sexta-feira, outubro 28, 2005

A menina que vivia dentro de uma câmara escura

Renée Adorée, de Inês Jacques
29 Outubro 2005
19h00

Renée Adorée (1898-1933) foi uma das muitas actrizes, que transitou dos palcos para o grande ecrã, ainda o cinema era mudo. Da sua carreira em Hollywood há um filme que se destaca, The Big Parade, onde fez par romântico com John Gilbert. Para Inês Jacques, coreógrafa que amanhã estreia, no âmbito do programa Box_Nova do Centro Cultural de Belém, uma breve peça cujo nome pediu emprestado à actriz, a imagem de Adorée confunde-se já com tantas outras que passaram pelo processo. É que neste espectáculo, diz Jacques depois de um ensaio, "as imagens são o mais importante. O que eu faço lá dentro é quase nada".

O 'lá dentro' a que se refere é uma caixa de madeira de grandes dimensões que inverte o princípio da câmara escura e dá pelo nome de Pinhole. Durante o espectáculo, a única imagem que temos de Inês é aquela que a luz se permite a transportar para um ecrã colocado em frente ao palco. 'Lá dentro', a coreógrafa e intérprete mima breves sequências que reportam para esse 'quase nada' que eram os primeiros filmes da história do cinema.

As sequências (correr, lutar, dançar...) são acompanhadas ao piano - outra vez tal como quando o cinema começou -, onde Rui Caetano interpreta variações jazzísticas de temas de filmes, outras improvisações e breves trechos melódicos que dão conta do estado de espírito das 'personagens' que vivem dentro da caixa.

Não é a primeira vez que o cinema é utilizado como material de trabalho para esta coreógrafa. A sua última apresentação no programa Box Nova, Good Girls (2004), também partia do cinema, no caso o de animação. Agora, é o imenso universo do cinema mudo que se convoca para um espectáculo que se quer "simples".

Na verdade, nada podia ser mais simples em Renée Adorée. O público, mergulhado na escuridão da sala de ensaio do CCB, deve relacionar-se com a proposta sem procurar grandes linhas conceptuais ou de discurso, seja com a história do cinema ou da dança. Este é um exercício "de prazer", ao qual Inês Jacques se entrega sem pensar em mais do que aquilo que mostra. "Tal como nos filmes antigos. É um exercício de observação. Não tem que dizer nada. O que não significa que eu não saiba o que está a querer dizer. Mas isso não é assim tão importante", diz.

De facto, a técnica é, aqui, o mais importante. Mas também a construção de um momento de equilíbrio entre música, dança, cinema e expectativa. O que Jacques oferece é uma viagem a um tempo já muito longínquo, no qual as actrizes eram donzelas em perigo, os actores galãs ou vilões e, no fim, um final feliz. Como aquele que Inês espera ter, mesmo que de si só se possa recordar a imagem de uma menina presa dentro de uma caixa de madeira.

5 comentários:

Anónimo disse...

"Pinhold"?!?!

Não será "Pinhole"?

little p

Tiago disse...

antecipaste-te.já tinha dado pela gralha do teclado.já está corrigido.

Anónimo disse...

Mais uma gralha. É Caetano, não Catarino.

Boa Bruxelas.

W disse...

Pelos vistos os leitores são mesmo atentos. Isso é que importa! *risos*

Anónimo disse...

UMA VERDADEIRA MERDA!!!!