Acerca do Renas e Veados
O Renas e Veados faz hoje um ano. Mas mesmo que não fizesse parte da ética bloguistica dar os parabéns, há algum tempo que queria escrever qualquer coisa (mas não uma coisa qualquer) sobre o blog. Segue-se, portanto, um elogio. O que significa que a coisa se poderá tornar um tanto pessoal. É que eu gosto do Renas e Veados. Gosto mesmo. Mesmo que por vezes o que por lá se escreve me abale tanto nas minhas convicções que eu sou capaz de não ler até ao fim só para não fazer um comentário menos irreflectido.
Boss by Zun
A primeira vez que ouvi falar do Renas e Veados, foi no Avatares de um desejo e a reacção foi epidérmica. Não gostei. Não percebia porque é que um blog com "uma perspectiva gay sobre a realidade" se tinha que apresentar sob a forma de um estereótipo. É verdade que o Renas, na altura (estávamos em Janeiro) era muito mais sexual. E é também verdade que eu em relação às questões da sexualidade sempre fui um bocado indiferente. Cada um tem a sua, e de vez em quando cruzamo-nos com outro com a qual a experimentamos. E por isso eu via o Renas às escondidas. De mim, também. É que na altura o computador que eu utilizava não era meu e não queria nada que me acusassem de andar a ver sites sexuais. Nessa altura a relação amorosa que mantinha era bastante satisfatória a esse nível.
Mas um dia o Renas fez-me um elogio e eu vendi-me. Literalmente. Na verdade eu elogiei-os e eles responderam, agradecendo. A partir daí fui perdendo o pudor e houve um dia em quem o adicionei à barra dos links. A verdade (e isto pode parecer estranho) é que o Renas me ajudou na relação com a homossexualidade enquanto faceta a necessitar de uma exposição pública com o objectivo de se tornar, finalmente, parte integrante da realidade, no sentido quotidiano do termo. Posso até dizer que, com o Renas e Veados, me tornei mais consciente para as questões da homossexualidade, numa forma que desconhecia. Até então, nunca me tinha envolvido, tomado posição, considerado ou reflectido sobre tal matéria. É preciso esclarecer que nada disto quer dizer uma vida "no armário". Não. Só não pensava muito nisso. E, nessa altura, já tinha revolvido algumas camas. Ou seja, o Renas e Veados permitiu o atenuar de um certo anacronismo. No fundo, o Renas tornou-me melhor pessoa.
João O. by Zun
Há, nesta minha relação com o Renas e Veados uma certa reverência, portanto. Se está no Renas é porque é verdade. Nem sempre leio tudo o que lá está. Às vezes por falta de tempo, ou porque não me interessam, algumas porque discordo totalmente e outras porque seria tão imparcial que o melhor é não dar conta da minha posição. E depressa se tornou um local não só de informação mas de alargar de conhecimentos. Por isso, quando me apercebi que andavam a convidar pessoas para escreverem lá durante um dia, esperei que me convidassem. E fizeram-no. E o que eu me diverti.
Nesta coisa da realidade virtual, corremos sempre o risco de sermos surpreendidos com o oposto do que desejamos. E, ainda assim, quando conheci alguns dos elementos (e não há como a verdade para provar que nunca dizemos tudo o que somos), o prazer manteve-se. Contudo, não vivo fascinado pelo Renas e Veados. Apenas gosto. Mas gosto muito. E a razão porque não vivo fascinado é porque quando gostamos de uma coisa gostávamos de ter o poder de a mudar um bocadinho. Eu gostava que o Renas fosse mais isto ou aquilo, que se alterasse ali, que caminhasse noutro sentido... mas então deixaria de ser o Renas e passaria a ter a ver com algo que eu controlo. E é nessa liberdade que se baseia a minha relação com o Renas e Veados.
Drocas by Zun
Há um aspecto que me agrada no Renas e Veados e que se prende com o esforço para se manter como um blog low-profile. Ou seja, não se põe em bicos dos pés nem assume bandeiras de liberalização do que quer que seja. É um blog presente. E dizer isso de algo que se tornou uma referência é dizer muito. Porque, como noutros exemplos, depressa lhes poderia subir à cabeça (às hastes) a ideia da sua "presença" e arvorarem-se em paladinos das liberdades, direitos e garantias do que quisessem. É como se se recusassem a ver que no lodo da blogaysfera, não são eles que vão puxar os outros. Ou vão todos juntos ou não vai nenhum. Blogosfera incluída. E nessa capacidade de não se terem encerrado na opção sexual e, no fundo, tornarem a "perspectiva gay da realidade" só mais uma perspectiva, está a força que os justifica. E os torna referência em blogs e leitores das mais diversas espécies.
