Gostava de reiterar as fundamentais palavras do autor da mensagem oficial do Dia Mundial do Teatro, o Sultão Bin Mohammed Al Qasimi: “Nunca antes houve um tempo como o nosso, em que nos cabe a todos denunciar as guerras fúteis e as diferenças doutrinárias que, tantas vezes, erguem as suas cabeças de hidra, imperturbáveis perante a consciência plena de responsabilidade”.
Também eu gostava de falar sobre responsabilidade: de quem faz, de quem pensa, de quem decide. Uma responsabilidade que assumisse um contributo útil e cooperante, juntando vozes concordantes e dissonantes, sem receio de se verem ou sentirem ultrapassados. Sem o desejo furioso de impor projectos pessoais a estratégias globais. Impressiona-me que num contexto tão frágil se opte pela hipocrisia e a falsidade, com o mero intuito de defender essas estratégias, em vez de se abrir o diálogo e a acção a todos.
Porque continuamos a recusar um teatro que seja espelho real da sociedade, apostamos em metáforas pífias e inconsequências justificadas pelo ego e a ausência de memória.
Somos todos culpados pelo incumprimento das leis que nos regem, quando as há. E quando não existem, somos também por isso culpados. Somos todos culpados pela subalternização da arte e a ideia de mero entretenimento ao defendermos coutadas em vez de diversidade. Somos culpados, todos, pela discriminação sexual, ao fomentarmos peças homofóbicas disfarçadas de subversão e humor. Culpados pelo racismo e xenofobia, ao não abrirmos as portas à dramaturgia e às companhias que sobre esses temas trabalham. Culpados pelas diferenças sociais, ao nos recusarmos a ver, fazer e pensar uma outra ideia de intervenção cívica.
E seremos eternamente culpados se, conscientes disto tudo, continuarmos a celebrar, deitar foguetes e brindar, esquecendo tudo pouco depois. Muito por culpa nossa, a sociedade que temos é a sociedade que merecemos. E o teatro merece melhor.
texto lido ontem no São Luiz-Teatro Municipal, em Lisboa, no âmbito da iniciativa Três Desejos para o Dia Mundial do Teatro
Também eu gostava de falar sobre responsabilidade: de quem faz, de quem pensa, de quem decide. Uma responsabilidade que assumisse um contributo útil e cooperante, juntando vozes concordantes e dissonantes, sem receio de se verem ou sentirem ultrapassados. Sem o desejo furioso de impor projectos pessoais a estratégias globais. Impressiona-me que num contexto tão frágil se opte pela hipocrisia e a falsidade, com o mero intuito de defender essas estratégias, em vez de se abrir o diálogo e a acção a todos.
Porque continuamos a recusar um teatro que seja espelho real da sociedade, apostamos em metáforas pífias e inconsequências justificadas pelo ego e a ausência de memória.
Somos todos culpados pelo incumprimento das leis que nos regem, quando as há. E quando não existem, somos também por isso culpados. Somos todos culpados pela subalternização da arte e a ideia de mero entretenimento ao defendermos coutadas em vez de diversidade. Somos culpados, todos, pela discriminação sexual, ao fomentarmos peças homofóbicas disfarçadas de subversão e humor. Culpados pelo racismo e xenofobia, ao não abrirmos as portas à dramaturgia e às companhias que sobre esses temas trabalham. Culpados pelas diferenças sociais, ao nos recusarmos a ver, fazer e pensar uma outra ideia de intervenção cívica.
E seremos eternamente culpados se, conscientes disto tudo, continuarmos a celebrar, deitar foguetes e brindar, esquecendo tudo pouco depois. Muito por culpa nossa, a sociedade que temos é a sociedade que merecemos. E o teatro merece melhor.
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