Panorama de la danse contemporaine
de Rosita Boisseau
Mapa para a dança contemporânea
Por isso o livro abre com uma apresentação genérica onde fala da influência de Maurice Béjart, Anna Halprin e Merce Cunningham na definição daquilo que se entende por dança contemporânea, traçando um percurso genérico sobre o modo como evoluiu a concepção de dança do final dos anos 70 até hoje. Os nomes são apresentados por ordem alfabética e acompanhados por extensa iconografia, muitas vezes do mesmo espectáculo, biografia seleccionada, breve perfil e questionário proustiano. Na selecção nota-se uma vontade de destacar a França e a sua realidade, “berço da dança contemporânea e o país onde os artistas são mais vigorosamente apoiados pelas instituições”, ficando claro tratar-se de uma obra dirigida ao público francês que busca “ainda e sempre os códigos de acesso a uma arte mais próxima do irracional que da lógica: não para enquadrar uma obra, mas para saborear os interstícios, lá onde a liberdade de cada um desliza e se descobre”. Razão pela qual não falta nenhum dos dezanove directores dos Centros Coreográficos Nacionais, tal como nomes que se têm destacado na/da cena francesa: Boris Charmatz, Allain Buffard ou Geisha Fontaine. Há ainda coreógrafos de Espanha, Bélgica, Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Japão e Itália, bem como do Burkina-Faso e Israel, com os quais a realidade cultural francesa mantém relações.
Mas entre a escolha pessoal e “o impacto flagrante da marca coreográfica” de cada um dos escolhidos, se Boisseau opta por recusar movimentos ou escolas e evita convocar nomes como Matthew Bourne ou Marie Claude Pietragalla, criadores vedetas reconhecidos pelo grande público, também não arrisca na apresentação de outros que correm os circuitos de crítica e programação, alguma dela institucional, como Cláudia Triozzi, Xavier Le Roy, Jérôme Bel, Vera Mantero ou Lia Rodrigues. Opções certamente legítimas numa viagem acrítica e didáctica que Boisseau defende com “razões práticas e económicas” e, como sempre nestes casos, onde o que entra diz mais sobre o que fica de fora.
No que respeita ao seu conteúdo, são particularmente fascinantes algumas fotografias, as anotações de Bill T. Jones ou Anne Teresa de Keersmaeker, o croqui do espectáculo Régi, de Charmatz ou o esquema coreográfico de Susan Buirge. Mas a abordagem à la Proust impede conhecer, pela sua forma limitada, o fascinante processo de criação de alguns destes nomes. Boisseau quer saber “o espectáculo marcante”, “o lugar do íntimo”, “o sentido a dar ao trabalho” de cada um, um som ou uma cor ou parte do corpo que sirva de inspiração e, entre outras mais ou menos genéricas, o calcanhar de Aquiles de cada coreógrafo. Entre os que sintetizam as respostas e os que não responderam (sobretudo nomes fora de França), existem aqueles que se expõem, como Gilles Jobin que busca uma cena que o leve à prisão e os que consideram, como Daniel Larrieu, que o último tabu é “o fim da arte”. Sendo um trabalho meritório e louvável, não deixam de ecoar como metáfora desta incompletude as palavras de Caterine Sagna: “se encontrasse o último tabu, teria tema para a obra-prima que todos esperam, autores e espectadores” (Ed. Textuel, €59).
texto publicado na revista OBSCENA #1
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