Daniel Tércio disse-o ontem, no balanço do ano, publicado no jornal Expresso: nas peças dos anos 80 apresentadas este ano em Portugal “pode encontrar[-se] muitas das filiações do que se tem feito nos últimos quinze anos”. Assim foi na dança, desde o ciclo que o Auditório de Serralves preparou – com peças, nem todas dessa mas sobre essa época, de Raimund Hoghe (Lecture Performance, 2000), Bill T. Jones (Blauvelt Mountain, 1980), Pippo Delbono (Il tempo degli assassini, 1986), David Wojnarowicz e Ben Neill (Itsofomo, 1988-89) e Dominique Bagouet, refeitas pela companhia Louma/Alain Michard (Retransmissions, 2004-05), para além de concertos –, à emblemática peça de Daniel Larrieu, Waterproof (1986), que a Culturgest mostrou em Setembro, vimos ainda Treze Gestos de um Corpo (1987), de Olga Roriz, estreada no Ballet Gulbenkian e remontada para a Companhia Nacional de Bailado, com apresentações no Teatro Camões.
Mas também no teatro com Robert Lepage a apresentar no CCB A Trilogia dos Dragões (1987), José Maria Vieira Mendes a estrear-se na encenação com uma peça de Jean-Luc Lagarce, Histórias de Amor (Últimos Capítulos) estreada em 1990 mas a remeter para uma primeira versão de 1983, ou a terminar o ano, e para além do regresso de Ricardo Pais à poesia de Fernando Pessoa, com Turismo Infinito, depois de Fausto. Fernando Fragmentos, de 1989, o gesto (também ele celebratório de aniversário e que se estenderá por todo o próximo ano) de Joaquim Benite que re-encenou, no Teatro Municipal de Almada, Que farei com este livro?, de José Saramago, estreada em 1980. Em 2006 tínhamos visto, em Junho, durante o Festival de Almada, Dias Felizes, de Samuel Beckett, encenada por Giorgio Strehler em 1982, e do mesmo ano Nelken, de Pina Bausch, apresentada em 2005 no S. Luiz – Teatro Municipal.
Poderia dizer-se que esta coincidência programática não é mais do que a oportunidade de se verem peças importantes como salientava Daniel Tércio a propósito das escolhas de dança. Mas é, na verdade, mais do que isso. È também a ponte necessária para discutir as relações que se podem estabelecer entre a criação nacional e a internacional a um nível discursivo, de circulação e formação. O caso de Waterproof é, por isso mesmo sintomático, já que a peça vivia há anos refém de um vídeo (mostrado aliás há um par de anos no Temps d’Images) que deixava imaginar, mas nunca compreender, a importância desta peça para o estabelecimento de um conjunto de novos modos de conceber a dança contemporânea. Mas porque a peça se apresentou isolada de um tratamento que a contextualizasse, apareceu-nos mais como uma peça de museu vivo (que não é) do que como um momento de ruptura (que é, absolutamente e por isso tão importante e fundamental a sua apresentação). Casos como este, ou o de Treze Gestos de um Corpo, que mais do que feito para um novo elenco, foi feito para uma nova geração de espectadores, são fundamentais para reforçar determinadas noções que a velocidade do tempo e das criações tende a esquecer.
Na foto: Blauvelt Mountain, de Bill T. Jones
1 comentário:
Betway korean soccer tips - legalbet
Here we offer you the Best Betway korean soccer tips for today. Our free soccer tips are only available 1xbet for today 바카라 사이트 and this is because we are not 바카라 사이트
Enviar um comentário