Falar de amor, quando não há mais nada
Sobram poucas coisas nesta vida pelas quais valha a pena bater-se. O maior é, sem dúvida, o último reduto do prazer. O Bruno, questiona-se, sabiamente: o fazer amor é já uma contradição nos termos.
Parece-me a mim que ao invés de se "fazer amor", antes "cria-se amor". O amor, entidade abstracta e hormonal, está assim sempre pronto a ser preparado, desde que essa seja a intenção dos que o praticam. Não se "cria amor" de cada vez que se "faz amor". Por vezes faz-se amor sozinho. Os dois corpos podem até estar a fazer as vezes de um só, e os olhares podem ficar eternamente fixados no objecto amado, mas o que acontece é antes uma libertação da mente e o regresso a um estado sensorial primá¡rio. O culminar do orgasmo não quer, propriamente, significar que se chegou, por "culpa" da outra pessoa a esse momento zero. Antes, encontraram-se formas de se chegar lá, "utilizando" os desejos, as técnicas, os enleios de um elemento exterior.
Para quem já se sentiu deveras incomodado com esta noção de prazer, ponha a mão na consciência e pense lá quantas vezes não fingiu retardar o orgasmo para não fazer sentir mal o parceiro/a, ou, melhor ainda, não atingiu o orgasmo ao descobrir - pela libertação de tensões - a solução para determinado problema, desde o IRS ao fim do ano às botas para o inverno. Eu, culpado, me confesso. E não é por isso que posso dizer que tive menos ou mais orgasmos, ou antes que "fiz" mais ou menos amor. Afinal, pode-se mesmo dizer que se está a "fazer" amor se o que estivermos a fazer for antes uma descompressão?
Parece-me que a única altura em que se pode dizer que se está a "fazer amor" é quando estamos a dar prazer ao outro sem nos preocuparmos connosco. Aí sim, o amor existe.
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