Quando a 25 de Janeiro lancei o desafio aos leitores do blog para escolherem a personalidade que queriam ver entrevistada no âmbito do Dia Mundial do Teatro, que hoje se comemora, sabia que os dados estavam viciados. Ou melhor, que as circunstâncias iriam inevitavelmente ditar a escolha de Carlos Fragateiro, o novo director do Teatro Nacional D. Maria II. Não se pode dizer que alguma vez tenha tido concorrente à altura. Contas feitas e o segundo classificado, um empate entre Mónica Calle e Sophie Calle, aparecia apenas com 4 votos (ou muito pouco mais que isso). E, nesse sentido, no dia 06 de Março, quando as urnas fecharam, liguei para o Teatro Nacional D. Maria II para solicitar a entrevista.
Não foi exactamente uma surpresa quando Pedro Mendonça, assessor de Carlos Fragateiro, me disse que estavam à espera do meu telefonema desde manhã (liguei ao princípio da tarde). E também não foi uma surpresa quando me disse que apesar de Carlos Fragateiro estar a par do que por aqui ia escrevendo, concordando com umas coisas e outras nem tanto, não me iria dar a entrevista. Já toda a gente me tinha alertado para isso. E eu sabia-o, claro. Como não? Nesse dia, ou no dia anterior (não me recordo) o Diário de Notícias já tinha dado conta da dificuldade que tivera em obter uma entrevista com o novo director do Teatro Nacional que, de adiamento em adiamento acabou por nunca aparecer. Pelo menos comigo a coisa foi mais directa: Não há entrevista.
Ainda perguntei se era uma questão pessoal (secretamente gostava que fosse), mas Pedro Mendonça esclareceu-me que fazia parte da estratégia de Carlos Fragateiro não falar nem dar entrevistas por enquanto. Perguntei quando é que esse "por enquanto" terminaria. Primeiro disse-me que nunca seria em Março, depois acrescentou que eventualmente o director falaria na conferência de imprensa para apresentação da programação, depois terminou dizendo que talvez em Abril. Os pedidos eram muitos, eu tinha que compreender, que os prazos que tinha estabelecido não eram compatíveis com as datas do director. E, assim, sendo, nada de entrevista.
Ao que eu acrescentei que, sendo assim, precisaria de uma confirmaçao por escrito disso mesmo. Pedro Mendonça disse que já esperava tal pedido e solicitou-se um pedido formal ao qual pudesse responder. Ei-lo:
Caro Pedro Mendonça,
no seguimento dos contactos estabelecidos via telefone e, procurando responderàs sugestões dos leitores do meu blog (www.omelhoranjo.blogspot.com) a propósito da personalidade que gostariam de ver entrevistada no âmbito do Dia Mundial do Teatro, venho por este meio solicitar a marcação de uma entrevistacom o Sr. Director do TNDMII, Dr. Carlos Fragateiro, a publicar dia 27 de Março.
Seria conveniente que a mesma se realizasse até dia 20 de Março. Esta entrevista será incluída num amplo dossier sobre programação de teatro, que incluirá cinco outras entrevistas a diferentes programadores a publicar no blog (entre 20 e 25 de Março), seguidas de um artigo contextualizador que será também publicado na revista UBU - Scénes de l'Europe. No caso de não ser possível garantir o cumprimento destas datas, solicito indicação de data mais conveniente.
Esperando poder contar com a colaboração do TNDMII e do seu Director, aguardo resposta com a maior brevidade possível, subscrevo com os melhores cumprimentos e votos de bom trabalho.
Tiago Bartolomeu Costa
Bom, a resposta até hoje não chegou. Prevendo essa hipótese abordei, na mesma conversa, a possibilidade de fazer uma foto-reportagem no Teatro Nacional, dando conta do interior do primeiro teatro do país, à semelhança de outras já publicas neste blog. Em relação a esse pedido não houve grandes reservas, e durante uma semana aguardei por uma resposta que contava ser positiva, dada a aceitação demostrada inicialmente. Ao fim de uma semana recebo uma resposta negativa e uma contra-proposta: a disponibilização da quantidade de fotografias que eu quisesse, feitas pelo próprio Teatro Nacional, com o objectivo de ilustrar o trabalho.
