sábado, agosto 13, 2005

Ler o Expresso (I)

Ler o Expresso tem destas coisas. Damos por nós a ler mais do que o que querem dizer. E, pior, a tecer considerações sobre notícias que não fazem mais que preencher as abafadas horas da silly season. A edição de hoje, a 1711, tem quatro pérolas, acerca de questões da sociedade, que a seguir se apresentam.

I

O questionário de Proust serve para muitas coisa. No Expresso serve para disfarçar de entrevistas políticas, comentários e opiniões. Na página 18 do caderno principal, juntam-se dois exemplos:

Inquérito a Mário Ferreira, empresário e presidente da Douro Azul, à esquerda

É a favor da adopção por casais homossexuais?
Não. Para o crescimento e definição da personalidade e carácter de qualquer criança, os pilares fundamentais são o exemplo de uma mãe e um pai.

Quantas TV tem em casa?
Dez

Entrevista a Matilde Sousa Franco, deputada do PS por Coimbra, à direita

Concorda com a oportunidade de um referendo [ao aborto]?

A minha opinião de fundo está tomada. [sou contra] Em relação ao aborto tenho uma solução muito pragmática: temos um problema demográfico gravíssimo, uma população envelhecida ao ponto de colocar em risco as pensões de reforma e, por outro lado, temos o dobro de pessoas interessadas em adoptar crianças em relação ao número de crianças disponíveis para adopção. Por isso, uma solução óptima é agilizar o sistema de adopção que ainda é péssimo.

E se for chamada a discutir os casamentos homossexuais?

Mas isso não são casamentos! Usa-se uma técnica que tem séculos e que consiste em baralhar os termos para baralhar as ideias. Não estamos perante casamentos! São uniões, pronto. Não posso concordar com esse tipo de coisas, nem pensar! Cada pessoas faz a sua vida, dentro de portas. Acho graça que se fale disto como uma situação moderna. Isso é ignorância histórica. Sempre houve homossexuais.

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