Na verdade, os Renas são anónimos. Quem é que sabe quem é o Boss, o João O., o Zun, o Drocas e o Veado_ (e o Joaquim, que já não escreve mais a Dra. Maria Rena, serviço público que deveria ser levado mais a sério por quem lê)? E quem é que se importa em não saber os seus verdadeiros nomes, as suas reais identidades, as caras atrás das palavras? São menos credíveis por causa disso? Ao contrário. Transfiguraram o conceito de cognome para se mostrarem como pessoas inteligentes, credíveis, integradas, sensíveis e úteis. Deixou de ser importante saber-se quem são. Passaram a existir por direito próprio. E fazerem isto sem desenvolverem personagens, revela mais de mestria e segurança no que estão a dizer que blogs que postam fotografias e moradas pessoais. As Renas são-no mais por aquilo que dão. São-no. Ponto final. E gosto delas assim.
Veado_ by Zun
Talvez possa parecer demasiado elogioso, mas eu acredito mesmo que o Renas e Veados veio transformar a blogosfera num espaço mais plural, mais aberto, mais disponível, mais social e mais atento. E se outros blogs editam livros (sobretudo depois de terem acabado... o que torna tudo mais surreal), o Renas assume a condição de efemeridade, como se dissesse que o importante é o agora - o agir agora - em nome do que possa acontecer amanhã. De nada serve a cristalização, mas antes o que fazemos com o que nos rodeia. E como o transformamos. Há dúvidas que se o Renas e Veados acabasse, o vazio não poderia ser preenchido nem por todos os blogs gays e não gays que se aproximam deste conceito de estar na blogosfera? E, no entanto, o Renas e Veados vai acabar um dia. Vai acabar porque depende de pessoas reais, com as suas vidas e os seus humores... que um dia deixam de querer dizer o que dizem da forma como o dizem. E se fosse diferente nós não o leríamos.
Zun by Zun
Já disse antes e repito. Eu gosto do Renas e Veados. E por isso, mais do que parabéns, eu quero dizer-lhes: OBRIGADO. Somos nós, leitores, que devemos agradecer. Para adiar o fim.
O Renas e Veados faz hoje um ano. Mas mesmo que não fizesse parte da ética bloguistica dar os parabéns, há algum tempo que queria escrever qualquer coisa (mas não uma coisa qualquer) sobre o blog. Segue-se, portanto, um elogio. O que significa que a coisa se poderá tornar um tanto pessoal. É que eu gosto do Renas e Veados. Gosto mesmo. Mesmo que por vezes o que por lá se escreve me abale tanto nas minhas convicções que eu sou capaz de não ler até ao fim só para não fazer um comentário menos irreflectido.
Boss by Zun
A primeira vez que ouvi falar do Renas e Veados, foi no Avatares de um desejo e a reacção foi epidérmica. Não gostei. Não percebia porque é que um blog com "uma perspectiva gay sobre a realidade" se tinha que apresentar sob a forma de um estereótipo. É verdade que o Renas, na altura (estávamos em Janeiro) era muito mais sexual. E é também verdade que eu em relação às questões da sexualidade sempre fui um bocado indiferente. Cada um tem a sua, e de vez em quando cruzamo-nos com outro com a qual a experimentamos. E por isso eu via o Renas às escondidas. De mim, também. É que na altura o computador que eu utilizava não era meu e não queria nada que me acusassem de andar a ver sites sexuais. Nessa altura a relação amorosa que mantinha era bastante satisfatória a esse nível.
Mas um dia o Renas fez-me um elogio e eu vendi-me. Literalmente. Na verdade eu elogiei-os e eles responderam, agradecendo. A partir daí fui perdendo o pudor e houve um dia em quem o adicionei à barra dos links. A verdade (e isto pode parecer estranho) é que o Renas me ajudou na relação com a homossexualidade enquanto faceta a necessitar de uma exposição pública com o objectivo de se tornar, finalmente, parte integrante da realidade, no sentido quotidiano do termo. Posso até dizer que, com o Renas e Veados, me tornei mais consciente para as questões da homossexualidade, numa forma que desconhecia. Até então, nunca me tinha envolvido, tomado posição, considerado ou reflectido sobre tal matéria. É preciso esclarecer que nada disto quer dizer uma vida "no armário". Não. Só não pensava muito nisso. E, nessa altura, já tinha revolvido algumas camas. Ou seja, o Renas e Veados permitiu o atenuar de um certo anacronismo. No fundo, o Renas tornou-me melhor pessoa.
