sexta-feira, dezembro 23, 2005

Revista do ano 2005 (V): as datas II


08 Janeiro

A descoberta de uma colecção única de fados em Londres, alguns deles inéditos e outros fora das listas oficiais, levou a que se questionassem as formas de protecção do património nacional. Questão que se estende às negociações surrealistas com Joe Berardo, e mesmo ao fechar de olhos a situações de nítido desrespeito por zonas classificadas como Património Mundial. O coleccionador Bruce Mastin ameaçou disperar a colecção, salientando, no entanto, que gostaria que a mesma regressasse inteira a Portugal. Nem o Estado nem a CML, ou privados, quiseram garantir a totalidade das verbas necessárias, mais de um milhão de euros. O caso arrastou-se ao longo do ano, mas tomou contornos aparentemente definitivos quando a nova vereação da cultura da CML, de José Amaral Lopes, garantiu o pagamento de uma das tranches, já este mês de Dezembro.

29 Setembro
Paulo Cunha e Silva demite-se/demitido do cargo de Director do Instituto das Artes

A demissão de Paulo Cunha e Silva foi um dos factos mais relevantes no ano cultural, até pela forma como a notícia foi veiculada, sem se saber se havia sido demitido pela Ministra ou se se demitira. As entrevistas dadas por Isabel Pires de Lima, ao Jornal de Notícias e ao Expresso de 23/12 indicam que foi demitido. O facto representa o falhanço de uma estratégia de contemporaneizar a criação artística, após um processo de fusão entre o Instituto Português das Artes do Espectáculo e o Instituto de Arte Contemporânea, realizada pelo governo de Durão Barroso, em nome do défice. Nem a fusão passou de uma formalidade (os institutos continuaram a ocupar as suas respectivas sedes), nem a criação artística viu resolvida grande parte dos seus problemas. Atacado pela comunidade e a opinião pública, Paulo Cunha e Silva foi o rosto de uma ideia absurda de tornar a arte plural, tendo a expressão "do Alentejo a Nova Iorque" sido amplamente ridicularizada. A tutela perdeu-se em guerras para provar a insolvência financeira de um instituto que não serviu, sequer, para cumprir a mais básica das suas atribuições: os concursos de apoios. A telenovela dos apoios teve graves efeitos no norte do país, com companhias a fecharem e programações canceladas, num braço de ferro entre criadores e tutela, sendo esta depois acusada, pelos tribunais, de ter protelado uma situação que poderia ter resolvido. Com a queda de Paulo Cunha e Silva, caiu também o mais relevante membro da sua equipa, Maria de Assis, sub-directora responsável pela área das artes performativas. Incapaz de perceber a mais valia do trabalho de Maria de Assis, a Ministra da Cultura preferiu nomear para director do Instituto o músico Jorge Vaz de Carvalho, ex-director da Orquestra Nacional do Porto. Pelo que já se ouviu do novo director, o desconhecimento da realidade é gritante, e essa é provavelmente a razão pela queal ainda não foi nomeado. É que de acordo com a lei orgância, não pode haver nomeação sem sub-directores. Mas todos parecem relutantes em aceitar trabalhar com Vaz de Carvalho.

02 Novembro

A demissão de Delfim Sardo é o culminar de uma telenovela sem precedentes naquele que quis ser o mais importante espaço cultural de Lisboa. Das divergências com o presidente, Fraústo da Silva, ao incumprimento da programação por razões orçamentais, das reticências e entraves à apresentação de projectos de criação contemporânea à descaracterização de um projecto feito para criar novas dinâmicas no tecido cultural, a demissão do programador de artes plásticas põe a nú uma crise grave, sobre a qual o Estado pouco tem dito. O CCB há muito tempo que deixou de ser o espaço para uma nova relação com a cultura, e a saída de Sardo abre caminho ao fim de um projecto fundamental para a cidade e para o país. A decisão de colocar no CCB a colecção de Berardo, após as exigências do comendador, é mais um sinal da esquizofrenia que reina em Belém, com o administrador a recusar comentar uma situação sobre a qual sempre se opôs, e a Ministra a não perceber que foi desautorizada por Sócrates na definição (sempre prévia) dos acordos.

08 Novembro

O Chapitô, e a sua mentora, Teresa Ricou, mais conhecida por palhaça Tété, recebeu o prémio Silver Rose, atribuído pela SOLIDAR, uma instituição internacional que distingue o trabalho feito em prol da sociedade. A escolha do Chapitô, na categoria Europa, deve-se ao historial do projecto, que completou 20 anos, no apoio a crianças e adolescentes em risco de exclusão social.

16 Dezembro

Pela primeira vez atribuído a uma personalidade da área do teatro, o Prémio Pessoa homenageia uma das mais coesas figuras da cultura nacional. Luís Miguel Cintra, e o seu Teatro da Cornucópia (visto por muitos como "o" Teatro Nacional) é assim alvo de reconhecimento, num ano em que também o Nobel da Literatura foi atribuído a um homem do teatro, Harold Pinter.

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