório e a importância dos clássicos... O teatro de repertório não pode ser a matriz; e não podemos ser todos julgados pelo «modelo» ou a «matriz» Luís Miguel Cintra.
L.M.C. - Agradeço imenso que o digas.
A.E.T. - O Luís Miguel Cintra é muito importante, mas não pode ser o único. No teatro, tem de haver diferenciação. Para se fazer Brecht tem de se contrariar Brecht. Para se fazer teatro em Portugal tem de se contradizer Luís Miguel Cintra.
L.M.C. - Mas tu sentes que a existência de uma companhia como a nossa e que os trabalhos que nós fazemos estrangula a hipótese de se fazerem outras coisas?
A.E.T. - Estrangula muito! A nível do pensamento. Porque tem qualidade, porque é um trabalho total de encenador e porque surgiu num período em que girava à volta da Cornucópia muita gente com muito talento, realizadores, escritores, poetas, actores... Criou-se uma determinada facção da actividade cultural que parou no tempo, ao contrário do seu criador, e que julga tudo pela mesma bitola. O que é político para o L.M.C. é ideológico para outros.
L.M.C. - Eu percebo. Não acho que a culpa seja da Cornucópia. A forma como o chamado público encara um trabalho assim é que é errada. Também nos sentimos presos dessa recepção por parte dos espectadores...
L.M.C. - Os perigos são de uma sociedade como a nossa, na qual o espectador, em vez de vir ver o nosso trabalho com curiosidade e com a cabeça aberta (o que seria desejável), acha que este é «o» tipo de trabalho e não «um» tipo de trabalho. Tem a cabeça condicionada: vem ver uma companhia de prestígio. Já vivi num momento histórico em que a relação com o espectador não era essa. Hoje, essa relação prende o próprio trabalho dos criadores de teatro, abastarda a intenção dos trabalhos. Gostaria de me sentir numa situação de igualdade com vocês. Há uma hierarquização das companhias, com reflexos no apoio do Estado às companhias, e que é perfeitamente perversa. Anula e estraga uma relação muito mais leal com o espectador, ao contrário do que eu gostaria.
A.E.T. - Este fascínio pela Cornucópia deve-se em muito ao trabalho, é ele que cria esse fascínio. Há trabalhos que são arrasadores, e é por isso que eu acho que existem perigos na metáfora e no símbolo. Acho muito bem que o trabalho exista, mas é muito perigoso quando existe uma classe fora deste que considera que apenas deve existir uma determinada forma. Não há diversidade, mas só igualdade. Com esses espectadores, que são de uma determinada importância e que geram novas gerações em diversas áreas, continua-se a perpetuar a ideia de uma companhia com um teatro total. Há uns tempos, alguém me dizia que queria uma actriz que era da Cornucópia e só podia ser essa actriz. Depois há quem vá comprar o mesmo tecido vermelho que a Cornucópia usou num determinado espectáculo. Existe esta história da fama da Cornucópia que se intromete sempre no caminho.
L.M.C. - Não tinha essas ideias. É sinistro!
A.E.T. - Não acho que o L.M.C. tenha de mudar em nada. Há muitas outras companhias para criar diferenciação. A sociedade anda perdida e tenta-se agarrar a qualquer coisa. Apareceu uma linguagem tão arrasadora que as pessoas apanham-na e guardam-na.
(...)
L.M.C. - Tenho pensado que uma forma de escapar a uma relação de cliente com o espectador é a possibilidade de estabelecer um público minoritário. Não ter medo de trabalhar para um pequeno grupo, em vez de ter uma relação com todo o público, o que acho necessariamente superficial e ilusório.
A.E.T. - Podemos funcionar em pequenas comunidades. Claro que a nossa comunidade será muito menor. Ser político é trabalhar para poucas pessoas. Não acredito em espectáculos para duas mil pessoas, isso é tornar todos iguais.
