sábado, agosto 13, 2005

Ler o Expresso (II)

Ler o Expresso tem destas coisas. Damos por nós a ler mais do que o que querem dizer. E, pior, a tecer considerações sobre notícias que não fazem mais que preencher as abafadas horas da silly season. A edição de hoje, a 1711, tem quatro pérolas, acerca de questões da sociedade, que a seguir se apresentam.


II

Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva, professor da Universidade de Lisboa, faz publicar, na página 12, um artigo intitulado 'O fim dos intelectuais'. Depois de discorrer sobre as habituais referências a Althuser, Marx, Alain Robbe-Grillet, Pierre Boulez e os filhos da pátria ditosa Eduardo Prado Coelho, Vicente Jorge Silva e José Pedro Vasconcelo, a par de outras imbecilidades muito soixante-huitard, finaliza, peremptório:

"O curioso é que os intelectuais desapareceram. Eles ainda existem? Sim, em certos bares, ligados a meios artísticos e muito misturados com o pós-modernismo e os grupos homossexuais. São uma espécie de gueto a que se remeteram os autoproclamados detentores da verdade. Mas já não têm qualquer influência, porque ao defenderem a ausência de valores, deram caminho a totalmente livre ao capitalismo que, no processo, se alimenta deles - dando-lhes produtos culturais de segunda ordem - e são substítuidos por «entertainers» que dizem imbecilidades e alienam as pessoas (tenho bem consciência de que estou a usar um conceito marxista; mas o meu problema nunca foi com Marx mas com a União Soviética). E como se destruíram os valores sobre que a nossa civilização assentava, nem sequer há alternativas. De modo que, de mãos juntas, comunismo e capitalismo conseguiram destruir o altíssimo nível cultural a que tínhamos chegado no Ocidente. Curioso paradoxo. Dramática situação."

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