sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Estreia (hoje)

7 crónicas de Natal para um autógrafo
Teatro da Garagem



Em 7 Crónicas de Natal para um Autógrafo, procura-se a estrutura do presépio para albergar o nascimento da memória e aguardar a régia epifania da imaginação, do humor e da assinatura que o tempo e as coisas deixam em nós.

Os presépios, como se sabe, nada devem à descoberta da disposição naturalista das personagens e dos objectos naturais e sobrenaturais na paisagem, cuja incongruência cronológica, espacial e, eventualmente, politicamente incorrecta não parece causar qualquer preocupação a Jesus menino. Encontramos assim uma espécie de três grupos de pessoas despreocupadas com o mesmo objecto, a saber: os que fazem o presépio na Índia ou no Poço do Bispo, na utopia indolente de uma Belém com musgo e sem conflitos, o divino nascituro, ainda perdido no sonho lúcido de todas as crianças com sono, em todos os sítios possíveis para dormir, brincar ou dizer adeus, e os que observam o presépio, como quem procura descobrir uma memória de infância, cada dia mais distante e nublada por um presente, mais arrumado, apetecível e cheio de advérbios de modo, do tipo "supostamente", "esteticamente", "felizmente", "logicamente" e por aí fora.

Esta distância entre preocupações de natureza histórica e estética e a estrutura e o conceito de presépio deixa-nos, a oriente, um horizonte amplo e religioso para o olhar, para a surpresa das ruas e das vozes e para investirmos de uma vida própria as figuras do nosso presépio, dando assim um novo sentido à frase "Natal é quando e como os homens e os animais quiserem", cuja veracidade, no entanto, ainda não foi descoberta pela sempre perspicaz estratégia comercial (felizmente!).

7 Crónicas de Natal para um Autógrafo é por conseguinte um exercício de disponibilidade para recebermos os presentes oferecidos pelo tempo às gavetas da memória, que nos alimenta e veste, para os abrir no frenesim do mistério, sem o cuidado de preservarmos os papeis ou os laços para o Natal seguinte, e para nos maravilharmos sem quaisquer advérbios de modo.

David Antunes

7 crónicas de Natal para um autógrafo Texto, encenação e concepção plástica Carlos J. Pessoa Dramaturgia David Antunes Música (composição e interpretação) Daniel Cervantes Figurinos Maria João Vicente Assistência de Figurinos Ana Palma Actores Ana Palma, Fernando Nobre, Flávia Gusmão, Maria João Vicente e Miguel Mendes Vídeo Luísa Homem e Tiago Miranda Fotografia Rodrigo Duarte Design Gráfico Paula Cardoso Desenho, montagem e operação de som Vasco Soares Montagem e operação de luz José Diogo Operação de Vídeo Tiago Miranda Direcção de produção Maria João Vicente Produção Bruno Coelho

Data 24 de Fevereiro a 27 de Março, Quarta a Domingo, pelas 21.30h
Local Teatro da Garagem (R. Afonso Annes Penedo, 1 - Poço do Bispo)
Bilhetes 10€ Público Geral; 5€ Est., Prof. Espectáculo, Ref. e Grupos(>10); 2,5€ Est. Artes do Espectáculo
Informações e Reservas 21 868 85 50, 91 472 37 32

Informações da responsabilidade do Teatro da Garagem.



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