sábado, junho 26, 2004

Intriga palaciana III

Sendo que esta questão está a ser discutida em pleno país eufórico pelo futebol - o que só contribui para o alheamento -, tudo é permitido e sem consulta popular. Ao país será apresentada a solução, já devidamente trabalhada e discutida. E, muito provavelmente, sem recurso.

A hipótese de eleições antecipadas, descartada por muitos - em certos aspectos até por mim -, é, no entanto, o seguro de vida de muitos. Do PS será com certeza, cujo líder sai legitimado. Com o seu congresso marcado para Novembro, nunca o PS iria apresentar outro candidato que não Ferro Rodrigues, o que calaria toda a oposição interna. Era o "renascer das cinzas" que tanto pediu (a solução, a meu ver, passava, obviamente, pelo regresso de António Vitorino e pela sua apresentação como candidato). O PS, como dizem os analistas, está, por isso, numa situação delicada. Se, por um lado, vê com bons olhos a eleição de um português para o mais importante cargo europeu, nunca poderia apoiar a eleição do primeiro ministro que consideram incompetente para o país. E, pensando bem, nem sequer os portugueses o podem fazer, atendendo ao resultado das eleições europeias. Recusarem dar a vitória à coligação PSD/CDS-PP é dizerem que não confiam nas suas propostas para a Europa. Nas propostas do governmo que nos rege.

Para o PSD a hipótese de eleições antecipadas também não é bem vinda. Sabendo que perderiam - acumulada a descrença na coligação (mais o descontentamento pela existência da mesma - não foi numa coligação que se votou), o desaire nas europeias, o abandono de Durão (porque, bem vistas as coisas, é sempre um abandono) e a falta de tempo -, teriam que virar para o CDS-PP, que veria, assim, reforçada a sua posição dentro do ciclo de poder. A restante esquerda pouco interessa, já que a queda dos governos é-lhes indiferente, solicitanso-a sejam uns ou outros.

Assim, ao Presidente da República restam três hipóteses: 1) em nome do país, recomendar a Durão que não vá; 2) aceitar, sem reservas, um novo nome proposto pela maioria governativa; 3) assumir, como já aconteceu anteriormente, o resto do mandato e tornar o governo de iniciativa presidencial.

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