sábado, novembro 20, 2004

DIREITO AO PRAZER

Hoje à noite, no Jornal da Noite da SIC, passa uma reportagem impressionante da autoria da jornalista Catarina Neves acerca da vida sexual das pessoas portadoras de deficiências mentais ou físicas. Chama-se DIREITO AO PRAZER. Com testemunhos emocionados, promete colocar o dedo na ferida, sem cedências à gratuicidade e ao politicamente correcto.

Direito ao Prazer

A sexualidade e a afectividade das pessoas com deficiência na Reportagem SIC-Visão deste sábado

Depender de uma cadeira de rodas. Não controlar os movimentos. Falar com dificuldade. Ver o corpo a crescer enquanto a razão fica esquecida. A deficiência pode ser mental ou física. A sexualidade atravessa estes dois mundos, mas nem sempre o direito ao prazer está garantido.

Seis pessoas portadoras de deficiência mostram como a vontade de ter uma relação é tão forte e importante como para qualquer outro homem ou mulher.

Nuno Reis tem uma deficiência motora que resultou de um acidente de viação, há nove anos. Depois de três meses em coma profundo, Nuno Reis acordou para um corpo diferente. Garante que foi como renascer. Está casado há mais de um ano com uma mulher sem deficiência. A festa fez-se em cima do tabuleiro da Ponte 25 de Abril, no dia da mini-maratona de Lisboa.

A paralesia cerebral impede a autonomia, diminui a capacidade de comunicação, limita a concretização de desejos. João Pombeiro nasceu com paralesia cerebral. Aos 43 anos, João quer ter uma relação sexual, quer "experimentar", como costuma dizer. Por isso, pede a legalização da prostituição. Talvez assim fosse mais fácil encontrar alguém preparado para partilhar a intimidade com uma pessoa com deficiência, mesmo quando o encontro de necessidades dura breves minutos.

Manuel Baltazar também nasceu com paralesia cerebral. Mas, ao contrário de João Pombeiro, Manuel é casado. O amor chegou via internet. Klara Stelzer, 42 anos, dois filhos do primeiro casamento, veio do Brasil para se juntar a um homem com deficiência.

Gostar de alguém e casar é o grande plano da vida de Eunice Marques. Adora conversar, sabe os nomes dos ministros e as últimas notícias do país mas não é capaz, por exemplo, de tratar duma casa sozinha ou escolher roupa para vestir. Tem uma deficiência mental moderada e uma certeza: ter relações sexuais só depois de casar.

A trissomia 21, também conhecido por mongolísmo ou síndrome de down, é uma deficiência mental que afecta uma em cada 700 crianças em todo o mundo.

Teresa Palha tem 18 anos. Sabe que a trissomia 21 a torna diferente da maioria das adolescentes. Teresa gostava de ter um namorado sem trissomia 21 até porque se considera uma mulher bonita.

Para quem chega aos 22 anos e perde a mobilidade e a sensibilidade nas pernas, resta a força que permite a adaptação a uma nova forma de estar. Carlos Costa foi atingido por uma mina, na guerra, em Angola. Ficou agarrado a uma cama. Aos poucos começou a recuperar e a descobrir uma nova forma de sentir prazer e, mais do que tudo, de dar prazer aos outros.

Nuno, João, Eunice, Carlos, Manuel, Teresa. Os escolhidos à força para integrar um mundo diferente, disforme, deficiente mas com direito ao prazer.



Direito ao prazer
Jornalista - Catarina Neves; Imagem - Manuel Chaves; Edição de Imagem - Marco Neiva; Produção Editorial - Graça Costa Pereira; Grafismo - Paulo Alves; Coordenação - Cândida Pinto

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