sexta-feira, dezembro 29, 2006

Raimund Hogue em Janeiro no Auditório de Serralves

No âmbito da exposição Anos 80, que o Museu de Serralves apresenta até 25 Março 2007, o coreógrafo alemão Raimund Hoghe apresentará no Auditório, entre 12 e 14 de Janeiro, uma performance, «Atirar o corpo para a luta», conversará com o público, e comentará um filme de Patrice Chéreau, «L'homme Blessé». Nesta performance, que recupera uma frase de Pier Paolo Pasolini, Hoghe fala das suas influências, do seu percurso, das suas fixações, do modo como constrói os seus espectáculos e faz confundir a ficção do movimento com a biografia das palavras. É o próprio que refere, no texto de apresentação de «Atirar o corpo para a luta» (na foto) que as palavras de Pasolini o inspiraram "para subir ao palco. As minhas outras fontes de inspiração foram a realidade à minha volta, o tempo em que vivo, as minhas memórias da história, as pessoas, as imagens, os sentimentos, e o poder e a beleza da música, além do confronto com o próprio corpo que, no meu caso, não corresponde aos ideais convencionais de beleza".

Depois de, em Setembro, Hoghe ter trazido a Lisboa o extraordinário «Young People, Old Voices» (um dos espectáculos do ano nas escolhas deste blog), o regresso desta fascinante figura faz-se em nome quase pessoal, num programa que lança pistas para a complexidade da sua obra. Prova disso é o comentário que Hoghe fará ao filme do francês Patrice Chéreau, «L' homme blessé», um retrato pungente da dependência amorosa no submundo parisiense.

Eis o programa completo:

CONVERSA
Sala Multiusos
CONVERSA COM RAIMUND HOGHE
12 JAN 2007, 18h30

LECTURE PERFORMANCE
Auditório de Serralves
"ATIRAR O CORPO PARA A LUTA"
RAIMUND HOGHE
13 JAN 2007, 22h00

CINEMA
Auditório de Serralves
"L'HOMME BLESSÉ"
PATRICE CHÉREAU
COMENTADO POR RAIMUND HOGHE
14 JAN 2007, 17h00

1 comentário:

Anónimo disse...

A Arte e a Filosofia

Nunca será de mais insistir no carácter arbitrário da antiga oposição entre arte e a filosofia. Se quisermos interpretá-la num sentido muito preciso, é certamente falsa. Se quisermos simplesmente significar que essas duas disciplinas têm, cada uma delas, o seu clima particular, isso é verdade sem dúvida, mas muito vago. A única argumentação aceitável residia na contradição levantada entre o filósofo fechado no meio do seu sistema e o artista colocado diante da sua obra. Mas isto era válido para uma certa forma de arte e de filosofia, que aqui consideramos secundária. A ideia de uma arte separada do seu criador não está somente fora de moda. É falsa. Por oposição ao artista, dizem-nos que nunca nenhum filósofo fez vários sistemas.
Mas isto é verdade, na própria medida em que nunca nenhum artista exprimiu mais de uma só coisa sob rostos diferentes. A perfeição instantânea da arte, a necessidade da sua renovação, só é verdade por preconceito. Porque a obra de arte também é uma construção, e todos sabem como os grandes criadores podem ser monótonos. O artista, tal como o pensador, empenha-se e faz-se na sua obra. Essa osmose levanta o mais importante dos problemas estéticos. Além disso, nada é mais vão que essas distinções, segundo os métodos e os objectos, para quem se persuade da unidade de finalidade do espírito. Não há fronteiras entre as disciplinas que o homem se propõe, para compreender e amar. Interpenetram-se e confunde-as a mesma angustia.

Albert Camus,
in 'O Mito de Sísifo'