segunda-feira, junho 20, 2005

Entradas pagas

Conforme tinha sido anunciado aqui, O Melhor Anjo tencionava acompanhar o 40º Festival de Sintra, que começou no passado dia 10 de Junho. As trocas de e-mails com o departamento de Relações Públicas e o envio do dossier de imprensa denunciavam a intenção de se estabelecer uma colaboração entre este blog e o Festival de Sintra, através das habituais entradas previstas para a crítica. E se tudo correu pelo melhor no 1º espectáculo, o que se seguiu (para a reserva da entrada no espectáculo da Compagnie Linga) é não só de lamentar como denunciador de uma visão autista e pouco expansiva de quem pretende alargar os públicos do Festival. Seguem-se excertos da troca de e-mails após o 1º espectáculo:

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1º e-mail trocado (Tiago, 13 Junho)
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é possível fazer uma reserva para a apresentação de sexta feira 17 da Compagnie Linga?
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resposta ao 1º e-mail (Relações Públicas do Festival, 15 Junho)
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Lamento informar, mas os bilhetes de imprensa para as apresentações do CompagnieLinga já estão todos atribuidos.Contudo, agradeço o seu interesse pela programação da 40ª Edição do Festival deSintra, aproveitando para agradecer igualmente a sua contribuição na divulgaçãodesta iniciativa.

2º e-mail trocado (Tiago, 15 Junho)
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também não consegue fazer uma reserva para sábado? E como garantir a presença nas outras apresentações? Os bilhetes não são propriamente os mais baratos para poder ir assistir a tudo. Gostaria de fazer um dossier especial sobre o festival no meu blog, acompanhando as apresentações através de análises individuais e um texto final sobre o conjunto das mesmas para a revista Título Provisório. Certamente isso também interessará ao próprio festival, uma vez que estão apostados a chegar a outros públicos. Esperando poder continuar a contar com a vossa colaboração, aguardo resposta,subscrevendo com os melhores cumprimentos e votos de bom trabalho.
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resposta ao 2º e-mail (Relações Públicas do Festival, 16 Junho)
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Devo esclarecer que os bilhetes que a organização do Festival de Sintradisponibiliza para oferta / convite, são, antes demais, para responder aos pedidos de jornalistas com carteira profissional e/ou cronistas , pelo que, e de acordo com as directivas que me são dirigidas, deverei usar este critério como factor de selecção para atribuição dos mesmos. Informo, ainda, que a única forma de garantir que terá sempre bilhetes para os espectáculos de dança é adquirindo-os. Contudo, sempre que os bilhetes destinados aos Òrgãos de Comunicação Social (O.C.S.) não sejam atribuidos na sua totalidade, poderei dispensá-los a si. No caso especifico da Compagnie Linga os bilhetes para O.C.S. já estão todos atribuídos, pelo que não me resta margem para aceder ao seu pedido.
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3º e-mail trocado (Tiago, 17 Junho)
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agradeço a resposta. De facto pensei que dentro das directivas impostas pela organização, estavam previstas entradas para os críticos profissionais, sobretudo quando são membros da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro, a única estrutura que congrega os críticos profissionais portugueses devidamente reconhecidos pela Associação Internacional de Críticos deTeatro. Uma vez que não existe uma associação de críticos de dança, mesmo porque não faria sentido atendendo ao pouco espaço existente nos meios de comunicação e à facilidade com que os críticos transitam de uma para outra área. Nesse sentido, e na impossibilidade de poder continuar a assistir ao festival pelas razões apontadas em mail anterior, mas também agora pelo que me informa, se porventura for assistir a mais algum espectáculo que não convidado pela organização do Festival, fa-lo-ei a título pessoal, ou seja, escusando-me a fazer uma crítica. Incluindo o texto final que pensava fazer para a nova revista de artes performativas editada pela REDE e PLATEIA (duas estruturas que reunem os criadores de dança e teatro). Ainda assim espero que reconsiderem os vossos critérios, em nome de uma maior abrangência do evento.
(...)

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Compreender-se-à que a minha reacção não se prende exactamente com uma atitude fútil ou descontextualizada, mas antes relacionada com a existência de 'directivas impostas' que recusam a entrada aos críticos, mesmo que as plateias se apresentem a metade da sala, como foi o caso do 1º espectáculo do Festival. Mas sobretudo questiono a resposta "se quiser assistir, compre; nós agradecemos as críticas". Para um Festival que procura chegar a outros públicos, o não reconhecimento do contributo que novas formas de comunicação podem permitir para a divulgação do evento choca-me. Sobretudo quando é a própria organização a abrir um blog para divulgar o evento. Ora, eu gosto pouco de falar das virtudes do meu blog e das análises nele apresentadas, mas parece-me que existe alguma credibilidade nele para se justificar a cedência de entradas para os espectáculos.

Se efectivamente os bilhetes fossem acessíveis, no mar de estreias e apresentações que acontecem todas as semanas, eu mesmo ia comprar uma assinatura para o Festival. Assim sendo, e dada a resposta obtida, acho que nem me vou dar ao trabalho. Devo esclarecer que este post não tem qualquer intenção revanchista ou outra que não seja dar conta dos bastidores de algumas relações entre quem promove e quem pensa os espectáculos. É que, de facto, as coisas não acontecem só quando sobe o pano. Mas ainda há quem ache que a divulgação que se faz e a crítica que se produz é suficiente. E persista num enclausuramento. Pois, chama-se a isso, em linguagem popular: 'trabalhar para os amigos'.

Fica o registo.

1 comentário:

Anónimo disse...

That's a great story. Waiting for more. » » »