quarta-feira, setembro 27, 2006

Diários no blog III: No interior de "United Kingdom", por Paulo Guerreiro


O coreógrafo alemão Félix Ruckert tem um percurso singular na cena contemporânea alemã. Conhecido pelas suas propostas que testam o limite, tanto dos participantes como dos espectadores, tem provado que a ideia de criação e dança está muito para além do que aquilo que podemos considerar como transgressor. Neste momento, Félix Ruckert, sobre o qual se publicará um perfil no fim-de-semana, está a preparar uma performance intitulada UNITED KINGDOM , que estreará no Tacheles , em Berlim, a 12 de Outubro, e que assenta na exploração de sete virtudes: atenção, atitude, determinação, respeito, devoção, gentileza e sageza (ver explicação aqui), a partir do uso de técnicas Sado-masoquistas, Bondage e contact-improvisation, entre outras. Durante o processo de trabalho (que se pode ler aqui), que reúne profissionais de várias áreas numa base de voluntariado, O Melhor Anjo apresenta, uma vez por semana, insights exclusivos da responsabilidade do performer Paulo Guerreiro, participante no projecto. Outros diários podem ser lidos no site do projecto.


No interior de United Kingdom, por Paulo Guerreiro

Neste jogo, sob a forma de uma performance, não há vencedores nem vencidos. Os jogadores gostam de lhe chamar um laboratório, onde se fazem experiências pessoais e colectivas, sensoriais, sensuais e até sexuais, o dispositivo está aberto à “criatividade espontânea” dos seus colaboradores. Embora parta de parâmetros coreográficos e performáticos, onde tarefas de improvisação e até mesmo pequenas sequências coreográficas são executadas, United Kingdom exige uma disposição sensorial e emocional do intérprete que tocam muito facilmente a realidade – a dor e o prazer podem eles ser falsos? Estarei a eu a interpretar/a reagir ao que a minha pele sente ou estarei eu a senti-lo realmente?

Os participantes têm à sua disposição um variado leque de instrumentos e elementos de prazer e tortura, para além de toda a disposição cénica e elementos cénicos (camas altas em todos os cantos do espaço, correntes suspensas pelo tecto…). O grande desafio está em quebrar preconceitos e medos pessoais. Respeitar o outro, mesmo que o estejamos a “humilhar” em público (talvez não).

É-nos pedido que nos deixemos levar pela intuição e, principalmente, pelas ordens da Rainha regente, as quais são inquestionáveis e intolerantes, chegando mesmo a exigir um espancamento público para mais os rebeldes. Mas o perigo não é assim tão vertiginoso. Qualquer membro do público ("Outer Circle") e, até mesmo do Reino, pode abandonar a performance quando quiser. Escusado será dizer que o jogo é sempre mais interessante quando jogado até ao fim…

No Reino a hierarquia é dinâmica. Em cada apresentação ou ensaio, a Rainha e os serviçais do reino mudam de posto, só o grupo denominado “a Corte” (na foto) se mantêm inalterável, sendo constituído pelo próprio coreógrafo (Felix Ruckert) e oito mestres de Sado-Masoquismo e Bondage. E embora se assemelhe a uma estrutura monárquica, em U.K. as decisões são discutidas pelo grupo ("Inner Circle") e a opinião individual é sempre tida em conta. Todas as tarefas quotidianas (a cozinha, as limpezas, a reestruturação dos espaços, …) dentro e fora da performance são distribuídas por grupos que incluem todos os colaboradores – “Inner Cicle” e “Corte”sem privilégios.

A democracia “reina” em U.K.

Paulo Guerreiro

1 comentário:

Anónimo disse...

Conheço o Felix Ruckert como um péssimo professor de técnica, dá aulas quase de ballet e fala à boca cheia de sensorialidade e contacto impovisação (?!!!). Socialmente é extremamente tímido e parece ter uma personalidade complexa. Atrai muitas meninas e meninos que querem dançar nas peças dele. As que vi foram bastante sensaboronas, mas admito que tenha um percurso interessante. Agora vou querer ler o melhor anjo todos os dias para saber pormenores quentes das vossas aventuras, especialmente quem fode com quem, a que horas e com que perversões. Porque isto não podendo ver ao vivo é a melhor fofoquice que se podia arranjar, podem habilitar-se a casino online com muito mais lucro do que o dinheiro que o senado berlinense dá e que é dividido por tantos coreógrafos berlinenses!!!
Falta de olho da parte da produção, acho que podiam ganhar rios de dinheiro se não estivessem sempre na fronteira, no limte entre a Arte e o Sexo pelo Sexo.
Paulo, espero sinceramente que o trabalho seja interessante e que venhas a ter grandes compensações por ele, mas as histórias escabrosas que ouvi sobre o Felix, deixam-me sempre de pé atrás. E um pouco incomodada pelo facto de ele receber tantos apoios e outros não. Mas são assuntos que não te dizem directamente respeito.
Boa Sorte!!!