quinta-feira, outubro 12, 2006

Portugal falha sonho europeu: festival multi-cultural em NY sem presenças portuguesas



Decorre desde o passado dia 20 de Setembro, terminando a 31 de Outubro, em Nova Yorque (NY) a primeira edição European Dream Festival, uma iniciativa pública que junta 23 países europeus, entre os quais alguns que não fazem parte da União Europeia (EU), como a Suíça. Mas da UE só Portugal, a Irlanda, o Reino Unido e o Luxemburgo não apresentaram propostas.


O objectivo principal deste encontro cultural visa estudar uma Europa “cada vez mais diversa e fragmentada”. Os organizadores apresentam o projecto como uma oportunidade para se reflectir sobre as “mudanças políticas e culturais” que levaram a que uma nova geração de criadores deixasse “de se identificar com uma nacionalidade específica, mas antes como Europeus”.

Por isso, artistas como os coreógrafos Boris Charmatz (França), Constanza Macras (Alemanha), o músico José Luís Greco (EUA/Espanha), a cineasta Simone van Dusseldorp (Holanda) ou o dramaturgo Lukas Bärfuss (Suiça) juntam-se para uma programação, quase toda feita de estreias norte-americanas, e que abrange o cinema, a música, a dança, a literatura e o teatro. Uma montra “de leão” não-temática para americano ver e europeu contrariar uma certa ideia de exotismo, que ocupa vários espaços em NY, desde o institucional Carnegie Hall à instituição da performance P.S. 122.

O festival, que conta com o apoio da União Europeia, bem como a participação de vários centros culturais europeus como o Goethe Institut, o Instituto Italiano de Cultura e a Alliance Française, ambicionava ter a presença de todos os países, mas alguns escusaram-se a apresentar propostas. Se, no que diz respeito à Irlanda e ao Reino Unido, foi considerado, pelos próprios países e a organização do festival, não fazer sentido uma aposta num território linguístico comum, já que no que concerne a Portugal, as informações sobre o evento não chegaram a sair da Consulado em NY. Isso mesmo explicou a Pedro Reis, fotógrafo e videasta em NY, fonte do Instituto Camões que entretanto confirmou ter solicitado explicações ao Consulado. Segundo a correspondência trocada entre Pedro Reis e a organização do festival, à qual O Melhor Anjo teve acesso, foram feitos vários contactos formais, inclusive diplomáticos, com as Embaixadas e Consulados dos países mas que foram repetidamente ignorados.

Para Corinne Erni, programadora do European Dream Festival, esta situação é tanto mais estranha já que o programa conta com um grande apoio da União Europeia, especificamente através do Programa Cultura 2000, que tem, inclusive, um gabinete em Portugal, no Palácio da Ajuda, sede do Ministério da Cultura. O mesmo Pedro Reis desdobrou-se em contactos com as instituições nacionais depois de ter estranhado a ausência de Portugal num evento desta dimensão e previsível impacto. Mas as respostas que obteve, para além do silêncio do Ministério da Cultura, foram a surpresa da notícia pelo Instituto das Artes e a já mencionada reacção do Instituto Camões.

Segundo explicou a programadora, os países eram convidados a apresentar propostas, escolhendo o modelo pelo qual as seleccionariam (convite directo ou concurso), seguindo-se uma discussão acerca das condições financeiras. Só a programação de cinema contava com comissariado próprio. Certo é que cada país deveria entrar com uma participação entre $500 e $2000 dólares (o equivalente, contas redondas, a uma participação entre os 400 e os 1500 euros) para o orçamento global do evento, suportando depois as despesas dos espectáculos, com excepção da logística, que correria por conta do European Dream. Convém esclarecer que todas as propostas teriam que ter sido feitas e aceites até Janeiro deste ano. Depois os países teriam que encontrar um local para apresentar o espectáculo, uma busca que seria partilhada com a organização do festival.

Caiu, desta forma, por terra o desejo de ver espelhada uma Europa multi-cultural. Para além de se perder a oportunidade de apresentar alguns dos nomes da criação nacional num território de difícil inserção. Pedro Reis declarou ao Melhor Anjo que a oportunidade desperdiçada é reveladora de algum laxismo que contamina a promoção da cultura nacional fora de portas. A organização do festival garantiu ao fotógrafo que, no próximo ano, seria constituída uma organização sem fins lucrativos permitindo assim que a selecção seja inteiramente da responsabilidade do European Dream Festival.

2 comentários:

Anónimo disse...

Enfim, no comments....

Anónimo disse...

É fácil sermos ignorados, quando nós próprios nos ignoramos.
Mas é bom saber que no meio de tanta gente há sempre pessoas que se dedicam e se esforçam (sem lucro aparente) para a divulgação dos nossos talentos.