Poética do quotidiano (especial Natal) - IV
O Natal do Cachucho, do Enresinados
NATAL
Longe vão os tempos em que esperava ansiosamente pela manhã do dia 25 de Dezembro e, em reacção aos primeiros raios de luz, corria descontroladamente e com respiração ofegante para a cozinha da minha avó, para de seguida e com olhar de espanto, encontrar o brinquedo desejado em cima do fogão.
A hipocrisia da televisão já existia. O Natal dos hospitais já era um sucesso e, tínhamos de aguentar maratonas de música de dúbio gosto, horas e horas a fio. A única diferença é que nessa altura, isso não me parecia incomodar. Aliás, pouca coisa me incomodava. Vivia num mundo criado por mim, aparentemente imune à fanfarronice alheia.
Tão longe vão esses tempos, que se me esforçar um pouco consigo esquecer-me facilmente que alguma vez os meus pais tenham vivido em perfeita harmonia. Os anos foram passando, a relação foi-se naturalmente degradando até se tornar insuportável. A decisão foi tomada, e cada um, decidiu por bem (e ainda bem) que o melhor era seguirem diferentes caminhos nesta complicada estrada da vida.
Creio que foi nesta curva do destino que passei a ver o Natal como uma sombra difusa que teima em permanecer sobre o nosso frágil corpo. O mundo criado por mim já não era tão imune como dantes. Fiquei mais exposto aos ataques de estupidez que o mundo nos parece querer bombardear diariamente. A hipocrisia do Natal passou a incomodar-me bastante. As visitas aos hospitais a caírem de podre, sob a desculpa de falta de meios, para serem entregues desenhos feitos pelos ouvintes de um rádio qualquer, a crianças doentes, passou a ter em mim reacções nunca antes sentidas.
Talvez se comparem a uma mistura de ódio destilado com memórias nostálgicas. Não sei. O que sei, é que o Natal poderia ser bem melhor se conseguíssemos pensar menos.
O Natal do Cachucho, do Enresinados
NATAL
Longe vão os tempos em que esperava ansiosamente pela manhã do dia 25 de Dezembro e, em reacção aos primeiros raios de luz, corria descontroladamente e com respiração ofegante para a cozinha da minha avó, para de seguida e com olhar de espanto, encontrar o brinquedo desejado em cima do fogão.
A hipocrisia da televisão já existia. O Natal dos hospitais já era um sucesso e, tínhamos de aguentar maratonas de música de dúbio gosto, horas e horas a fio. A única diferença é que nessa altura, isso não me parecia incomodar. Aliás, pouca coisa me incomodava. Vivia num mundo criado por mim, aparentemente imune à fanfarronice alheia.
Tão longe vão esses tempos, que se me esforçar um pouco consigo esquecer-me facilmente que alguma vez os meus pais tenham vivido em perfeita harmonia. Os anos foram passando, a relação foi-se naturalmente degradando até se tornar insuportável. A decisão foi tomada, e cada um, decidiu por bem (e ainda bem) que o melhor era seguirem diferentes caminhos nesta complicada estrada da vida.
Creio que foi nesta curva do destino que passei a ver o Natal como uma sombra difusa que teima em permanecer sobre o nosso frágil corpo. O mundo criado por mim já não era tão imune como dantes. Fiquei mais exposto aos ataques de estupidez que o mundo nos parece querer bombardear diariamente. A hipocrisia do Natal passou a incomodar-me bastante. As visitas aos hospitais a caírem de podre, sob a desculpa de falta de meios, para serem entregues desenhos feitos pelos ouvintes de um rádio qualquer, a crianças doentes, passou a ter em mim reacções nunca antes sentidas.
Talvez se comparem a uma mistura de ódio destilado com memórias nostálgicas. Não sei. O que sei, é que o Natal poderia ser bem melhor se conseguíssemos pensar menos.
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