Começa hoje na Culturgest o ciclo Com e Contra o Cinema, que apresenta a integral da filmografia do filósofo Guy Debord, comissariada por Ricardo Matos Cabo. A programação pode ser consultada aqui.
Um excerto do ensaio O cinema da não-separação, de Susana Nascimento Duarte, videasta e docente da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, publicado no último número da revista OBSCENA.
"O sentido do cinema de Guy Debord é inseparável do seu pensamento e, ao lado da escrita, constitui-se como lugar privilegiado de visibilidade da sua teoria, actualizando-a, por outros meios que não a palavra. A zona de reflexão que determina toda a obra de Debord, e em função da qual é possível auscultar toda a dimensão de intervenção política do seu pensamento e da sua respectiva materialização cinematográfica, é a sua crítica da sociedade do espectáculo, ou seja, do capitalismo acabado como afastamento radical da vida. Esta crítica é, por sua vez, indissociável de uma mobilização total da própria vida do autor na direcção do confronto e da luta contra o seu tempo. Contudo, tal luta é levada a cabo a partir de dentro e não feita à margem da linguagem do espectáculo. De facto, para Debord, na desordem do presente, estariam simultaneamente contidas quer a destruição da vida perpetuada pelo espectáculo, quer a possibilidade da aparição concreta do seu reverso, identificada com o projecto situacionista. Tratar-se-ia de, no mesmo lugar a partir do qual “a sociedade do espectáculo e o capitalismo organizam concreta e deliberadamente os meios e os acontecimentos para diminuir a potência de vida”, e trabalhando sobre os mesmo elementos, libertar dele um projecto de sinal oposto, capaz de inverter o sentido da destruição, deslocando-o da vida para a desagregação da própria sociedade do espectáculo".
continua aqui.
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