O Centre de Développement Chorégraphique de Toulouse/Midi-Pyrénées, em França, promove um workshop com João Fiadeiro, entre 06 e 29 de Março, a partir da metodologia desenvolvida pelo coreógrafo, intitulada Composição em Tempo Real. Durante três semanas e meia, divididas entre Lisboa e Toulouse, vinte bailarinos portugueses, espanhóis e franceses, irão trabalhar segundo este método, sendo os resultados apresentados em Toulouse a 29 de Março, no âmbito do festival Mira!.
As inscrições devem ser apresentadas (incluindo currículo e carta de motivação) até 28 de Novembro, ao cuidado de Alice Normand (anormand.cdctoulouse@wanadoo.fr).
Mais informações: www.cdctoulouse.com.
Sobre o método Composição em tempo real
A força da coisa acontecida
Existem coisas sobre as quais quero falar e que, pura e simplesmente, não podem ser representadas. São do tipo de coisas que só passam a existir se forem apresentadas. São coisas que nem eu sei que existem, que nunca ouvi falar e que nem sequer desconfio da sua presença. E é por isso que quero falar delas: porque quero conhece-las. E dá-las a conhecer. Sem filtros ou intermediários. Em tempo-real.
O problema que se levanta imediatamente é simples: como falar sobre o que não conheço? E isso porque eu sei, pela experiência, que essas coisas de que falo, só aparecem e só poderão ser partilhadas por terceiros (onde me incluo) se estiverem embebidas na força da primeira vez. O segundo problema coloca-se logo a seguir: como reconhecer a coisa quando ela me aparecer? E isso porque eu sei, pela experiência, que é tão fácil confundir o original com a cópia ou a cópia com o simulacro ou mesmo o simulacro com a completa ilusão. E o terceiro problema apresenta-se: como preservar, por segundos que seja, a coisa activa? E isso porque eu sei, através da experiência, que se ela não permanecer viva o tempo suficiente para lhe poder retirar uma amostra que seja, nunca poderei, a partir dela, construir a plataforma de contacto, a ponte que me unirá consigo, espectador atento, que procura incessantemente as pistas que lhe darão a chave para decifrar o que vê e sente.
E a resposta para todas estas perguntas está no intérprete. Aquele ser que se predispõem a servir de tela ou folha em branco para que você possa imaginar. Que não se importa que pense coisas dele, que nem ele próprio sonhou representar. Que está lá, num gesto magnânimo de generosidade, sem medo do futuro, enfrentando e vivendo o facto da coisa acontecida. É ele que domina a técnica necessária para que, uma vez presente, a tal força, possa ser partilhada pelos outros intérpretes e pelos outros espectadores. É ele que sabe inseri-la numa matriz de comportamento, que possibilite a construção de um primeiro esboço de imagem, mesmo que difusa e desfocada, mas que dê início à suspeição, à sugestão e à atenção, ingredientes fundamentais para a criação do imaginário.
A essa matriz demos o nome de Composição em Tempo Real, que significa exactamente aquilo que diz.
João Fiadeiro
Informações enviadas e da responsabilidade dos organizadores
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