quarta-feira, março 03, 2004

A nossa memória nos outros

Há sítios especiais, locais únicos, memórias privadas. Há coisas que partilhamos, que oferecemos, que damos, que entregamos a outra pessoa. Há sítios onde nos vamos espalhando ao longo da vida: parques, jardins, bancos de autocarro, cantos de livraria, fachadas de prédios e até sítios que nunca fomos mas planeámos lá chegar. Há alturas em que a relação entre duas pessoas é um acumular de lugares-comuns, no bom sentido do termo: um lugar para dois. E esse espaço, caro Bruno não consegue ser partilhado. Não se trata de alimentar um fantasma, mas antes saber gerir os recursos à nossa disposição. Apaixonam-se por nós quanto melhor e mais envolvente for a nossa maneira de nos aproximar-mos da outra pessoa. Quem é que gostaria de saber que está a ser levado/a para o mesmo lugar de outras tantas vezes? Quem não quer o exclusivo de um lugar... mesmo que a relação não se estenda?

Estamos espalhados na cidade, nas casas, nos outros. Nos que estão e nos que já foram. Estamos em todo o lado. Dentro de um museu que guarda o perfume dos seus cabelos; no café a saber a bolos quentes e meias de leite de máquina partilhadas; na escadaria de igrejas onde nunca se entrou; no banco do carro onde as mãos se tocaram pela primeira vez...

Todos temos as nossas memórias e elas surgem na mais inusitada das situações. Surgem sempre, especialmente quando as reprimimos.

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