sábado, junho 26, 2004

Intriga palaciana IV

Parece-me que a solução não passa pela convocação de eleições antecipadas. Pelo menos para já. A constituição não o permite e o processo é moroso. Com os tempos que se atravessam Portugal não poderia mergulhar num limbo. Para os que têm memória curta, os tempos de transição PS / PSD/CDS-PP foram penosos, burocráticos e inseguros. Assim, a apontar-se Janeiro de 2005 como uma data eventual para a marcação de eleições, o governo - porque se trata do governo e não do partido - deveria designar alguém que subsitituísse interinamente o dissidente Barroso e levasse o país a novas eleições.

Nesse sentido, só se perfila uma pessoa: Manuela Ferreira Leite. Com todos os ataques possíveis, é a única, dentro do governo que o pode fazer. Paulo Portas, por ser a parte minoritária, não pode sê-lo. Os outros ministros são inexistentes. A actual ministra das Finanças é o único nome valoroso e o único que a Europa respeita. Porque essa é, também, uma questão a ter em conta. Nenhum país se dá ao respeito com legislaturas tão pequenas. Os tempos de Manuela Ferreira Leite seriam de contestação, mas, pelo menos, evitar-se-ia, o espectáculo virtuoso das outras hipóteses. Mulher rigorosa mas credível e na qual os portugueses vêem um exemplo de sentido de Estado. Os conselhos certos e os acessores indicados é o que lhe faz falta.

Pedro Santana Lopes é uma péssima escolha. Lisboa, como exemplo do que ele poderia fazer pelo país, é uma cidade que, neste momento, vive da imagem. Os problemas aumentam, os pareceres acumulam-se, os processos não se desenvolvem. A câmara vive de ondas de entusiasmo, alimentadas por eventos cuja efeito na cidade ainda estão por apurar. Neste momento, a desorientação na Câmara Municipal é tanta, que se torna mais fácil ignorá-la do que pretender a sua colaboração.

Não obstante o sucesso que Pedro Santana Lopes possa ter dentro do PSD - e até mesmo como "o desejado" para o CDS/PP -, falta-lhe, como definia José Manuel Fernandes, hoje no PÙBLICO, sentido de Estado, eficácia, responsabilidade e certezas. É um homem de discurso fácil, vistas curtas e imediato. O futuro, com ele, seria trágico. Neste momento, o mal menor era que ficasse na Câmara até ao fim. Curiosamente, se as coisas forem mesmo assim e Santana for o próximo primeiro-ministro, perde a possibilidade de se candidatar a Presidente da República. Para já. O que, apesar de tudo, é um alívio.

Outra hipótese seria Marques Mendes ou Dias Loureiro, mas nem um nem outro recolhem forças dentro do partido, ou aguentariam a pressão interna de Santana e Portas.

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