L.M.C. - Antes havia muito menos coisas. (...) Vocês, com dez anos, ainda são uma novidade. Para a vossa geração, é muito mais difícil inserirem-se na vida cultural. Não sei até que ponto isso não tem reflexo nas escolhas artísticas. Como não é possível haver uma inserção na cidade, correm o risco de cair numa espécie de mecanismo do género «façamos o que gostamos mais e desistamos de ter muito público...» Não terão vocês se acomodado, consolando-se com o pequeno lugar que a sociedade vos permite e criando algo muito concentrado em vocês próprios, fazendo do teatro uma necessidade de expressão mais do que de comunicação?
A.E.T. - Nós nunca nos inserimos na sociedade. Se nós desistirmos, e muitos outros como nós, fica apenas o L.M.C. Não vamos desistir. Nunca vamos ser compreendidos por muitas pessoas. Tentamos não parar. Queremos criar a diferença.
L.M.C. - Só existes se fores diferente?
A.E.T. - É importante haver uma diferenciação, do ponto de vista político. Cada vez há menos indivíduos, cada vez há mais pessoas com as mesmas ideias. O que não quer dizer que as pessoas não sejam inteligentes. (...)"
Entrevista de Cristina Margato. Fotografia de Ana Baiao. edit e links da responsabilidade do blog. A publicacao deste excerto, da qual foi dado conhecimento à jornalista Cristina Margato somente depois de publicado - o que constitui um erro -, nao substitui a leitura integral do artigo, ainda disponivel online, mas brevemente de acesso restrito. Nao houve, da parte do autor do blog qualquer intencao em atingir os direios autorais das jornalistas, mas somente dar conhecimento aos leitores de um importante documento sobre criacao teatral. As regras pelas quais se regem as citacoes e referencias ainda nao foram definidas para a blogosfera, estando dependente da ética e responsabilidade de cada um o uso de documentos externos. A politica definida por este blog no que diz respeito a textos de terceiros obriga a uma clara identificacao dos seus autores e fontes utilizadas, quer se tratem de textos cedidos, encomendas ou simplemente citados. Tanto quanto possivel, no caso de citacoes, o blog entra em contacto com os autores, se assim se justificar. No caso concreto, impedimentos vários nao o permitiram antes da publicacao, razao pela qual agora se faz esta nota.
Ler no blog, notas teatrais de André e. Teodósio e no site do Prémio Pessoa, seccao Laureado 2005, uma entrevista a Luís Miguel Cintra.
12 comentários:
Só ainda não vi nenhum trabalho do Teatro Praga porque, vivendo no Porto, tenho de dosear as minhas viagens a Lisboa.
Mas não me parece que a dificuldade de afirmação de uma companhia como essa se deva a alguém como o Luís Miguel Cintra. Tudo aquilo que é válido toma um espaço arrasador, e ainda bem. Tudo o que é experimental tem de construir o seu lugar. Mas não à custa de...
o marketing do ser diferente por si só é ridiculo, é o começo da moda mesmo que contra a moda. E é também a reacção em vez da acção. Os Clássicos são isso mesmo, pode-se desvirtuar Brecht ou tocar Debussy em versão Heavy Metal, como experiência é engraçado, como manifestação artística representa normalmente uma incapacidade de ser original, não percebendo que ir à origem não poderá ser o contrariar o que é realmente original. A originalidade não se esgota assim tão facilmente, não é necessário estar sempre a desvirtuar, a contrariar ou a imitar.
Há um eqívoco nisto tudo. Nem a Cornucópia é aquilo que era: os seus trabalhos andam à volta de velhos clichés há muito ultrapasados - em sum, estão velhos.
Nem o André e. Teodósio ou o Teatro Praga são referência de qualidade. Quanto muito de cabotinismo.
achei tudo um pouco simples de mais para quem se quer afirmar...
o LMCintra, soa tudo muito esgotado... é bom, mas...
Mas quem é este André e como é que uma palhaçada destas vai parar ao Expresso? Isto parece um artigo de tabloide de segunda... Já não entendo nada... O Fragateiro vai tomando conta de muitos teatros e os miúdos pseudo artistas do Praga estão na moda e aparecem muito nos meios de comunicação. O que é que se passa?
