sábado, dezembro 25, 2004

Sessão dupla

Cumprindo com a tradição de Natal, fugi para o cinema. Dois filmes, duas surpresas, duas perspectivas.

O Fantasma da Ópera




Irei desenvolver algo sobre este filme, já que levanta importantes questões acerca dos limites do cinema e do teatro, bem como do lugar do espectador enquanto objecto e receptáculo de objectos. Já sei das opiniões da menina Bicicleta e do menino Juanito do De Puta Madre e do André. Mas queria dizer mais alguma coisa, mesmo que se possa encerrar o filme num objecto-pop, que também o é. Entretanto, se tiverem paciência, vão vê-lo, não numa perspectiva só de entretenimento. Entretanto direi mais.


Saved - Quem nos acode?



"O" filme de Natal. Uma surpresa atirada para o secretismo decadente do vazio cinema Quarteto. Em tempos de fé exacerbada (o Natal é a festa de celebração de Jesus, se estão recordados), esta aparente comédia juvenil é um maravilhoso e refrescante retrato de uma juventude americana perdida entre o fanatismo religioso e a descoberta da sexualidade, da vida, do amor e de todas as outras coisas que fazem questionar os valores e os princípios.

A história é aparentemente simples: uma rapariga descobre que o namorado é gay e decide salvá-lo através do amor de Cristo. Acredita que se Cristo o colocou no caminho dela, é porque ela tem uma missão. E ainda que vendida à ideia de que o verdadeiro amor espera, decide fazer tudo. Incluindo dormir com ele. O que se segue é um desenrolar de descobertas, descrenças, amigas presas à ideia de Jesus-salvador, uma mãe desatenta, um rapaz em cadeira de rodas (o Macaulay Culkin, num registo low-profile encantador), uma judia rebelde, um pastor perdido num casamento à deriva... e um liceu tipicamente americano, com baile de finalistas e tudo.

Saved é um fascinante microcosmos perigoso e hipnótico, que revela bastante do que é a América profunda, ciente do papel do Presidente Bush como enviado de Deus. Digo ser "o" filme de Natal porque, ao contrário de outros, não se limita a retrabalhar os esterótipos. Antes reflecte sobre eles. E não há muito que sobre depois disso. Afinal, se Deus (se existe) quisesse que fossêmos todos iguais, porque nos faria diferentes?

A não perder, por favor. Para crentes e descrentes, indiferentes e curiosos.

O filme está em exibição em Lisboa (Quarteto, El Corte Inglés) e Porto (AMC - Arrábida Shopping)

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