Agradeci a intenção, mas recusei. Disse que era não perceber, de todo, o que estava a fazer.
Em suma, não há entrevista. Talvez exista em Abril. A lista de pedidos, segundo Pedro Mendonça, é grande. A agenda do sr. director terá que ser convenientemente gerida, acrescentou.
O problema não passa exactamente por não ter uma entrevista a Carlos Fragateiro. É-me sinceramente indiferente que fale aos jornais, à televisão, às rádios ou ao meu blog. É-me realmente indiferente. Desde que fale. E já agora, que falasse antes de começar a sua programação. Porque, na verdade, a programação de Carlos Fragateiro já começou. Espectáculos cancelados, outros colocados nas salas em reposição, prolongamento de carreiras, alteração da imagem gráfica, deslocação de espectáculos de sala para sala, de teatro para teatro, indicação do que para aí vem. Há uma faixa amarela enorme na fachada do edifício, dando conta de que Gil Vicente, Moliére, Shakespeare e outros clássicos chegam com o verão. Não era isso que estava programado. E, para já, mais não digo. Ou não se diz. Ou não se pode dizer. Mas apetece tanto.
Consta que Isabel Pires de Lima vai ao Nacional hoje assistir a dois espectáculos. Veio nos jornais. Mas os espectáculos de teatro no Nacional neste Dia Mundial são projecções, debates, concertos e um espectáculo infantil. Ah, pois... abriu a livraria.
Long live Teatro Nacional D. Maria II. Long live o seu director. Long live o teatro e o seu dia mundial... E Diónisos, deus do teatro, nos guarde a todos.
8 comentários:
Viva a abertura de uma livraria de teatro! por acaso pensei que isso fosse bom para todos nós, os que fazemos teatro, mas a tua raiva é muita, vou deixar de aqui vir!
qual livraria ó anónimo? porventura foste lá? é que eu fui e as prateleiras não só estavam praticamente vazias como os livros que tinham eram os mesmos que já lá estavam. e depois o teatro estava vazio nos vários momentos por que lá passei. e depois, se nem assinas com o teu nome, bem podes passar ao largo.
fui lá várias vezes no fim de semana e mentes com todos os dentes! houve duas coisas que não consegui ver por esgotadas e a livararia pelo que percebi é a mais completa de lisboa... ouve lá ó tiago... que me interessa de quando são os livros, embora tivesse comprado edições de 2006... enfim, o outro anónimo tem razão, também eu ficarei anónimo, vocês perseguem as pessoas... bolas não foi para criar pequenos fachos que fizemos os 25!!!
é estranho que sempre que vem à baila o nome de Fragateiro neste blog começam insultos e provocações...
quem é esse pedro mendonça que nunca ninguém ouviu falar? será que vai ser o tal das novas dramaturgias que vai viajar pelo mundo...na internet?
Acreditem ou não... mas este mau estar tem mesmo explicação no demónio! Trabalhei com ele... o Fragateiro e sei o que digo!...As medidas cosmésticas podem vir a ser boas mas acreditem...a programação vai estender-se a uma curta base de dados pessoal, garantida em troca de muitos...mas muitos...favores... já ninguém consegue nada com simples jantares!... Será que a filhinha vai virar estrela no D. Maria?, ele andava a colar a "piquena" em todas as produções do Trindade!!!Não melhor... vai dar liberdade de criação ao Fraga... Valha-nos as alternativas!
mas que disparate é este? uma livraria no nacional é mau? mas está tudo doido? então e o homem não te disse que o outro não falava? precisava de escrever? mas e a discussão sobre projectos culturais? Não está tudo doido, está é tudo parvo!(???)
ó anónimo, cala-te lá com a livraria... vai dar uma voltinha a outros Teatros Nacionais e depois opina.
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