Palavra de honra que não via tanto disparate junto há muito tempo! O sr Luis Miguel Sintra que mereçe todo o meu respeito , desceu do seu pedestal (altamente subsidiado , pois claro) para falar com o puto! O puto , o andre , que pensa que é diferente! ficou todo contente! Vamos la a ver! Pareçe que o teatro segundo o PRAGA se tiver mais de 3 espectadores é uma merda! pois claro! com guita no bolso qualquer criação artística dispensa público! mas o que o Andre tem de entender é que na verdade o teatro que o PRAGA faz é : antigo , desactualizado , ja visto e pretensioso .Uma cambada de pseudo-intelectuais que julgam que por lerem uns livros ja são uns genios da criação! Não meus amigos! experimentem fazer teatro para o publico e acima de tudo não pensem que o vosso grupo faz parte de uma minoria , pelo contrario , voçês infelizmente são a maioria! Quem perde é o publico e os contribuintes! Por sorte estão num país em que ironicamente o mainstream instalado é uma anedota! vcs não são off! Mais in não se pode ser! só mais uma sugestão: epa evoluam um bocadito , façam teatro mais moderno , mais inovador e mais inventivo , isso que vcs andam a fazer tem mais de 40 anos e o amiguinho LMC devia explicar isso ao seu afilhado , ele sabe.. ele sabe...
Palavra de honra que não via tanto disparate junto há muito tempo! O sr Luis Miguel Sintra que mereçe todo o meu respeito , desceu do seu pedestal (altamente subsidiado , pois claro) para falar com o puto! O puto , o andre , que pensa que é diferente! ficou todo contente! Vamos la a ver! Pareçe que o teatro segundo o PRAGA se tiver mais de 3 espectadores é uma merda! pois claro! com guita no bolso qualquer criação artística dispensa público! mas o que o Andre tem de entender é que na verdade o teatro que o PRAGA faz é : antigo , desactualizado , ja visto e pretensioso .Uma cambada de pseudo-intelectuais que julgam que por lerem uns livros ja são uns genios da criação! Não meus amigos! experimentem fazer teatro para o publico e acima de tudo não pensem que o vosso grupo faz parte de uma minoria , pelo contrario , voçês infelizmente são a maioria! Quem perde é o publico e os contribuintes! Por sorte estão num país em que ironicamente o mainstream instalado é uma anedota! vcs não são off! Mais in não se pode ser! só mais uma sugestão: epa evoluam um bocadito , façam teatro mais moderno , mais inovador e mais inventivo , isso que vcs andam a fazer tem mais de 40 anos e o amiguinho LMC devia explicar isso ao seu afilhado , ele sabe.. ele sabe...
esta entrevista dá graça! O A.E.T. completamente serôdio a pôr-se em bicos de pés e,o Luís Miguel Cintra a querer (ele quer mas não consegue)fazer o papel de bonzinho... Ó Luís Miguel não há necessidade! O puto ainda não nasceu e já o mataste!! Com as afirmações (aldrabices)que dizes, andas a confundir a cabeças dos xavalos que andam por aí
Tudo isto acabará num drama familiar,com LMC sentado em frente a uma cornucópia, proferindo a seguinte frase: O meu reino, o meu reino por um André Teodosio...lol
O Praga e a Cornucopia....Que mais se pode desejar!?... Aleluia! Na zona de Lisboa : Falesia mais alta , cabo espichel! Bom mergulho..
À parte de tudo, adicionem o A.T no facebook... 10 minutos a analisar os comentários, as fotos, a vida social, os clichés, a arrogância, o snobismo no mau sentido bastam para perceber a essência do puto... Já agora, o LMC não está no facebook....
O teatro praga esteve no Porto
https://www.bol.pt/Comprar/Bilhetes/39893-teatro_praga_zululuzu-teatro_municipal_rivoli/
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