O Melhor Anjo quer saber qual o acontecimento cultural mais marcante de 2006. Num ano que ficou marcado pela mudança de direcção do Teatro Nacional, pelo acordo entre o Estado e o Colecção Berardo, pela instauração do Plano Nacional de Leitura, pela privatização do Rivoli, pelo regresso do Alkantara festival e a abertura do Maria Matos – Teatro Municipal, mas também pelo fim da Festa da Música e pela apresentação em Lisboa da colecção Rau e a grande retrospectiva de Amadeo Souza Cardoso. Num ano em que se comemoraram os 50 anos da Fundação Calouste Gulbenkian e os centenários de Samuel Beckett, Fernando Lopes-Graça, Shostakovich e Henrik Ibsen, mas também os 250 do nascimento de Mozart e os 150 da morte de Schumann.
Foi ainda o ano da transferência do Museu do Design para o Palácio de Santa Catarina ainda por remodelar, e o anúncio do fim do Museu de Arte Popular, se restruturou o Ministério da Cultura e reduziu o Orçamento para o próximo ano, o Indie Lisboa superou expectativas de público, se criou um novo festival no Porto, o Trama, e se abriram as portas do Theatro-Circo de Braga, que se garantiu a vinda para Portugal do espólio de discos de fados do inglês Bruce Mastin e em que Maria João Pires abandonou o Centro Cultural de Belgais. Em 2006 Luandino Vieira recusou o Prémio Camões, apresentou-se ao público a colecção da Fundação Elipse e anunciou-se a criação de um pólo do russo Museu Hermitage e a fusão da Companhia Nacional de Bailado com o Teatro Nacional S. Carlos, começou a ser representada a Teatralogia wagneriana com «O Ouro do Reno», no S. Carlos, e o Festival de Almada apresentou a mítica encenação de Strehler da peça «Dias Felizes».
Morreram Elisabeth Schwarzkopf, Glicínia Quartim, Artur Ramos, Mário Cesariny, Sommer Ribeiro, Robert Altman, Danièle Huillet e o túmulo de D. Afonso Henriques viu-se no centro de polémicas burocráticas, Guimarães foi escolhido para Capital Europeia da Cultura em 2012, abriu-se a arca de Fernando Pessoa, os subsídios no Porto acabaram, …
Afinal, de 2006 ficará o quê? A discussão decorrerá até dia 26 Dezembro.
20 comentários:
pelos vistos o Rivoli e o La Féria suscitam mais polémica.
Parece que esta discussão não estar a ter muito sucesso, mas também não sei se 2006 ajuda por aí além... Que poderemos escolher?
Das sugestões apresentadas excluo falecimentos e comemorações de aniversários (geralmente também de falecimentos): a morte também será um acto cultural, mas não convém abusar...
Ainda menos serei sensível a actos de gestão (fusões, reaberturas, encerramentos, contratos, renúncias, residências, e sei lá que mais) como actos culturais em si relevantes. Não me parece que mereçam, que diacho!
E posto isto, o que sobra? A retrospectiva Amadeo Souza Cardoso, claro, bem como o «Ouro do Reno». Mas aceito mal que uma retrospectiva possa ser um «acontecimento cultural mais marcante do ano», por melhor e mais-estou-lá-caído que ela seja, e ambas as coisas serão verdade. E a mostra wagneriana só começou agora: será mais justo considerá-la em fase mais avançada.
Portanto, vou fugir às sugestões do «O Melhor Anjo» e escolher outra coisa: a atenção que a Cornucópia deu ao teatro de Anton Tchekov, levando à cena este ano «A Gaivota» e o «Cerejal» - ou «Ensaios para o Ginjal», como lhe chamaram, que já percebi que o Tiago é rigoroso nesta coisa dos títulos, e terá toda a razão. Penso que este ano a Cornucópia nos deu uma colheita inesquecível, e a isso brindo!
Caro Tiago,
Nenhum dos temas me parece muito apelativo para discutir. Por isso deixo uma breve reflexão sobre a arte e o entretenimento que julgo ser pertinente discutir quando se está, mais do que nunca em Portugal, a sofucar a arte com a indústria do entretenimento com o argumento ignorante e populista do despesimo e da subsidio-dependência.
Nos dias de hoje, com a globalização, a massificação do consumo e o crescimento exacerbado da indústria do lazer, torna-se cada vez mais difícil distinguir o entretenimento da arte. O ideal consumista converteu a arte num produto de estética populista, fruto da cultura do entretenimento e formatado à lógica do espectáculo.
