segunda-feira, novembro 17, 2003

A marca

O Bruno volta à carga, naquilo que ameaça tornar-se num belo levantamento de questões amorosas neste século que ainda não deu por findo o anterior. Desta feita trata das marcas de amor, ou antes, da força dessa necessidade.

Há um poema do João de Deus, se não estou em erro, que diz qualquer coisa como, "beijo na face, pede-se e dá-se", diz o rapaz atrevido que leva como resposta da sonsa menina: "dá-se?", e ele volta à  carga: "dà". Eu já não me lembro que voltas dá o rapaz mas acho q acaba por roubar o beijo à  rapariga. Aquilo que o Bruno fala é antes de um làbio entre o beijo... da vontade de se ser da outra pessoa. E não fosse isso quase louva-deusiano e poder-se-ia dizer q é assim que nos sentimos nos primeiros momentos da paixão, ou em noites em que o assomo é mais presente.

Morder ou não morder, eis a questão, portanto. Se quem morde souber que é mais o agente do desejo que a vítima dele, sabe também que irá receber de volta um crescendo de prazer, que terminará, inevitavelmente, na consumação do corpo do outro. Como se só através da posse se pudesse entrar (e fazer entrar) no corpo de quem se beija. Daí, as marcas nos lábios não são os mais interessantes, mas sim as outras, tão mais secretas quanto forem desconhecidas para a vítima. E ao longo do dia, uma presença incómoda vai-se instalando. Presença essa que derivarará numa correria contra o tempo até ao objecto desejado.

Se quem morder o souber fazer, sabe também que não lhe será recusada nova investida. Não pode é confundir-se e oferecer-se de bandeja. O corpo, último reduto do prazer deve ser algo escondido e provocado. Não oferecido e disponÃível. Deve fazer parte de um jogo de sedução, em que a procura deve sempre suplantar a oferta, para que esta não se esgote e se fique a morder o ar.

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