Já o ensaio vai adiantado (p. 222) quando Jean-Philippe Domecq nos pergunta se à custa da retórica da desconstrução na desconstrução, não teremos criado um mecanismo que nos permite contornar a questão da qualidade do objecto artístico mas ainda assim insistir em classificá-lo como «obra». A dúvida abre novas linhas na abordagem crítica às criações contemporâneas (aqui mais centradas nas artes plásticas), uma vez que obriga ao tomar de consciência da datação das abordagens. O ensaio Artistes sans art?, escrito originalmente em 1994 (re-editado em 1999 e 2005, edição que aqui se apresenta) faz uma análise séria e desassombrada ao papel da crítica na legitimação das obras de arte, a partir de mecanismos que ela própria criou. Ideias de caos, crise, mercado e falibilidade desse mesmo mercado são aqui dissecadas procurando o autor perceber em que altura (ou de que forma) a especulação substituiu a obra. E escreve: «À força de tanto procurar […] o critério minimal que permitiria definir o que restava na pintura, e depois na arte, a obra foi morta pelo discurso sobre a arte» (p. 144, tradução minha). O autor procura ainda através de exemplos comparativos (tais como: Mondrian/Vieira da Silva, Klee/ Mikulas Medek, Miró/ Sorgh ou Velásquez/Picasso) dar pistas ao leitor para que seja ele o próprio legitimador das obras. Neste exercício de devolução da legitimação à relação obra-observador, Domecq propõe uma nova crítica de arte, mais consciente dos limites do discurso, atenta às ligações e referências, mais perto das obras.quinta-feira, maio 25, 2006
Livraria Especializada (I): Artistes sans art?, de Jean-Philippe Domecq
Já o ensaio vai adiantado (p. 222) quando Jean-Philippe Domecq nos pergunta se à custa da retórica da desconstrução na desconstrução, não teremos criado um mecanismo que nos permite contornar a questão da qualidade do objecto artístico mas ainda assim insistir em classificá-lo como «obra». A dúvida abre novas linhas na abordagem crítica às criações contemporâneas (aqui mais centradas nas artes plásticas), uma vez que obriga ao tomar de consciência da datação das abordagens. O ensaio Artistes sans art?, escrito originalmente em 1994 (re-editado em 1999 e 2005, edição que aqui se apresenta) faz uma análise séria e desassombrada ao papel da crítica na legitimação das obras de arte, a partir de mecanismos que ela própria criou. Ideias de caos, crise, mercado e falibilidade desse mesmo mercado são aqui dissecadas procurando o autor perceber em que altura (ou de que forma) a especulação substituiu a obra. E escreve: «À força de tanto procurar […] o critério minimal que permitiria definir o que restava na pintura, e depois na arte, a obra foi morta pelo discurso sobre a arte» (p. 144, tradução minha). O autor procura ainda através de exemplos comparativos (tais como: Mondrian/Vieira da Silva, Klee/ Mikulas Medek, Miró/ Sorgh ou Velásquez/Picasso) dar pistas ao leitor para que seja ele o próprio legitimador das obras. Neste exercício de devolução da legitimação à relação obra-observador, Domecq propõe uma nova crítica de arte, mais consciente dos limites do discurso, atenta às ligações e referências, mais perto das obras.
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1 comentário:
Excelente artigo. Existe edição em português desse livro??
grato
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