A lei do rentável foi matando a capacidade de discernimento do indivíduo, tornando-o apenas em consumidor ou consumível .
"Arts and Entertainments” - Os motores de busca na internet teimam em colocá-los sempre no mesmo directório e o facilitismo da estandardização faz com que essa lógica se vá apropriando do imaginário colectivo.
Ambas fazem parte da cultura universal mas com papeis substancialmente diferentes na sua capacidade de intervenção no indivíduo, na sociedade e, consequentemente, na História.
Muitos animais se divertem e entretêm mas apenas um faz arte – o Homem.
O entretenimento (sem as mais valias do convívio, da pedagogia, da ginástica, etc.) está associado apenas ao prazer e a arte vai muito para além disso, é muito mais abrangente e está inevitavelmente vinculada à inteligência, à intuição, ao raciocínio, ao sentimento, à imaginação, à expressão e a tudo o que nos transcende.
Jogar consola com o meu filho é entretenimento. Olharmo-nos nos olhos e sentirmos o amor que nos une, compreendendo e realizando a importância desse amor, é arte.
Um diverte, a outra sensibiliza, emociona, perturba e faz pensar, tocando, modificando, sendo dinâmico e vivo, fazendo evoluir.
Por vezes tocam-se, misturam-se, como o azul e o amarelo que dão verde. Mas não deixam de ser coisas completamente distintas.
Entreter é o espaço entre o que se teve e o que se vai ter, é o tempo em que não se tem nada, em que não se é nada, em que não se existe. Logo é necessário passar esse tempo para outra coisa ter, ser ou existir por nós. Recorre-se então ao passatempo que é uma espécie de encher um copo sem fundo, onde se tem uma sensação de satisfação e a ilusão da acção em si. Passar o Tempo é a coisa mais estúpida que se pode (não) fazer na vida. Simboliza a inutilidade por excelência e é sinónimo de inactividade e improdutividade. É queimar tempo de existência. Não no sentido da meditação e da introspecção mas no sentido da passividade no seu estado mais estupidificante.
Entretenimento é darem-nos algo já feito quando nós não estamos a fazer nada, é darem-nos uma comida já mastigada, ingerida e digerida...
Concordo contigo ó rui,
o teatro para ter público tem de ser estupidificado ao nível da feira popular. Os gostos não estão educados e cada vez vai ficar pior. A mediocridade está a tomar conta de tudo...
eu voto na mudança da direcção do TNDMII.
Foi o acontecimento mais aberrante da vida cultural portuguesa em 2006.
O mais trise foi o da Maria João Pires
Essa do EntreTer é boa...
voto na falta de bom jornalismo e de boa crítica em Portugal!
voto TNDMII e Rivoli/La Féria
Eu voto no ataque ao corporativismo cultural baccoco!
antónio ferreira
existe corporativismo cultural? onde?
aliás, o que é "corporativismo cultural". É uma expressão sem nexo. mas soa bem. parece inteligente.
Gonçalo Pontes
Não fica nada
não se está a discutir nada!
...
Para mim o melhor de 2006 foi a birra do Lagarto a sair do TNDMII.
Típico caso pós-25 de Abril em que a modista consegue usurpar o lugar de dona-de-casa, depois a justiça encarrega-se de pôr lá quem tem qualificações, e depois a dita (não é a justiça) começa a partir pratos na cena da saída.
Há uma cena na Evita parecida ("Another suitcase in another hall").
Eu acho que o La Feria ainda vai ter êxito com este enredo.
Qualquer coisa do tipo "La Lagartija"!
Concordo!
A Birra do Lagarto e da Lagarta (fernada lapa) fez-me lembrar o Lorca!...
"O lagarto está chorando
A lagarta está chorando
O lagarto e a lagarta
Com aventaizinhos brancos
Hão perdido sem querer
Seu anel de casamento
Ai! Seu anelzinho de chumbo,
Ai, seu anelzinho chumbado
Um céu grande e sem gente
Monta em seu globo aos pássaros
O sol, capitão redondo
Leva um colete de raso
Olhem que velhos são!
Que velhos são os lagartos!
Ai como choram e choram,
Ai! Ai! Como estão chorando! "
Mas a direcção bicéfala e os triângulos conseguem ser mais cómicos do que as bichices lagartianas...
debate???? hahaha
tantos comentários e não se disse quase nada... a malta gosta de cagar postas de pescada...
FORÇA!
por mim fica só o que de melhor se fêz na voragem do entertenimento...os pragas!
hehehe, já cá faltava a publicidade aos amigos. Buuuuuuuuu. isso não tem piada. Mais vale cascar nos inimigos...
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