sábado, novembro 15, 2003

Reanimação

Quando finalmente tenho um tempo, volto aqui a este blog e, ao fim destas semanas todas, apercebo-me que este melhor anjo cresceu tremendamente. Pois já temos comentadores habituais e 2000 visitantes... isto tudo na minha ausência. Ao menos não sinto a pressão do sucesso, não contribui para ele. Estou safa!
Apetece-me falar de algumas coisas postadas aqui. A questão dos encontros no cinema parece-me pertinente, de facto. Não é que alguma vez tenha pensado nisso, mas já que falam, pensarei. A conclusão a que chego é que o cinema é fundamental para uma relação amorosa. Seja em que etapa for da relação. Nas relações estáveis, penso que nem sequer há muita questão. O cinema é um espaço de respiração social, sem passar a ser por isso demasiado comprometedor ou claustrofóbico. É quase como se não saíssemos de casa, é um prolongamento da vida amorosa, como ver televisão no sofá, mas melhor porque está-se na rua. É tempo de qualidade.
No início de uma relação, é quase comemorativo. É andar com uma pessoa nova a fazer coisas velhas e habituais. Tem um lado quotidiano, que nos transporta para uma intimidade qualquer de códigos, hábitos e tempos. Tu agora pertences aqui, apetece dizer.
Antes de a relação ter início, quando só há um interesse não declarado, ir ao cinema é, de facto, mais excitante. Mas acho que nunca pode ser mau. Vamos ilustrar algumas situações:
1. O filme é escolhido pelas duas pessoas e é muito mau. Nenhuma das duas gostou. Pronto! É óptimo. Unem-se no embaraço de terem escolhido um mau filme, gozam sobre isso e prometem que para a próxima terão de escolher um melhor. Obrigam-se a isso, passa a ser obrigatório voltarem a encontrar-se.
2. O filme é escolhido por 1 pessoa e é muito mau para as duas. Melhor ainda. A pessoa que escolheu o filme pede mil desculpas, a segunda atira-lhe a cara o seu mau gosto a escolher filmes. A primeira diz que não, que aquilo nunca lhe aconteceu antes. A segunda enxovalha a primeira. A primeira diz que vai provar-lhe que consegue fazer melhor. Passa a ser um desafio. Temos material para pelo menos mais 2 saídas.
3. O filme é escolhido por 1 e a que escolheu gosta e a que não escolheu detesta. Aqui, há um problema talvez, mas não demasiado grave. A segunda, a que não gostou, vê-se na obrigação de mostrar à primeira o que é um bom filme. Leva a si a tarefa de dar a conhecer à primeira o que é bom cinema. Mais desafio, um pouco de conflito e, obviamente, mais química sexual.
4. O filme é maravilhoso! É certo que vão para a cama.

Confesso que fiquei um pouco preguiçosa agora no final. Mas deu para perceber a ideia. O fundamental, para mim, é que esteja presente o bom humor e a leve disputa, a discussão intelectual, a picardia verborreica. É a única forma que conheço de levar uma pessoa para a cama.
Finalmente, no escuro do cinema, há uma espécie de tensão sexual que fica sempre bem. Os pequenos toques que se dão sem querer na mão um do outro, os ombros encostados. Muito bom!
Adoro cinema e, por isso mesmo, acho necessário que, por vezes, o sacrifiquemos ou o usemos com intenções menos cinematográficas.
Por agora, é tudo!
Até breve.

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