sexta-feira, dezembro 05, 2003

E POR QUE NÃO O PINO?

Todos os dias. Viver todos os dias tem implicações. Já o outro senhor, o Paixão, o disse: cansa. Cansa como o caraças! No entanto, começo a achar que o nosso tédio, o nosso cansaço não é mais que uma defesa à própria vida. Àquilo que a vida é.

Entre parêntesis, espero que me permitam um devaneio. Neste momento, estou tão capaz de um raciocínio sério e elaborado como ser qualificada para a Operação Triunfo. Por isso, se mais tarde negar tudo o que vou escrever, não se surpreendam. Fecho os parêntesis desta proposição que se auto-anula.

Mas, a sério, há alguma coisa na vida de entediante, sem ser aquilo que interpomos entre a própria da vida e nós? O que é entediante de facto? Um emprego que nos permite sobreviver? Velhos amigos que não dizem nada de novo, mas que não ameaçam o nosso espaço, as nossas manias e idiossincracias? Uma casamento ou uma relação que nos impedem de procurar novas emoções, outros olhares, mas que nos assegura a constância?

O tédio, enfim, é uma consequência da desconfiança e do medo. Só estamos entediados porque temos medo, porque não arriscamos em confiar em algo ou alguém que não conhecemos.

A vida é imprevisível e isso é tão assustador.

Ando a tentar recolher porções de humanidade naquilo que vou sentindo e vivendo. E, entre nós, avanço: eu não estou entediada. A vida, a minha própria existência emocional e psicológica (odeio esta palavra), mantém-me suficientemente ocupada e os outros parecem-me muito mais atraentes, mesmo os que já conheço há muito tempo.

Proponho que, diariamente, ocupemos uma posição diferente. Uma posição de olhar, uma perspectiva portanto muito diferente. Se estamos habituados a olhar de uma determinada forma, tentemos olhar de outra. Para cada uma das coisas que se cruzam connosco. Para cada uma das pessoas que estão sempre no nosso caminho.

O Tiago descalça-as, eu proponho que as dispamos e as vistamos com outras roupas. E, no entretanto, façamos o mesmo connosco.

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