Desvios e Traduções
Palestra com Sergej Pristas e Nicolina Pristas
Encontros Lisboa 2005
13 Agosto 2005, 19h00
ZBD
Palestra com Sergej Pristas e Nicolina Pristas
Encontros Lisboa 2005
13 Agosto 2005, 19h00
ZBD
Man.Chair (2000)
Para falar de desvios e traduções performáticas, os Encontros Lisboa 2005 convidaram Sergej Pristas e Nicolina Pristas, dois dos membros da companhia croata BADco., criada em 2000. O encontro pretendia não sóapresentar a companhia, mas também dar conta de questões prementes nos objectos artísticos contemporâneos. A excessiva descrição dos espectáculos, ainda que alicerçada em vídeos, impediu uma discussão mais abrangente. Ainda assim, foi possível identificar algumas linhas mais relevantes desta companhia. Por exemplo a necessidade de criação de 'generosidades preliminares' para um processo criativo, já que mais do que uma companhia, gostam de ser considerados colaboradores. E, por isso, os seus processos criativos partem de um prazer de partilha e colaboração. Mas conscientes de como podem membros de uma mesma estrutura proceder a alterações formais dos seus papéis sem alterarem o seu conteúdo.
No caso da BADco., composta por 2 bailarinos/coreógrafos, 2 dramaturgos e 1 filósofo, e na qual todos podem ser performers, criam-se disponibilidades em nome do objecto, mesmo que este venha a assumir outras formas ao longo do processo de criação. Esta transferência de responsabilidades tanto pode contribuir para uma melhor orgânica hierárquica como potenciar o aparecimento de novas regras. Ao acreditarem nesta uniformização de comportamentos, a BADco. procura não só transferir leituras políticas para o seu trabalho, mas criar novas relações de inter-dependência entre fazedores, observadores e envolvente.
No que diz respeito às leituras políticas, não se trata tanto de integrar o discurso numa proposta, tornando-a politizada, mas ter consciência que qualquer acção pública é um acto político. E, assim sendo, importa menos um combate por ideais e utopias, mas antes observar o que os rodeia, e perceber o que pode ser alterado pela acção directa dos seus espectáculos. Mas sobretudo trabalhar em prol de um paradigma, no que isso represente de construção de uma identidade própria e não tanto de um exemplo. E, portanto, alcançar uma utopia não cristalizada. Já que, como diz Deleuze, 'os nómadas são os que se recusam a desaparecer e não os que se movem'. E é esta noção de mobilidade que parece fazer do trabalho da BADco. um exercício de observação e reflexão sobre os comportamentos artísticos. Venham eles do meio cultural ou do público que neles participa, já que a deslocação provoca descontinuidades que accionam alertas.
No caso da BADco., composta por 2 bailarinos/coreógrafos, 2 dramaturgos e 1 filósofo, e na qual todos podem ser performers, criam-se disponibilidades em nome do objecto, mesmo que este venha a assumir outras formas ao longo do processo de criação. Esta transferência de responsabilidades tanto pode contribuir para uma melhor orgânica hierárquica como potenciar o aparecimento de novas regras. Ao acreditarem nesta uniformização de comportamentos, a BADco. procura não só transferir leituras políticas para o seu trabalho, mas criar novas relações de inter-dependência entre fazedores, observadores e envolvente.
No que diz respeito às leituras políticas, não se trata tanto de integrar o discurso numa proposta, tornando-a politizada, mas ter consciência que qualquer acção pública é um acto político. E, assim sendo, importa menos um combate por ideais e utopias, mas antes observar o que os rodeia, e perceber o que pode ser alterado pela acção directa dos seus espectáculos. Mas sobretudo trabalhar em prol de um paradigma, no que isso represente de construção de uma identidade própria e não tanto de um exemplo. E, portanto, alcançar uma utopia não cristalizada. Já que, como diz Deleuze, 'os nómadas são os que se recusam a desaparecer e não os que se movem'. E é esta noção de mobilidade que parece fazer do trabalho da BADco. um exercício de observação e reflexão sobre os comportamentos artísticos. Venham eles do meio cultural ou do público que neles participa, já que a deslocação provoca descontinuidades que accionam alertas.
Deleted Images (2005)
Dois dos exemplos citados na palestra partiam exactamente de convergências artísticas, a nível histórico, confrontacionais e de percepção. Man.Chair(2000), recriava uma performance dos anos 80, construindo à sua volta uma estrutura assente não numa ideia de imitação ou contextualização da peça (que foi feita como resposta às dificuldades de criação de uma encomenda), mas de uma nova linguagem que integrasse na história da dança aquela performance, ao mesmo tempo que potenciava novas leituras. Dois performers partiam do trabalho original para um trabalho próprio, estabelecendo novos diálogos e ligações. Ou seja, era um trabalho que desenvolvia uma 'tradução', sem criar 'um sistema de encaixe para as coordenadas do espaço'. Antes se acreditava num trabalho de tradução que 'mudasse essas mesmas coordenadas'. Os dois oradores falam não de uma imitação, mas de um completar do processo. Ou seja, fazer-se um trabalho paralelo numa estrutura 'a-paralela'. E, sobretudo, 'deixar ir' o espectáculo em vez de o mimetizar.
Em Deleted Messages (2005), acreditavam que o público podia, de facto, comandar um espectáculo. Se esta ideia de indiferenciação é, acredito, uma falácia em si mesma, o que a companhia croata propunha era uma observação dos movimentos do público, em busca de uma organicidade e estrutura coreográfica. Num armazém controlado por câmaras de vigilância, público e performers (incluindo performers convidados que não tinham funções atribuídas mas podiam intervir) faziam parte de um 'espectáculo invisível'. A busca dos espectadores por uma 'organização cénica' era o mote para a construção de uma proposta, na qual os criadores deveriam intervir de forma aparentemente inusitada e de improviso. À 'estrutura social do movimento da audiência' forçava-se a 'radicalização de um ponto de vista'. E, por consequência, a recepção do espectáculo. Nem todos os espectáculos eram interessantes, assumiram os oradores.
Questões como a transferência, manipulação de coordenadas, movimentações e desvios performáticos são linhas que começam a estar cada vez mais presentes nas propostas contemporâneas. Se podemos falar na construção de um todo criativo, é porque esse todo é consciente do modo como deve pensar as condições em que quer criar. Logo, o modo como as suas propostas se vão desenvolver. Por isso, é importante considerar uma experimentação artística e criação de estruturas coreográficas que não seja omissa ao modo como todos os elementos se organizam. Sobretudo porque há relações, consequências e influências imprevisíveis. No caso da BADco., trata-se de operar num campo onde o sujeito funcione como um pretexto para pensar as relações entre processo e reflexão.
Mais informações sobre a programação do Encontro Lisboa 2005 aqui.
Análises às propostas ds Encontros Lisboa 2005 já apresentadas neste blog:
No body never mind 002, de Ana Borralho e João Galante (06 Agosto 2005)
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