Akabi
de Aydin Teker
09 Junho, 21h
Teatro Camões
sala a metade
Fétiche
Akabi tem uma beleza particular, quase secreta e invisível. Uma beleza fetichista que deriva da relação que a coreógrafa turca estabelece entre o corpo dos intérpretes e os estranhos sapatos no qual se concentram os movimentos. São sapatos pretos, incómodos e surreais, que dominam por completo o corpo dos quatro intérpretes. Nesse despique começa por não ser claro quem domina quem, mas é natural que se torça pelo par de sapatos, até porque é ele quem estende para lá do imaginável a tensão na qual o corpo se sustenta.
A mais recente peça de Aydin Teker, co-produzida pelo Alkantara, é sobre essa relação entre corpo e objecto, dando a ver, em sequências que não propõem uma narrativa, o nascimento de uma nova entidade, um novo corpo, um novo ser. Os corpos modelam-se às características dos sapatos, construindo um universo frio e hipnotizante ao qual é difícil resistir. Primeiro porque os movimentos são mínimos, não há lugar para grandes manipulações do corpo, centrando-se o gesto no essencial que permita observar essa dependência. Depois porque elementos como a música (da responsabilidade de Manuel Mota e Margarida Garcia, dos Granular) e a luz isolam a coreografia das lógicas de contextualização.
O que é curioso nesta peça é a deslocação formal que Aydin Teker promove, ao transferir do sapato para o corpo o domínio do movimento, percebendo de que forma pode explorar o gesto sem excluir o sapato. Trata-se aqui de desvendar o modo como o corpo, tendo durante anos sido controlado pela narrativa, a estrutura, a forma e a definição, as frases coreográficas e o simbólico, se liberta desse espartilho teórico e sobrevive a um confronto prático com as suas limitações. Se quisermos, os sapatos pensados por Aydin Teker são metáforas para a compreensão do movimento enquanto extensão natural do corpo e não como elemento exterior ao corpo.
Como é que se sai então desta dependência? Para que soluções aponta a coreógrafa e a estrutura do espectáculo? Exactamente pela integração do sapato no corpo, manipulando-o, controlando os seus ímpetos e sugerindo caminhos que depois são contrariados. Reduz-se assim o aspecto condicionador do sapato ao se tomar consciência de que o corpo admite mais rapidamente do que a mente uma lógica física, deixando-se levar até novo obstáculo. E depois nova extensão do conhecimento. O sapato passa assim de condicionador para condicionado, uma vez que serve um propósito, não é o propósito.
No fim, como que dando a ver o truque de ilusão em que sustentou a coreografia, os intérpretes descalçam os sapatos, tornando-os obsoletos. Irresistivelmente obsoletos.
A mais recente peça de Aydin Teker, co-produzida pelo Alkantara, é sobre essa relação entre corpo e objecto, dando a ver, em sequências que não propõem uma narrativa, o nascimento de uma nova entidade, um novo corpo, um novo ser. Os corpos modelam-se às características dos sapatos, construindo um universo frio e hipnotizante ao qual é difícil resistir. Primeiro porque os movimentos são mínimos, não há lugar para grandes manipulações do corpo, centrando-se o gesto no essencial que permita observar essa dependência. Depois porque elementos como a música (da responsabilidade de Manuel Mota e Margarida Garcia, dos Granular) e a luz isolam a coreografia das lógicas de contextualização.
O que é curioso nesta peça é a deslocação formal que Aydin Teker promove, ao transferir do sapato para o corpo o domínio do movimento, percebendo de que forma pode explorar o gesto sem excluir o sapato. Trata-se aqui de desvendar o modo como o corpo, tendo durante anos sido controlado pela narrativa, a estrutura, a forma e a definição, as frases coreográficas e o simbólico, se liberta desse espartilho teórico e sobrevive a um confronto prático com as suas limitações. Se quisermos, os sapatos pensados por Aydin Teker são metáforas para a compreensão do movimento enquanto extensão natural do corpo e não como elemento exterior ao corpo.
Como é que se sai então desta dependência? Para que soluções aponta a coreógrafa e a estrutura do espectáculo? Exactamente pela integração do sapato no corpo, manipulando-o, controlando os seus ímpetos e sugerindo caminhos que depois são contrariados. Reduz-se assim o aspecto condicionador do sapato ao se tomar consciência de que o corpo admite mais rapidamente do que a mente uma lógica física, deixando-se levar até novo obstáculo. E depois nova extensão do conhecimento. O sapato passa assim de condicionador para condicionado, uma vez que serve um propósito, não é o propósito.
No fim, como que dando a ver o truque de ilusão em que sustentou a coreografia, os intérpretes descalçam os sapatos, tornando-os obsoletos. Irresistivelmente obsoletos.
1 comentário:
Eu simplesmente achei genialmente irresistível a beleza do espetáculo. 5 estrelas!!!
;)
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