João O. by Zun
Há, nesta minha relação com o Renas e Veados uma certa reverência, portanto. Se está no Renas é porque é verdade. Nem sempre leio tudo o que lá está. Às vezes por falta de tempo, ou porque não me interessam, algumas porque discordo totalmente e outras porque seria tão imparcial que o melhor é não dar conta da minha posição. E depressa se tornou um local não só de informação mas de alargar de conhecimentos. Por isso, quando me apercebi que andavam a convidar pessoas para escreverem lá durante um dia, esperei que me convidassem. E fizeram-no. E o que eu me diverti.
Nesta coisa da realidade virtual, corremos sempre o risco de sermos surpreendidos com o oposto do que desejamos. E, ainda assim, quando conheci alguns dos elementos (e não há como a verdade para provar que nunca dizemos tudo o que somos), o prazer manteve-se. Contudo, não vivo fascinado pelo Renas e Veados. Apenas gosto. Mas gosto muito. E a razão porque não vivo fascinado é porque quando gostamos de uma coisa gostávamos de ter o poder de a mudar um bocadinho. Eu gostava que o Renas fosse mais isto ou aquilo, que se alterasse ali, que caminhasse noutro sentido... mas então deixaria de ser o Renas e passaria a ter a ver com algo que eu controlo. E é nessa liberdade que se baseia a minha relação com o Renas e Veados.
Drocas by Zun
Há um aspecto que me agrada no Renas e Veados e que se prende com o esforço para se manter como um blog low-profile. Ou seja, não se põe em bicos dos pés nem assume bandeiras de liberalização do que quer que seja. É um blog presente. E dizer isso de algo que se tornou uma referência é dizer muito. Porque, como noutros exemplos, depressa lhes poderia subir à cabeça (às hastes) a ideia da sua "presença" e arvorarem-se em paladinos das liberdades, direitos e garantias do que quisessem. É como se se recusassem a ver que no lodo da blogaysfera, não são eles que vão puxar os outros. Ou vão todos juntos ou não vai nenhum. Blogosfera incluída. E nessa capacidade de não se terem encerrado na opção sexual e, no fundo, tornarem a "perspectiva gay da realidade" só mais uma perspectiva, está a força que os justifica. E os torna referência em blogs e leitores das mais diversas espécies.
Na verdade, os Renas são anónimos. Quem é que sabe quem é o Boss, o João O., o Zun, o Drocas e o Veado_ (e o Joaquim, que já não escreve mais a Dra. Maria Rena, serviço público que deveria ser levado mais a sério por quem lê)? E quem é que se importa em não saber os seus verdadeiros nomes, as suas reais identidades, as caras atrás das palavras? São menos credíveis por causa disso? Ao contrário. Transfiguraram o conceito de cognome para se mostrarem como pessoas inteligentes, credíveis, integradas, sensíveis e úteis. Deixou de ser importante saber-se quem são. Passaram a existir por direito próprio. E fazerem isto sem desenvolverem personagens, revela mais de mestria e segurança no que estão a dizer que blogs que postam fotografias e moradas pessoais. As Renas são-no mais por aquilo que dão. São-no. Ponto final. E gosto delas assim.
Veado_ by Zun
Talvez possa parecer demasiado elogioso, mas eu acredito mesmo que o Renas e Veados veio transformar a blogosfera num espaço mais plural, mais aberto, mais disponível, mais social e mais atento. E se outros blogs editam livros (sobretudo depois de terem acabado... o que torna tudo mais surreal), o Renas assume a condição de efemeridade, como se dissesse que o importante é o agora - o agir agora - em nome do que possa acontecer amanhã. De nada serve a cristalização, mas antes o que fazemos com o que nos rodeia. E como o transformamos. Há dúvidas que se o Renas e Veados acabasse, o vazio não poderia ser preenchido nem por todos os blogs gays e não gays que se aproximam deste conceito de estar na blogosfera? E, no entanto, o Renas e Veados vai acabar um dia. Vai acabar porque depende de pessoas reais, com as suas vidas e os seus humores... que um dia deixam de querer dizer o que dizem da forma como o dizem. E se fosse diferente nós não o leríamos.
Zun by Zun
Já disse antes e repito. Eu gosto do Renas e Veados. E por isso, mais do que parabéns, eu quero dizer-lhes: OBRIGADO. Somos nós, leitores, que devemos agradecer. Para adiar o fim.
OBRIGADO.
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