terça-feira, dezembro 20, 2005

Perseguir o movimento: nos bastidores de D. Quixote (II)

Ana Pereira Caldas faz parte do júri dos Prémios Almada e Ribeiro da Fonte 2005 na categoria Dança, que o Ministério da Cultura atribui todos os anos a personalidades da área da música, dança e teatro. O convite foi feito por Paulo Cunha e Silva, ex-director do Instituto das Artes, mas a directora da CNB aguarda confirmação do novo director, ainda por empossar, o músico Jorge Vaz de Carvalho. Esta é uma das ligações que Ana Pereira Caldas tem com a tutela, salientando que não é uma relação privilegiada. «Fui uma vez chamada ao Ministério, desde que aqui estou [2003]. De resto nunca me pediram opinião.». Sobre os anos mais recentes, ou seja, desde que entrou em funções à frente da CNB, diz que a relação nem sempre foi fácil: «agora parece que, com a ajuda do Secretário de Estado [Mário Vieira de Carvalho], as coisas estão a melhorar, mas os últimos anos foram muito difíceis. Quando nos deram o [Teatro] Camões, depois da recusa do [Teatro Nacional] S. Carlos em administrá-lo - era essa a intenção do [ex-ministro da Cultura, do PS, José] Sasportes, recebemos um teatro vazio, com os técnicos a virem da CNB e sem um tostão. Tivemos este tempo todo para sair de uma situação que só este ano, com o Orçamento de Estado Rectificativo [de 2005] a assumir o passivo da CNB, se resolveu. E mesmo assim não é suficiente. Gerir duas casas não é uma tarefa fácil e não ajuda que a dança seja o parente pobre da cultura. Estamos sempre no fim da fila. Não sei bem porquê.» Os anos difíceis de que fala fazem agora parte do passado, e Ana Pereira Caldas não quer pensar neles, mas não esquece como a CNB foi mal-tratada pelos governos PSD-CDS: «a ministra Maria João Bustorff nunca a vi cá, e o anterior, Pedro Roseta, não tinha muito peso. A única que se importou foi a Teresa Caeiro [ex-Secretária de Estado das Artes do Espectáculo], mas não ocupou o lugar por muito tempo». E a nova ministra, Isabel Pires de Lima? «O Secretário de Estado vem à companhia, a Ministra nunca veio». Diz: «fazemos aqui o que conseguimos fazer, com o que temos à nossa disposição. Não fazemos milagres, e não me parece que esperam isso de nós. Tenho tentado, junto da tutela, dos trabalhadores, da comunicação social, passar a ideia de que na CNB se trabalha em nome de um projecto coerente. Mas esse projecto, para se concretizar, precisa de apoios. E não falo só de dinheiro. Por exemplo, o estatuto do bailarino é uma questão que se têm que resolver. Mas o Ministério diz que seria um contra-ciclo anunciar a redução da reforma dos bailarinos para os 45 anos, quando o Estado discute o aumento das reformas. E, o tempo passa, os ordenados dos bailarinos pesam no orçamento da CNB - são 700 mil euros que, libertos, dariam uma grande ajuda -, e a situação não se resolve. É preciso que se perceba que o tempo de vida de um bailarino não é o mesmo que o de um funcionário público. Há um défice de respeito por quem faz cultura».











Fotografias de José Luis Neves (direitos reservados)
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D. Quixote
Coreografia Mehmet Balkan Cenário Tayfun Cebi Figurinos Vera Castro Desenho de Luz Robert Cremer

Agradecimentos: REAL, Companhia Nacional de Bailado, Cristina de Jesus, João Pedro Mascarenhas, Mariana Paz

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