domingo, dezembro 30, 2007

Balanços 2007 (ii)

Daniel Tércio disse-o ontem, no balanço do ano, publicado no jornal Expresso: nas peças dos anos 80 apresentadas este ano em Portugal “pode encontrar[-se] muitas das filiações do que se tem feito nos últimos quinze anos”. Assim foi na dança, desde o ciclo que o Auditório de Serralves preparou – com peças, nem todas dessa mas sobre essa época, de Raimund Hoghe (Lecture Performance, 2000), Bill T. Jones (Blauvelt Mountain, 1980), Pippo Delbono (Il tempo degli assassini, 1986), David Wojnarowicz e Ben Neill (Itsofomo, 1988-89) e Dominique Bagouet, refeitas pela companhia Louma/Alain Michard (Retransmissions, 2004-05), para além de concertos –, à emblemática peça de Daniel Larrieu, Waterproof (1986), que a Culturgest mostrou em Setembro, vimos ainda Treze Gestos de um Corpo (1987), de Olga Roriz, estreada no Ballet Gulbenkian e remontada para a Companhia Nacional de Bailado, com apresentações no Teatro Camões.

Mas também no teatro com Robert Lepage a apresentar no CCB A Trilogia dos Dragões (1987), José Maria Vieira Mendes a estrear-se na encenação com uma peça de Jean-Luc Lagarce, Histórias de Amor (Últimos Capítulos) estreada em 1990 mas a remeter para uma primeira versão de 1983, ou a terminar o ano, e para além do regresso de Ricardo Pais à poesia de Fernando Pessoa, com Turismo Infinito, depois de Fausto. Fernando Fragmentos, de 1989, o gesto (também ele celebratório de aniversário e que se estenderá por todo o próximo ano) de Joaquim Benite que re-encenou, no Teatro Municipal de Almada, Que farei com este livro?, de José Saramago, estreada em 1980. Em 2006 tínhamos visto, em Junho, durante o Festival de Almada, Dias Felizes, de Samuel Beckett, encenada por Giorgio Strehler em 1982, e do mesmo ano Nelken, de Pina Bausch, apresentada em 2005 no S. Luiz – Teatro Municipal.

Poderia dizer-se que esta coincidência programática não é mais do que a oportunidade de se verem peças importantes como salientava Daniel Tércio a propósito das escolhas de dança. Mas é, na verdade, mais do que isso. È também a ponte necessária para discutir as relações que se podem estabelecer entre a criação nacional e a internacional a um nível discursivo, de circulação e formação. O caso de Waterproof é, por isso mesmo sintomático, já que a peça vivia há anos refém de um vídeo (mostrado aliás há um par de anos no Temps d’Images) que deixava imaginar, mas nunca compreender, a importância desta peça para o estabelecimento de um conjunto de novos modos de conceber a dança contemporânea. Mas porque a peça se apresentou isolada de um tratamento que a contextualizasse, apareceu-nos mais como uma peça de museu vivo (que não é) do que como um momento de ruptura (que é, absolutamente e por isso tão importante e fundamental a sua apresentação). Casos como este, ou o de Treze Gestos de um Corpo, que mais do que feito para um novo elenco, foi feito para uma nova geração de espectadores, são fundamentais para reforçar determinadas noções que a velocidade do tempo e das criações tende a esquecer.

Na foto: Blauvelt Mountain, de Bill T. Jones

1 comentário:

Anónimo disse...

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