terça-feira, novembro 29, 2005

Meio-Aniversário

Análise a O Aniversário da Infanta
pelo Teatro Focus
Teatro Taborda - 7ª MostraTE
27 Novembro 2005
17h00

No dia de aniversário da Infanta o Rei, seu pai, convidou artistas de todas as partes do mundo para animar a celebração dos 12 anos da sua filha. A apresentação que mais agradou à Infanta foi a de um anão que acaba por se apaixonar pela princesa. Mas a princesa rejeita-o, quebrando o seu coração. Desde então, a Infanta ordena que todos os seus bobos não tenham coração. Esta é a história de Oscar Wilde que o Teatro Focus utiliza para a criação de um espectáculo infantil, um género bem diverso de outros espectáculos que caracterizam a linha de intervenção artística do grupo. A adaptação do conto procura manter a relação com o acto da leitura, evitando a teatralização de cenas, através do investimento numa capacidade sugestiva do simples acto da leitura, potenciando um texto povoado de pormenores literários que podiam ser reduzidos numa adaptação teatral.

A concepção visual do espectáculo parece não ser adequada ao espaço do Taborda, as almofadas no chão parecem indicar que são para crianças, que também pintaram as telas que são expostas em cena, dando a sensação que o espectáculo está concebido para uma proximidade e a delimitação de um espaço que fica comprometida na relação distanciada entre o palco e a plateia do Teatro. Para além da presença centralizadora de um Contador da História (Mário Trigo) o palco é partilhado com o músico Samuel Matias que acompanha a narração com apontamentos sonoros e musicais que reforçam a instalação do imaginário do conto, contribuindo eficazmente para a comunicação com o espectador, dando à leitura uma ambiência sugestiva, mediada pela sua presença descontraída em palco e através da diversidade de instrumentos utilizados. O espectáculo pode então dividir-se em duas partes.

Na primeira, a cena é centralizada na figura do narrador, que nos lê a história, e rodeada pelos apontamentos sonoros do músico. A leitura é realizada num tom baixo, por vezes monocórdico, que se aproxima de uma leitura em voz alta mas que prejudica a recepção empática que o espectáculo pode criar através de uma partitura segura de pausas, entoações e direcções do olhar. Nesta primeira parte, narram-se os primeiros momentos da festa e as diversas actuações de artistas de todo o mundo, desde touradas a bonifrates. A segunda parte é caracterizada pela introdução de uma personagem, um dos convidados da festa que traz uma prenda para a Infanta. A presença desta figura, interpretada por Flávio Tomé, contraria a previsibilidade a que a leitura parecia sujeitar-se, introduzindo a dimensão teatral e a largando o campo de leitura através da criação de uma personagem interior à narrativa.

Daqui até ao fim do espectáculo, o espaço da narração coexiste com o espaço dos acontecimentos narrados, teatralizados, através de um diálogo irónico e humorístico entre o narrador, cioso pelo respeito ao texto, e a personagem, irrequieta e viva, contrariando o autor a cada passo. Esta relação entre os dois espaços é desenvolvida, também, através da utilização de outras linguagens, como o vídeo e a manipulação de marionetas. Mas a curta-metragem de animação que é exibida não parece ter uma ligação directa, não está suportada na dramaturgia (nem indicada nos materiais de divulgação), assim como o registo em tempo real do discurso do anão (que faria todo o sentido no momento de reconhecimento que despoleta a queda do anão, quando descobre o seu reflexo/ imagem ao espelho). Por outro lado, a manipulação das marionetas não é executada de forma constante, as bocas falham as falas, o olhar do boneco vagueia perdido, e essa execução compromete dois bons momentos, o diálogo humorístico das flores no jardim e os discursos do anão. Por fim, a própria interpretação das duas personagens é prejudicada pela falta de marcação, pontuada, perdendo-se em hesitações e apartes paralelos.

Em resumo, O Aniversário da Infanta é um espectáculo para as crianças que articula diversas linguagens e recursos do imaginário infantil (leitura de contos, marionetas, cinema de animação, participação do público), uma interessante perspectiva de associação do espaço da leitura, imaginado, e do espaço imaginário, visto, e a presença eficaz de uma ambiência sonora e musical interpretada ao vivo. Mas esta associação é comprometida por uma partitura ténue, demasiado informal, que abre espaço aos acidentes, comprometendo, por sua vez, o interesse dos adultos e a atenção das crianças.

Pedro Manuel



Ver aqui crítica, de Pedro Manuel, a Absense, também apresentado na 7ª mostraTE
Ver aqui outras críticas de Pedro Manuel já publicadas neste blog
Ver aqui crítica ao anterior espectáculo do Teatro Focus publicada neste blog

2 comentários:

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