domingo, dezembro 28, 2003

Areias movediças

A comissão de moradores da lagoa de Óbidos queixa-se que os sacos de areia que o Instituto da Água colocou para defender as casas da subida das águas não são suficientes. Todos os anos, apesar das insistentes re-colocações de sacos, o mar leva alguns, tornando assim as casas mais expostas a serem engolidas pelas ondas. E é bem feito, digo eu.

Aquelas casas estão construídas sobre a areia, desfazendo as fronteiras naturais e em nada respeitam as condições de manutenção de reservas naturais. O caso da lagoa de Óbidos não é único. É assim na Ria da Alvor, no Algarve, nas Dunas de S. Jacinto, em Aveiro, na Costa da Caprica, no Guincho. Em lado nenhum em que a vista seja privilegiada existe um espaço sem casas. A noção que o homem tem de que pode construir em todo o lado fá-lo esquecer que a terra se move constantemente e que não se compadece com planos de construcção. As casas que estiverem mal irão ruir, cair, desaparecer.

Desde novo que me lembro dos maus tratos perpetrados na lagoa de Óbidos e raras foram as vezes em que ouvi falar-se de um plano que a poupasse. O património não é só o construído pelo homem. A natureza é também parte dele.

Este post parece um tanto fundamentalista e ecologicamente retórico, mas irrita-me que tudo se ambicione, tudo pareça pouco para a ganância dobetão. Um dia chegará em que o espaço verde e puro deixará de existir. Nesse dia - que não está num futuro distante - sentir-se-âo saudades do tempo em que o verde existia.

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