quinta-feira, novembro 18, 2004

6ª Mostra de teatro Jovem de Lisboa (I) - TARTNOIR

TARTNOIR

Associação Cultural e Recreativa HIPÓCRITAS
Teatro Taborda
18 Novembro 2004
21h30



TartNoir é um espectáculo excêntrico, divertido e pouco usual. É adaptado de uma obra de Lauren Henderson e Stella Duffy. Num só livro conseguiu-se reunir histórias de vingança, amor obsessivo, sedução, crime e inveja.

Porém, não são histórias que acabam da maneira a que estamos habituados. E também não são vividas pelas personagens mais banais. Tudo se resume a uma palavra: TART.

Tart descreve mulheres bonitas, perigosas, corajosas e sedutoras, que dão uma nova resolução a problemas tão comuns na nossa vida. Aqui se incluem várias problemáticas como o amor, a inveja na vida profissional e a sexualidade.

Encenação: Luís Filipe Borges Adaptação do texto: Alexandre Borges Texto baseado na colectânea de: Stella Duffy e Lauren Hendersen Elenco: Amalah, Filipa Pais de Sousa, Filipe Cardoso, Helena de Melo, Inês Moço Pereira, Marco Leão, Miguel Rocha, Sheila Totta, Sílvia Soares, Sofia Ribeiro Cenografia: Amalah, Inês Moço Pereira Figurinos: Amalah Caracterização: Sílvia Soares, Helena de Melo Desenho de Luz: Bruno Gaspar Operação de Luz: Vanessa Fazendeiro Sonoplastia: Miguel Mendes Operação de Som: Filipe Sim-Sim Grafismo: Nuno Nunes Ferreira Fotografia de Cena: Vanessa Fazendeiro Produção Executiva: Helena de Melo, Sílvia Gomes Pereira Magda Bull Produção: Hipócritas

Porque decidiram apresentar a proposta de apresentação do espectáculo à MostraTE? Contributo para uma montra do novo teatro feito na capital ou bolsa de ar para a produção de projectos?

Se perguntarmos a cada um dos membros do nosso grupo a razão que levou ao nascimento dos Hipócritas, todos responderão, indubitavelmente e sem hesitar, que foi o vício do palco e da realidade que só vive porque nós a deixamos transparecer, porque a dotamos de cor e luz e movimento.
E o vício foi-se propagando…a amigos, a conhecidos, a amigos de amigos e de mais conhecidos…a pessoas com riquezas e tesouros para partilhar. E no fundo é só disso que se trata: de partilhar.
E porque o vício cresceu, e com ele a dedicação, os Hipócritas sentiram, e sentem, a necessidade de extrapolar as fronteiras das salas de ensaio e das reuniões intimistas em casa de um ou outro membro. Surge a vontade de mostrar o nosso trabalho, de divulgar a nossa paixão com dignidade, de prolongar a vida do espectáculo que, afinal, marcou o nosso nascimento enquanto grupo de teatro com um elenco jovem e de grande potencial.
Poder apresentá-lo no MostraTE é, para os Hipócritas, uma honra! E se tal honra puder contribuir para a produção de outro espectáculo, tanto melhor… O sonho está, cada vez mais, ao alcance dos nossos corpos e das nossas mãos.


Como contextualizam/posicionam o vosso espectáculo no panorama teatral português? Foi essa uma preocupação quando o produziram?

Enquanto grupo académico que, não por mutação, mas por evolução se tornou amador, interessa-nos a criatividade, a originalidade.
Enquanto indivíduos que partilham a responsabilidade de um amor intenso e imenso pela magia do teatro, importa-nos a qualidade.
Enquanto actores que seguem um sonho que, apesar de tão grande, seguramente um dia lhes caberá na palma da mão, preocupa-nos o prazer da arte.
Enquanto cidadãos culturalmente sensíveis, queremos que o Teatro aconteça em Portugal…e queremos fazer parte do seu processo, para podermos celebrar a sua vida com o sabor doce e único do criador.
Por isso, nunca duvidámos do potencial de TartNoir. Porque é vanguardista, porque é progressista, porque é experimental. Porque é tão fundamentalmente bom que suscitou em cada um de nós uma vontade incontrolável de o levar à cena. Adaptado para os Hipócritas por Alexandre Borges, TartNoir é uma colectânea de short-stories, no essencial policiais, lançada muito recentemente nos E.U.A. por um conjunto de vinte escritoras britânicas e norte-americanas, coordenada por Stella Duffy e Lauren Henderson. Na sua motivação, um ímpeto feminista, uma vontade de experimentar o mundo dos homens com a paixão, o fervor e o sangue das mulheres.
Aqui, impera o espírito feminino. A sua libido, o seu poder, a sedução, o jogo, a rede de intrigas, a vontade de destruir e construir de novo, as suas feridas por fechar e as que abrem noutros corpos. O baton, o rímel, o verniz, o eyeliner, a base. O cabedal, as roupas fetichistas, os esqueletos escondidos no armário, os fantasmas do passado. Os impulsos sexuais recalcados, a noção da idade, a perda da inocência.
TartNoir é, sem dúvida, um espectáculo único, espelho das características mais essenciais do nosso grupo e, por isso, profundamente pensado e desejado. As coisas más acontecem…e as boas também, mas nunca por casualidade.


Que relação se estabelece com o público numa apresentação isolada?

Numa representação isolada não se pode, de forma alguma, estabelecer relações penetrantes com o público.
Porém, esta reposição representa para nós muito mais que um espectáculo, não depreciando, obviamente, o seu significado em termos de reconhecimento de um esforço e de um valor profundos e a sua relevância para os Hipócritas no campo da promoção e da divulgação do nosso trabalho. Mais que isso, é com um enorme gosto que recebemos a oportunidade de contribuir para suscitar a curiosidade pelo teatro amador em Portugal!
Mas a verdade é que esta noite simboliza o revivalismo de um ano e de um mês de Verão muito especiais: o primeiro porque foi o ano de trabalho e dedicação intensos na gestação do espectáculo e o segundo porque marcou o brotar do que semeámos com a sua colocação em cena. Neste dia, 18 de Novembro de 2004, não só queremos fazer a nossa colheita, como também deixar cair, discretamente, mais algumas das nossas sementinhas hipocritamente enfeitiçadas no palco do Teatro Taborda.



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