Mi madre y yo, de Sonia Gomez
Espaço Negócio, 21h30
Há uma fotografia de mim e da minha mãe, deitadas no chão, em fato de banho. É uma projecção numa parede branca. Entro no espaço e a minha mãe que entra depois, coloca-se a meu lado. Estamos as duas juntas, uma ao lado da outra. Fazemos movimentos para mostrar as nossas diferenças e parecenças anatómicas. Fazemos uma frase de movimento sensivel as duas. Por um bocado ninguém fala, não soa música. A minha mãe transforma-se em Tina Turner e mais tarde em Nina Juggen. Ouve-se Kraftwerk e conto à minha mãe uma cena que vivi um dia dentro de um táxi com essa música. A minha mãe não conhece Kraftwerk, não sabe se gosta ou não. Põe-se a ver televisão e adormece, a fingir, claro. Eu dispo-me e quando ela acorda encontra-me assim desamparada e diz-me: Sónia isso é demasiado dramático, veste-te minha filha. Depois fazemos outras tontarias, como tentar tourear de verdade, falar aos gritos e intercalar datas com vivências diferentes e lugares distantes.Num certo momento planeamos matar um animal porque temos fome, e além do mais, a minha mãe sabe fazê-lo, eu não. Fazemos mais tontarias mais um bocadinho e já está.
Sonia GomezHoje, amanhã, sábado
Besta da Stile, de Antonio Latella
Culturgest, 21h30
Bestia da Stile um texto não texto. Uma obra teatral que percorrendo-as destrói todas as regras e formas da escrita teatral. Uma espécie de biografia, de testamento, onde o próprio Pasolini se desenha em primeiro plano, contando uma história e revelando-se nesta não história habitada por um universo de mortos, que viu, na Primavera de Praga, o fim do Comunismo. Não há personagens mas apenas fantasmas, e a palavra toma forma só através das recordações e da morte.
(...) A dificuldade de fazer teatro, este teatro, está à vista de todos.
Os versos, como a própria palavra sugere, devem ir na direcção [“verso”, em italiano] de quem escuta. Um teatro para ouvir, talvez seja essa a fórmula. Uma pura confissão. A encenação é partilhada com os meus amigos-actores. A encenação é a comunhão necessária para a pesquisa. A encenação é de todos porque em todos nós há este ficar nu, para tentar chegar ao esqueleto, renunciando aos ouropéis, às superestruturas.
Um teatro fora do pano de boca para tentar que seja partilhado com os convidados que virão para ouvir. Um funeral da poesia, que vê na própria poesia, e na caverna atrás do pano de boca, uma possibilidade de ressurreição. Uma ressurreição que não é apenas do espírito, mas está no homem e no seu ser pungente. Sempre.
UMA MISSA laica – UM CONCERTO à luz do dia – Teatro não teatro – Os actores chamados a ser palavra – plena. Numa total nudez de encenação – O conceito do actor/autor não é apenas um conceito, e sim uma ideia de teatro.
(...) Para um hino ao teatro da palavra. SAGRADO – Rito – Poético. Necessário e difícil, o único que é, como afirma o próprio Pasolini, um teatro democrático.
Antonio Latella
Antonio Latella
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