Durante dez anos Linda Montano, performer e investigadora norte-americana, entrevistou cerca de uma centena de artistas, da artes performativas às visuais, organizando-as em blocos temáticos: sexo, comida, dinheiro/fama, ritual/morte. É esse trabalho de investigação que se encontra em Performance artists talking in the eighties, editado em 2000. Entre esses nomes incluem-se figuras fundamentais dos movimentos artísticos da altura, como John Cage, Allan Kaprow, Adrian Pipper, Vitto Acconci, Meredith Monk, Marina Abramovic, que responderam ao questionário cerrado de Montano, recusando-o, integrando-o no seu próprio discurso, abrindo pistas para a compreensão do seu trabalho ou simplesmente por pura rotina. O que se dá a ler é um retrato fragmentado de uma comunidade artística sem que se queira limitar ou compreender a fundo o que fazem, pensam ou como actuam. O livro é acompanhado de ensaios relacionados com os temas que introduzem as conversas estabelecendo as pontes que, subliminarmente vamos apreendendo da leitura da troca de diálogos. Inclui ainda um texto contextualizador. É particularmente relevante a secção dedicada ao sexo, uma vez que grande parte das entrevistas foi feita numa altura em que a SIDA "rebentava" nos Estados Unidos. Os discursos à volta do corpo, do sangue e da sexualidade tomam, hoje, uma dimensão muito mais pungente. Não se trata, contudo, de um livro autobiográfico, mas antes uma filtragem da biografia ao serviço da criação.
Título: Performance artists talking in the eigthies
Autor: Linda Montano
Edição: University of California Press
Preço: 9€ nas livrarias do Centro Georges Pompidou, Paris
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