Foram várias as correntes e escolas teatrais que acreditaram na necessidade de sobreposição entre actor e personagem de modo a tornar credível, real, humano e autêntico o que se via em palco. Na gíria quotidiana são recorrentes expressões como teatro de guerra, personagens, golpe de teatro. Mas qual a verdadeira relação entre vida e representação? A psicóloga Joyce McDougall abre o ensaio Théâtres du Je com os famosos versos de Shakespeare, retirados de As You Like It: “O mundo inteiro é um teatro e todos, homens e mulheres, não somos senão actores e, com este preâmbulo, quer falar das relações entre a psicologia e a representação propondo uma viagem através das experiências tidas com os seus pacientes. Não se trata exactamente de um ensaio sobre teatro, mas sobre códigos de representação e manipulação dos acontecimentos. Quem controla o quê, quem e como? O que é curioso neste ensaio é que, apesar de partirmos de casos reais nunca assistimos à tipificação desses mesmos casos, mesmo que o eu que aqui se procura possa ser narcísico, dependente ou fálico. Joyce McDougall procura fundamentar determinados comportamentos humanos a partir das experiências pessoais dos seus pacientes, mas também tentando contextualizá-los na sua relação com a sexualidade, corpo, projecção, traumas e irrepresentabilidade, desenvolvendo para isso teorias que tanto se sustentam em matérias teatrais retiradas das obras de Shakespeare, Brecht, Meyerhold e clássicos gregos como, naturalmente, em Freud e Castoriadis.
Título: Théâtres du je
Autor: Joyce McDougall
Edição: Gallimard
Sem comentários:
Enviar um comentário