As fotografias que se seguem registam um ritual xamanista que decorreu no passado dia 23 de Outubro, nas montanhas a uma hora e meia de Seul, capital da Coreia da Sul, já perto da fronteira com a Coreia do Norte. O encontro aconteceu no âmbito do 50º Congresso da Associação Internacional de Críticos de Teatro e foi organizado pela Associação de Críticos de Teatro da Coreia do Sul. As fotografias, da responsabilidade da crítica taiwanesa Rebecca I Hsiao-Ling, participante, tal como eu, do Seminário para Jovens Críticos de Teatro, dão conta de alguns dos momentos do ritual que se estendeu por cerca de duas horas e meia. Mas não dão conta da intensidade dos momentos vividos pelo conjunto de quase 60 críticos de vinte países que, rendidos, se deixaram levar pelo extraordinário trabalho de Kim Kumhwa (foto 2, 3, 4, 5 e 9), um tesouro nacional de 75 anos que já muito raramente se apresenta em público. Os rituais xâmanicos remontam às mais antigas origens do país, hoje predominantemente católico, e existem com diversos fins, nem todos positivos. Há-os sobretudo para pedir protecção para as colheitas, a pesca, saúde e dinheiro. O porco (fotos 7 e 8), que foi sacrificado em honra dos críticos presentes, serve para acumular todas as energias negativas. Os interessados na protecção deverão colocar notas, no valor que entenderem, na boca, focinho ou orelhas do animal que será depois esquartejado. Ao longo de toda a cerimónia os membros do grupo alimentam os que assistem com vários doces e fruta e vinho de arroz. Kim Kumhwa, que fugiu da Coreia do Norte depois da guerra, foi declarada Inatingível Propriedade Cultural Nacional para a preservação e apresentação do Paeyonsin Kut (um ritual para o sucesso das pescas) e do Daedong Kut (um ritual para a felicidade e harmonia na aldeia) em 1986. Isto implica que o Estado lhe garante um apoio mensal em troca de apresentações que, com o tempo, foram rareando, tornando-se uma oportunidade que muitos sul-coreanos nunca experimentaram. As razões prendem-se com as próprias condições em que os rituais devem acontecer, já que dependem de incorporações de espíritos (foto 7 e 9). Muitas das vezes essas incarnações, como a que aconteceu neste ritual, permitem exibições algo bizarras, como as que permitem que Kim Kumhwa possa flagelar-se com facas (foto 6) ou dançar em cima delas (foto 9) sem se cortar. Ler mais sobre os rituais xamanisticos na Coreia do Sul aqui, aqui e aqui.
foto 2 - vista geral do terreiro
foto 3, 4 e 5 - rituais da pesca, agricultura e benção ao grupo
foto 6 - flagelação
foto 7 e 8 - sacríficio do porco
foto 9 - benção dos convidados
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