segunda-feira, outubro 13, 2003

“Ilusão estatística?” Nããããã

Segundo o Público online, a Grande Lisboa é a região da Península Ibérica mais rica em poder de compra. Essa afirmação baseia-se na base de dados da Comissão Europeia e está relatada num estudo encomendado pelo BCP e realizado pelo Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica portuguesa. E o que é que isto de facto quer dizer? Basicamente, o artigo (longo) explica-nos que o índice de poder de compra é calculado através da relação entre o PIB (neste caso, Lisboa já aparece em 5ºlugar) e os preços. Como, aparentemente, os nossos preços são mais baratos do que os de Espanha, feitas as contas, nós conseguimos comprar mais, mesmo recebendo menos.
“Qual é o problema? O país está pessimista e quando aparece em primeiro lugar, ninguém acredita?”, afirma o coordenador do estudo. É caso para pensar que este senhor não conhece as casas portuguesas, que nem tudo depende das notícias nos jornais, mas mais nas contas ao fim do mês. E essas estão mesmo em crise.
O artigo continua, falando na hipótese de ilusão estatística. Ao que parece, a presença do governo na capital da nação poderá balancear grandemente a tabela de salários e o nosso poder de compra. Há também outras considerações acerca dessa hipotética ilusão. Todas elas refutadas por uma série de argumentos. A questão com que me deparo é a seguinte: por que é que estes dados não sobressaem quando tenho de fazer as minhas compras de primeira necessidade? Quando gostava de comprar um livro, ir ao cinema, ao teatro? Comprar um carro novo, porque o meu recusa-se a deslocar-se com chuva? E por aí fora. Onde estão os dados na vida real? É um caso bicudo, até para os melhores especialistas.
O coordenador do estudo, embora ache que estamos de facto em primeiro lugar, não se faz rogado em justificar por que é que isso não tem validade nenhuma. Alerta para o facto “de maiores rendimentos ‘per capita’ nem sempre se traduzem em maior desenvolvimento.” Pois, também acho, porque senão nós notávamos alguma coisa.
Mas isto não fica por aqui, não pensem. A certa altura, parece que o coordenador é uma espécie de messias da governação, quando diz “É importante que se saiba gerir bem o dinheiro público” e depois fala sobre outros dados estatísticos “importantes”. Nem a Manuela Azeda o Leite o teria colocado da melhor forma.
Depois penso como será difícil gerir os dinheiros públicos. A dificuldade de cortar nas despesas é nossa bem conhecida em casa. Corta-se nos doces, nas bolachas, na vaca, no marisco, no queijo, na charcutaria, no teatro, no cinema, nos brinquedos, nas viagens, na roupa,…
Mas, xiça, não devíamos ter nós poder de compra? Coitados dos madrilenos que, ao pé de nós, têm de cortar no pão.
É por causa destas coisas que toda a gente sabe que a estatística é a maior mentira mascarada de ciência alguma vez inventada. Talvez se divulgarem bem estes dados, as pessoas se sintam subitamente optimistas e com uma grande predisposição para gastar dinheiro.
Enfim. Até breve!


Sem comentários: