Prémios da Crítica 2004
A Associação Portuguesa de Críticos de Teatro entregou ontem os prémios relativos a 2004. Na cerimónia que decorreu ao fim da tarde no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, foram distinguidas as seguintes produções:
Grande Prémio da Crítica:
Para além do Tejo, Teatro Meridional
Menções Honrosas:
Luz/Interior, de Rita Só
O Fazedor de Teatro, Companhia de Teatro de Almada, encenação de Joaquim Benite
A Cabra ou Quem é Sílvia?, Comuna - Teatro de Pesquisa, encenação de Álvaro Correia
É curioso notar dois aspectos: a evidente ignorância a que foi votada a cerimónia pelos órgãos de comunicação social (incluindo aqueles onde alguns críticos trabalham) e a vontade de aprofundar os laços entre quem faz e quem pensa o teatro português. Lamenta-se, por isso, que uma arte que indica mais do que se pensa sobre o modo como o mundo se revolve, não tenha merecido da parte da imprensa um destaque maior. É impressionante, aliás, verificar que a arte e a cultura, sendo inerentemente efémera, não conseguiu provar que faz parte de um mundo em permanente mudança. E este tipo de eventos acabam por passar despercebidos e acusados de umbiguismo.
O que se relaciona directamente com o segundo aspecto que ressalvei. É que tanto críticos como criadores trabalham com um mesmo objectivo (mesmo que nem sempre pareça): oferecer ao mundo um lugar de pensamento, reflexão, tomadas de posição e discussão. Por isso foi bastante positivo verificar que os criadores começam a reconhecer a importância da crítica num discurso que se quer partilhado. Em nome, obviamente, de uma recusa da efemeridade, da superficialidade e do espectáculo auto-suficiente.
Mas a questão deve colocar-se: para quem se escrevem as críticas? Numa primeira resposta pronta e seca, para o público leitor. É essa, aliás, a ideia em países como a Escócia, a Bulgária, a Rússia ou Espanha. O crítico é, no fundo, um espectador mais informado. Logo, com mais responsabilidade. Qual é, por isso, o papel da crítica no processo de construção (evolução?) de um espectáculo? Não há uma resposta certa, mas antes filosofias de trabalho que se cruzam. Mas, no limite, as críticas não podem (não devem) ser o reflexo de uma posição pessoal. Antes devem pensar os objectos nas suas fragilidades e virtudes, contextualizando-as no percurso de produção dos criadores e no próprio meio artístico em que se inserem.
Portugal começa, outra vez (e felizmente!) a perceber a necessidade de um tecido cultural e artístico que se pense e aja conforme as crises que o atravessam.
Polémicas (que as houve!), à parte, o importante é que se force a uma maior visibilidade uma prática que de fútil não tem nada, que de egoísta tem muito pouco e, mesmo que não ajude a salvar vidas, permite que se viva melhor. Por isso, mais do que dois lados da barricada, quem vê/pensa e quem faz são peões num mesmo jogo. E do mesmo lado. Mesmo que não se goste. Mas enfim, alguém teria que gostar do amarelo. E isso, certamente, justifica muitas das escolhas feitas na edição deste ano dos Prémios da Crítica.
A Associação Portuguesa de Críticos de Teatro entregou ontem os prémios relativos a 2004. Na cerimónia que decorreu ao fim da tarde no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, foram distinguidas as seguintes produções:
Grande Prémio da Crítica:
Para além do Tejo, Teatro Meridional
Menções Honrosas:
Luz/Interior, de Rita Só
O Fazedor de Teatro, Companhia de Teatro de Almada, encenação de Joaquim Benite
A Cabra ou Quem é Sílvia?, Comuna - Teatro de Pesquisa, encenação de Álvaro Correia
É curioso notar dois aspectos: a evidente ignorância a que foi votada a cerimónia pelos órgãos de comunicação social (incluindo aqueles onde alguns críticos trabalham) e a vontade de aprofundar os laços entre quem faz e quem pensa o teatro português. Lamenta-se, por isso, que uma arte que indica mais do que se pensa sobre o modo como o mundo se revolve, não tenha merecido da parte da imprensa um destaque maior. É impressionante, aliás, verificar que a arte e a cultura, sendo inerentemente efémera, não conseguiu provar que faz parte de um mundo em permanente mudança. E este tipo de eventos acabam por passar despercebidos e acusados de umbiguismo.
O que se relaciona directamente com o segundo aspecto que ressalvei. É que tanto críticos como criadores trabalham com um mesmo objectivo (mesmo que nem sempre pareça): oferecer ao mundo um lugar de pensamento, reflexão, tomadas de posição e discussão. Por isso foi bastante positivo verificar que os criadores começam a reconhecer a importância da crítica num discurso que se quer partilhado. Em nome, obviamente, de uma recusa da efemeridade, da superficialidade e do espectáculo auto-suficiente.
Mas a questão deve colocar-se: para quem se escrevem as críticas? Numa primeira resposta pronta e seca, para o público leitor. É essa, aliás, a ideia em países como a Escócia, a Bulgária, a Rússia ou Espanha. O crítico é, no fundo, um espectador mais informado. Logo, com mais responsabilidade. Qual é, por isso, o papel da crítica no processo de construção (evolução?) de um espectáculo? Não há uma resposta certa, mas antes filosofias de trabalho que se cruzam. Mas, no limite, as críticas não podem (não devem) ser o reflexo de uma posição pessoal. Antes devem pensar os objectos nas suas fragilidades e virtudes, contextualizando-as no percurso de produção dos criadores e no próprio meio artístico em que se inserem.
Portugal começa, outra vez (e felizmente!) a perceber a necessidade de um tecido cultural e artístico que se pense e aja conforme as crises que o atravessam.
Polémicas (que as houve!), à parte, o importante é que se force a uma maior visibilidade uma prática que de fútil não tem nada, que de egoísta tem muito pouco e, mesmo que não ajude a salvar vidas, permite que se viva melhor. Por isso, mais do que dois lados da barricada, quem vê/pensa e quem faz são peões num mesmo jogo. E do mesmo lado. Mesmo que não se goste. Mas enfim, alguém teria que gostar do amarelo. E isso, certamente, justifica muitas das escolhas feitas na edição deste ano dos Prémios da Crítica.
1 comentário:
Muito bem! Tens toda a razão. Não há crítica decente e a que existe é muito mais uma crítica literária do que uma crítica teatral.
Por outro lado os jornais também não apostam nem em críticos e muito menos na cultura.
Os críticos que existem, onde estão? É que não os costumo ver nas salas de teatro, exceptuando nas salas de duas ou três companhias, sempre as mesmas.
Onde andas tu, Manuel João Gomes, que te encontrava de norte a sul do país a visitar tanto os consagrados como os emergentes?
Continua com o blog. Força e parabéns
Enviar um comentário