quinta-feira, janeiro 22, 2004

Pequenos apontamentos à margem (das árvores) II

Estava Onã em seu deleite habitual, quando quis interromper o coito e foi castigado por Deus. A semente do homem não pode ser lançada à terra, com prejuízo de se tornar infértil, disse o omnipotente. Onã, desgraçado plebeu, ficou para a história não como o "pai" (o que não deixa de ser irónico) da masturbação, mas o do coito interrompido (prática ancestral e por provar de infalibilidade para quem não quer engravidar). Vem a isto a propósito do post do Bruno, como não podia deixar de ser.

Das borbulhas na cara aos pêlos nas mãos, tudo se diz da masturbação, essa espécie de "amor consigo mesmo", como dizia o Woody Allen. A questão que o Bruno coloca é de facto sintomática: masturbam-se menos as mulheres?

Deve-se à "interiorização da censura que se abaterá com maior acuidade sobre o auto-erotismo das mulheres, levando com maior frequência a comportamentos de "abstinência", este comportamento feminino ou antes à ideia de que para a masturbação é preciso ser-se mais físico? Se um homem para o fazer precisa de uma "ginástica", a mulher pode praticá-lo num banco de autocarro, numa sala de concertos, enquanto descaca cebolas... aplicando não a ideia de solidão e recolhimento subjacente ao acto, mas o individualismo egoísta. Pode estar uma mulher a masturbar-se e nem dar-mos por cima. Basta ver o filme com a Meg Ryan, When Harry met Sally, para percebermos isso.

A questão que o Bruno levanta leva-nos a outra e que tem a ver com o facto de se crer que a masturbação está associada ao celibatário. Essa ideia, para além de falsa é perniciosa, pois se um casal não incluir a masturbação nas suas práticas sexuais, jamais poderá sentir o corpo do outro na sua plenitude. Nesse caso, que diriam os gays activos que não se podem penetrar, ou as lésbicas?

Outra questão que se coloca tem a ver com a ideia de que a partir do momento em que se encontra algém para o coito a masturbação deixa de ser necessária. Ela é tanto mais necessária quanto a necessidade de não se perder a individualidade dentro da relação.

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