Poética do Quotidiano - especial comming out (III)
Recebe-se por mail uma nova participação na iniciativa Poética do Quotidiano - especial comming out. Desta vez vem assinada por um anónimo que, para quem quiser nomes, ele diz que lhe podem chamar Jorge.
"Mãe, sou homossexual". O meu comming out fez-se mais de palavras não ditas, como, aliás, seria de esperar. Numa situação destas, a agudeza
fria das palavras verbalizadas nunca descreve a dimensão real onde a verdadeira questão existe: esse mundo de profundas emoções. Nesse preciso momento todo um universo inteiro ruiu à frente da minha mãe, cuja valentia lhe permitiu dizer um simples: "És? Está bem".
"Um filho é sempre um filho e uma mãe aceita-o como ele é. Que toda a mãe responsável pensa em todas as hipóteses, porque afinal, os filhos não são um pertence dos pais. Que cada um deve expressar-se como verdadeiramente é. Que o que era preciso era estar aberto e ser-se franco connosco mesmo, porque no fundo o que interessa é mesmo a felicidade. Que a questão é mais sobre a qualidade do amor e menos sobre com quem vamos para a cama."
Fiquei a saber como a minha mãe reage numa situação de emergência, onde qualquer acto falhado poderia estabelecer distâncias irrecuperáveis. Como se debateu em heróico silêncio.
Só no final do dia ela conseguiu revelar o medo que sentiu.
Só passados dias ela se propôs a reconstruir o meu passado emocional numa versão mais verídica.
"Imagino como deves ter sofrido. Como tanto do teu passado me passou ao lado. Como afinal não te conheço. Como eu não fiz nada e agora já é
tarde para o fazer. Não mãe, quem sofre mais és tu, que eu já tive 10 anos para me habituar à ideia."
E por enquanto ainda me sinto exposto quando ela me olha. Sair do armário é um processo, não um instante. E o processo continua. Até novo equilíbrio.
Jorge
Outras participações:
Fishkid
Chandra
os textos publicados são da responsabilidade dos autores
A iniciativa continua aberta. Entretanto o Farpas dá conta de um site americano OutNotes, com o mesmo propósito. Para além do Farpas falar da sua poética.
Recebe-se por mail uma nova participação na iniciativa Poética do Quotidiano - especial comming out. Desta vez vem assinada por um anónimo que, para quem quiser nomes, ele diz que lhe podem chamar Jorge.
"Mãe, sou homossexual". O meu comming out fez-se mais de palavras não ditas, como, aliás, seria de esperar. Numa situação destas, a agudeza
fria das palavras verbalizadas nunca descreve a dimensão real onde a verdadeira questão existe: esse mundo de profundas emoções. Nesse preciso momento todo um universo inteiro ruiu à frente da minha mãe, cuja valentia lhe permitiu dizer um simples: "És? Está bem".
"Um filho é sempre um filho e uma mãe aceita-o como ele é. Que toda a mãe responsável pensa em todas as hipóteses, porque afinal, os filhos não são um pertence dos pais. Que cada um deve expressar-se como verdadeiramente é. Que o que era preciso era estar aberto e ser-se franco connosco mesmo, porque no fundo o que interessa é mesmo a felicidade. Que a questão é mais sobre a qualidade do amor e menos sobre com quem vamos para a cama."
Fiquei a saber como a minha mãe reage numa situação de emergência, onde qualquer acto falhado poderia estabelecer distâncias irrecuperáveis. Como se debateu em heróico silêncio.
Só no final do dia ela conseguiu revelar o medo que sentiu.
Só passados dias ela se propôs a reconstruir o meu passado emocional numa versão mais verídica.
"Imagino como deves ter sofrido. Como tanto do teu passado me passou ao lado. Como afinal não te conheço. Como eu não fiz nada e agora já é
tarde para o fazer. Não mãe, quem sofre mais és tu, que eu já tive 10 anos para me habituar à ideia."
E por enquanto ainda me sinto exposto quando ela me olha. Sair do armário é um processo, não um instante. E o processo continua. Até novo equilíbrio.
Jorge
Outras participações:
Fishkid
Chandra
os textos publicados são da responsabilidade dos autores
A iniciativa continua aberta. Entretanto o Farpas dá conta de um site americano OutNotes, com o mesmo propósito. Para além do Farpas falar da sua poética.
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